Home Futebol Grato ao Grêmio, Bruno relembra rótulo de novo Ronaldinho: “Atrapalhou”

Grato ao Grêmio, Bruno relembra rótulo de novo Ronaldinho: “Atrapalhou”

Enquanto Ronaldinho, que ainda não era o Gaúcho, desfilava toda a sua genialidade no time profissional do Grêmio e já abria os olhos do mercado europeu, um outro jovem jogador dava passos similares nas categorias de base do clube. A diretoria gremista, ao final da década de 90, sabia que R10 não teria vida longa em Porto Alegre: o interesse, que crescia a cada gol e convocação para seleção, logo se transformaria em cifras milionárias. Mas a preocupação com a iminente perda de um craque só não era maior por causa de um nome: Bruno Ferraz das Neves.

Eduardo Caspary
Jornalista formado pela PUCRS em agosto de 2014. Dupla Gre-Nal.
Bruno

Bruno

Líder e titular absoluto de todos os times de base do Grêmio durante a década de 90, Bruno chamava a atenção por um estilo de jogo clássico. Articulador de fino trato com a bola, cabeça em pé e passes de qualidade. A falta de aptidão pela marcação ainda não era levada em conta, e o meia, de forma constante, era chamado para treinar entre os profissionais em 1999, quando o então técnico gremista Celso Roth o convocava já que Ronaldinho, em grande fase, era presença fixa na seleção brasileira de Vanderlei Luxemburgo. Nesse mesmo ano, Bruno, por pouco, não teve o seu destino alterado por uma “mala cheia de dinheiro”, conforme suas próprias palavras ao Torcedores.com.

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Bruno era manchete na época – foto/reprodução

Isso porque o rótulo de “novo Ronaldinho” já estava criado. Com 15 anos, o jovem já atraía olhares de grandes clubes da Europa, mas foi o Arsenal, da Inglaterra, que ousou tentar tirá-lo do Grêmio mesmo antes do seu batismo como profissional no velho estádio Olímpico. Valendo-se de uma brecha da Lei Pelé, que só permitia contratos profissionais acima dos 16 anos, representantes do time inglês desembarcaram em Porto Alegre e foram direto para a casa de Bruno oferecer a ele um futuro que ainda era incerto no tricolor gaúcho. Mas ouviram um “não”.

“Lembro que o pessoal do Arsenal viajou para Porto Alegre com empresários e com uma mala cheia de dinheiro. Foram até a minha casa e estava eu, meu pai, minha mãe e meu irmão, e mais o Gilmar Veloz (empresário), e nós ficamos muito balançados sim, vendo todo aquele monte de dinheiro. A gente não tinha muitas condições na época, mas conversando com a família toda reunida, e com o Gilmar também, a gente preferiu ficar porque eu era muito bem tratado dentro do Grêmio, todos gostavam de mim e continuaram gostando até eu sair em 2006. E por isso optamos por ficar em Porto Alegre. Não me arrependo, fui muito feliz no Grêmio”, explicou Bruno.

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Rótulo pesado e falta de paciência

Superado o assédio inglês, a joia tricolor começaria a ser lapidada dentro do time principal. Foi com o técnico Tite, durante a temporada de 2001, que Bruno passou a estar dentro do elenco profissional. Mas a ascensão dada como praticamente certa começou a ser brecada e não é tão difícil de entender as razões. De Bruno, o novo Ronaldinho, esperava-se muito. Nem sempre a resposta em campo era a mesma. Com a comparação sempre pesando às costas, o meia admite que o rótulo não foi benéfico para o seu desenvolvimento no Grêmio.

Ronaldinho Gaúcho, ao deixar o Rio Grande do Sul, trilhou uma carreira gloriosa atuando praticamente como um atacante. Tinha nas arrancadas, nos dribles e nos arremates a gol suas grandes virtudes – e foi assim que se tornou o melhor jogador do planeta em 2004 e 2005. Bruno, por outro lado, não era um jogador de velocidade e não se caracterizava por driblar uma fila de marcadores antes de fazer um gol. Na ponta do lápis, poderia ser um meia de criação posicionado adiante dos volantes, como um construtor de jogadas. Mas vá tentar explicar isso à torcida…

Jornais faziam a comparação – foto/reprodução

“Com relação às comparações que faziam com o Ronaldinho, no início eu gostava. Porque ele já estava na seleção brasileira e eu com 15 anos já tinha sido chamado para as seleções de base. Ele tinha essa trajetória e a imprensa, digamos assim, quis achar um substituto para ele. E eu, naquele momento, era a bola da vez. Eu achava legal, mas depois a torcida achou que ia ser um jogador igual, mas não tínhamos muito a ver. Éramos jogadores diferentes, com características totalmente diferentes. Atrapalhou um pouco sim toda essa comparação, não vou mentir. Como eu falei antes, uns gostavam e outros não do meu estilo de jogo, era assim”, lamentou Bruno.

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Bruno seguiu no Grêmio apesar da pressão nos primeiros anos de time profissional. Os mais críticos até o apelidaram de “Soneca” por conta de uma suposta falta de “pegada” no meio campo – característica tão admirada no futebol gaúcho. O jogador reapareceu com força durante a temporada de 2003, a partir da chegada do técnico Adílson Baptista. Com um belo gol sobre o Corinthians, no Olímpico, na última rodada do Brasileirão daquele ano, o meia virou personagem decisivo na permanência do Grêmio na primeira divisão.

OUÇA ABAIXO – BRUNO FALA DA PRESSÃO SOBRE O “NOVO R10”


A queda foi evitada em 2003, mas não na temporada seguinte. Com Bruno, o Grêmio protagonizou uma campanha terrível em 2004 e foi rebaixado com rodadas de antecedência. Uma debandada geral de jogadores marcou a reestruturação para 2005, mas Bruno ficou e era titular até sofrer uma lesão muscular na virilha. Não voltou mais ao time. Viu a épica Batalha dos Aflitos pela televisão e deixou o clube em 2006 com um novo rótulo: de “novo R10” virou “promessa que não vingou”.

“No Grêmio eu iniciei com 9 anos para 10, fui subindo de categoria para categoria, infantil, juvenil, juniores até subir para o grupo profissional. Não tenho nada a reclamar do clube, pelo contrário, só agradecer ao Grêmio por tudo que me deu. Foi muito boa a minha passagem. Tive também problemas de jogar e outras vezes acabar não jogando, mas eu avalio que no geral foi positivo. Foi o clube em que eu mais joguei e que mais tive oportunidade de jogar. Alguns gostavam, outros não, mas hoje, graças a Deus, se falar no Bruno daquela época todos vão lembrar. Bem ou mal, todos lembram (risos). Mas não reclamo mesmo. Fui muito feliz”, garantiu, sem demonstrar mágoas ao ex-clube.

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Bruno em foto com o time do Grêmio na temporada de 2005 – reprodução/Facebook

Com as chuteiras penduradas, surge o lado empreendedor

Fluminense, Porto Alegre, Joinville, Santa Cruz (RS), Cruzeiro, Noroeste, Metropolitano (SC), União Leiria (Portugal), Consadole Sapporo (Japão), Guarani e Mogi Mirim foram alguns dos clubes que Bruno deu continuidade à carreira, sem o sucesso esperado. Ele alega ter tido mais alegrias do que frustrações nesse meio, e talvez por isso ainda seja um “militante” da bola. No interior de Santa Catarina, o ex-Grêmio comanda uma escolinha de futebol para garotos de 5 a 13 anos.

No comando da BF Soccer, em Balneário Camboriú, Bruno alimenta sonhos e revive o passado ao se ver nos próprios garotos que comanda. Recentemente, para a sua alegria, a escolinha firmou convênio com o Grêmio, que passa a ter prioridade quando alguns dos jovens se destacarem.

“Eu atualmente moro em Santa Catarina, em Balneário Camboriú. Hoje tenho a minha escolinha de futebol aqui, que fez um ano recentemente. Ela se chama “BF Soccer” e há quatro meses fizemos um convênio com o Grêmio. Levamos o nosso time ao município de Três Coroas no início desse ano e o pessoal do Grêmio gostou bastante de alguns meninos nossos e ofereceu essa proposta de convênio. Hoje o projeto se chama Escola do Grêmio BF Soccer. Já temos um ano e está evoluindo bastante. Sempre com as portas abertas se precisar levar ao Grêmio alguns dos garotos que aqui se destacam”.

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Bruno no comando de seus novos pupilos: vem um novo R10 aí? – foto/reprodução Facebook

“Graças a Deus ainda tenho muitos amigos no clube, como no Inter também tenho. Então tenho focado nesse trabalho com a criançada de 5 a 13 anos e estou gostando bastante. Não esperava continuar no futebol, mas como o meu filho está jogando, e foi um dos escolhidos para ir ao Grêmio, sigo nesse caminho”, acrescentou.

De uma “mala cheia de dinheiro” do Arsenal ao rótulo de novo Ronaldinho, de uma promessa no Grêmio ao duro apelido de “Soneca”, de um “nômade” do futebol até a aposentadoria, Bruno está feliz pela fase empreendedora no mundo da bola:

“Posso dizer que estou muito feliz nessa nova etapa da minha vida”.

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