Foto: Allan Simon/Torcedores
A questão remete a uma era pré-Copa do Mundo. O Uruguai era a grande força da modalidade em todo o planeta na época em que a Fifa, comandada pelo francês Jules Rimet, resolveu criar um campeonato mundial de futebol que fosse disputado a cada quatro anos. Talvez o dirigente não imaginasse que aquela ideia ganhasse o status que a Copa ganharia com o passar dos anos. Não foi por acaso que os uruguaios acabaram escolhidos como país-sede da primeira edição do Mundial.
Em 1914, a Fifa passou a ser responsável pela organização do torneio olímpico de futebol e se comprometeu a reconhecer o campeão dessa evento como “o campeão mundial de futebol amador”. Depois de uma edição mais curta com 14 membros nos Jogos Olímpicos da Antuérpia-1920, a primeira iniciativa maior veio nas Olimpíadas de Paris-1924. A Fifa conseguiu reunir 22 times de cinco continentes diferentes, dando cara e jeito de competição mundial ao torneio olímpico.
A seleção uruguaia chegou arrasadora nas Olimpíadas. Escalada na fase preliminar, venceu a Iugoslávia por 7 a 0. Na primeira fase, superou os EUA por 3 a 0. Nas quartas de final, goleou a França por 5 a 1. Os uruguaios superaram ainda a Holanda na semifinal, por 2 a 1, antes de levarem a medalha de ouro vencendo a Suíça por 3 a 0. Era o primeiro título de expressão do Uruguai fora da América do Sul. E, para os uruguaios, levando em consideração o compromisso da Fifa, era um título mundial.
Quatro anos depois, em Amsterdã, o Uruguai voltou a mostrar seu poderio e domínio mundial. Na estreia, venceu a Holanda por 2 a 0. Nas quartas de final, passou pela Alemanha com uma vitória maiúscula por 4 a 1. As semifinais foram contra a Itália que vinha com a moral de ter aplicado um 7 a 1 no jogo-desempate contra a Espanha. Apesar do duelo apertado, os italianos não foram páreo para a seleção uruguaia, que saiu vencedora por 3 a 2.
Na final, o Uruguai encontrou pela frente a Argentina. O jogo terminou empatado em 1 a 1 ao final do tempo normal e da prorrogação, forçando um jogo-desempate, que acabou vencido pelos uruguaios por 2 a 1. Era a segunda medalha de ouro consecutiva, confirmando a supremacia da equipe celeste, que não à toa ganhou o apelido de “Celeste Olímpica”.
O sucesso naqueles dois torneios rendeu ao Uruguai a força necessária para ser escolhido pela Fifa para sediar a primeira edição de seu campeonato mundial, marcado para 1930. Além do bi olímpico, os uruguaios festejariam naquele ano o centenário da sua constituição. Foram os motivos perfeitos para a eleição do país sul-americano como anfitrião da primeira Copa.
Para os uruguaios, embora a Fifa tenha praticamente zerado sua contagem a partir da Copa do Mundo de 1930, os dois títulos conquistados em 1924 e 1928 equivalem aos mundiais da época. E eles têm lá sua razão, já que a própria entidade era a organizadora dos torneios olímpicos, as seleções participantes eram as principais, e só a partir da realização do próprio Mundial da Fifa que a Olimpíada passou a ser tratada como uma competição menor no futebol, com seleções de base a demora de décadas para aceitação de profissionais em campo.
A primeira Copa do Mundo foi vencida pelo Uruguai, que fez valer a condição de anfitrião e levou a taça vencendo todos os jogos (Uruguai 1 x 0 Peru, Uruguai 4 x 0 Romênia, Uruguai 6 x 1 Iugoslávia e Uruguai 4 x 2 Argentina). Apesar de não ter disputado a Copa de 1934, em protesto por causa dos poucos convites aceitos pelos europeus para disputar a Copa que organizou, e também a edição de 1938, por causa de um boicote quase generalizado devido à escolha da França como sede do torneio, em vez de um país sul-americano, o Uruguai voltou à Copa do Mundo em 1950, no Brasil, quando conquistou o título mais uma vez.
Ou seja, o Uruguai ganhou as duas primeiras Copas que disputou, provando uma obstinação vencedora até então. Para o povo uruguaio, seu país foi campeão do mundo em 1924, 1928, 1930 e 1950. Por isso, o time atualmente usa 4 estrelas na camisa.
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