
Crédito: Lucas Figueiredo / CBF
Quando a escalação do Brasil foi divulgada, muita gente pensou que Tite fosse posicionar Lucas Paquetá e Arthur por dentro, Richarlison e Philippe Coutinho pelos lados e Firmino no comando de ataque (embora este venha jogando como “camisa 10” no Liverpool) no seu 4-1-4-1 costumeiro. O que se viu na prática foi um time sem muito padrão de jogo, com Paquetá jogando pelo lado, Coutinho por dentro e Arthur entre as linhas do 5-4-1 da equipe comandada por Dely Valdéz. O único gol brasileiro na partida saiu de um lance em que Paquetá apareceu por trás da defesa panamenha e escorou cruzamento de Casemiro. Mas foi só. E muita gente se perguntava o que havia acontecido com o futebol apresentado nas Eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia.

Tite armou a Seleção Brasileira com Philippe Coutinho por dentro e Lucas Paquetá aberto pela esquerda. O posicionamento ruim dos jogadores em setores onde não se sentem confortáveis vem sendo um dos grandes equívocos do treinador do escrete canarinho. Foto: Reprodução / TV Globo
É aí que entra o grande X da questão. O futebol sofreu algumas modificações significativas após o Mundial do ano passado. É preciso ser muito mais objetivo na saída de bola e contar com jogadores que exerçam essa função. É o tal “ritmista” que Tite tanto procurou nos últimos meses. Quem cumpre essa função hoje é Arthur. Só que o volante do Barcelona não vai conseguir nunca mostrar o seu futebol se ele não participar da saída de bola e da distribuição das jogadas. Quem explica muito bem isso é o grande József Bozsik (pseudônimo emprestado grande médio húngaro) com as mudanças ocorridas na disposição dos jogadores brasileiros nas Eliminatórias, na Copa de 2018 e no empate contra o Panamá. A diferença é considerável.
Sobre mudanças na saída de bola. Vejam na primeira foto o posicionamento dos armadores (sustentada), vejam o posicionamento deles e dos pontas na segunda foto na Copa contra a Costa Rica, e a terceira foto hoje. pic.twitter.com/2l3dm4jGS9
— József Bozsik (@Jozsef_Bozsik) March 23, 2019
Tite erra ao não adotar a formação que consiga tirar o melhor de cada jogador em campo. Repito: apesar de discutir alguns nomes, o grupo é bom (explicamos isso aqui em artigo feito antes dos cortes de Daniel Alves, Vinícius Júnior e Filipe Luís) e poderia fazer boas partidas mesmo sem Neymar em campo. E se o primeiro tempo contra o Panamá foi fraco, os quarenta e cinco minutos finais mostraram um futebol muito abaixo do que a Seleção Brasileira já mostrou em outros tempos. Muito por conta de uma certa teimosia de Tite na revisão dos seus conceitos. O frame abaixo mostra Firmino, Arthur, Philippe Coutinho encaixotados na frente, laterais abertos e Paquetá (um dos que tem qualidade no jogo aéreo) quase como um volante. Desorganização total.

Tite manteve Fagner e Alex Telles bem abertos para aproveitar as jogadas de linha de fundo, mas deixou os Firmino e Arthur em setores onde não rendem o que podem render. Além disso, Paquetá jogou fora de posição todo o tempo em que esteve em campo. Foto: Reprodução / TV Globo
Embora alguns insistam nos velhos clichês da “falta de vontade” e de “amor à camisa”, este que escreve insiste na tese levantada no início deste artigo. O futebol mudou e Tite precisa acompanhar essa mudança. Richarlison, Alex Telles, Arthur (apesar de mal posicionado), Lucas Paquetá e Casemiro estiveram bem. Philippe Coutinho, Firmino (outro que jogou fora de posição) e Gabriel Jesus nem tanto. Por outro lado, é difícil falar em atuação ruim deste ou daquele quando o treinador não consegue achar a formação que deixe seus atletas confortáveis em campo. O empate contra o Panamá não é o fim do mundo. Mas liga o alerta para o jogo contra a República Tcheca e para a Copa América daqui a pouco mais de dois meses.
A partida da próxima terça-feira (26) pode trazer o alívio ou o inferno para Tite antes da competição mais importante do ano. Se quiser ter paz e ver a Seleção Brasileira jogar bem novamente, é preciso se reconectar com a realidade e rever conceitos o quanto antes.
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