Home Basquete O trágico caso de Bison Dele: de campeão da NBA ao misterioso desaparecimento

O trágico caso de Bison Dele: de campeão da NBA ao misterioso desaparecimento

Integrante do vitorioso time do Chicago Bulls, permanece desaparecido e seu caso ainda não solucionado

Luca Cecchini
Colaborador do Torcedores.com.

A estreia de “The Last Dance” (“O Arremesso Final”), documentário em formato de série, chamou bastante a atenção e é um sucesso entre os fãs de basquete. O filme é baseado nas gravações, pouco exibidas até o momento, dos bastidores da temporada de 1997-1998 da NBA, ano do sexto e último título conquistado pelo Chicago Bulls de Jordan e companhia. Nas imagens captadas por uma equipe de televisão autorizada pelos atletas, vê-se um aspecto pouco conhecido do camisa 23. Um líder de postura agressiva e forte cobrança sobre seus companheiros de equipe. Jordan chegou a afirmar pouco antes do lançamento, que de início era contra a produção do documentário.

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“Quando as pessoas virem as imagens, não sei se vão conseguir entender por que eu era tão intenso, por que fiz as coisas que fiz, por que agi da maneira que agi e por que falei as coisas que falei”.

Campeão em 1996-1997 ao lado de Jordan, Scottie Pippen e Dennis Rodman, o pivô Brian Carson Williams sofreu na pele cobranças similares. Durante sua temporada pelos Bulls, a aparente falta de interesse de Williams no esporte incomodou profundamente M.J.. Reportagens da época relatavam que Jordan constantemente tentava incentivá-lo a ter mais apreço pela profissão e amar a modalidade. O melhor jogador de todos os tempos o forçava a dedicar-se a sua forma física e ir com frequência à academia da franquia a fim de maximizar seus talentos e suscitar seu espírito competitivo.

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Como integrante deste lendário time, Williams chegou ao ápice da jornada de um jogador de basquete ao conquistar o troféu Larry O’Bryan, e por consequência, o anel de campeão da NBA. No entanto, imagens da NBC na cerimônia de premiação após a vitória derradeira no jogo 6, mostram o gigante de 2,11 metros e olhos verdes ao lado de Jordan com o olhar perdido, quase que deslocado daquele ambiente de alegria.

Ao que parece ser um jogador descompromissado, e de pouca relevância para o cenário esportivo, esconde uma personalidade cativante e única, e uma história cheia de mistérios culminando no seu desaparecimento, ainda não solucionado.

Definitivamente, Williams não era uma pessoa comum. Diferente dos esteriótipos de um jogador da NBA, não tinha interesse por groupies, carros luxuoso e vestimentas caras. Preferia estar sozinho, imerso em livros, poesias e jazz.

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Quem acompanha a liga de basquete profissional dos Estados Unidos, já está familiarizado com o ego inflado dos atletas que nela atuam. Contratos milionários, prestígio fora das quadras e o desafio dentro delas são os combustíveis para que estas pessoas elevem sua auto-estima ao ponto de se sentirem mais importantes que, por exemplo, o próprio time em que atuam.

Motivados por essa imagem quase super-heróica, milhares de jovens sonham um dia em entrar para a liga. Poucos são os casos em que alguém decide voluntariamente abandonar esse privilégio. Este foi o caso de Brian.

Com ainda cinco anos no seu contrato e mais de US$ 35 milhões para receber jogando pelo Detroit Pistons, Williams decidiu aposentar-se aos 30 anos, em pleno auge, para viajar o mundo com as economias que já havia acumulado.

Lutando contra a depressão desde a infância, Williams teve um núcleo familiar conturbado. Durante toda a vida adulta buscou afastar-se da relação com os pais e irmão, mas depois de quase 20 anos de seu desaparecimento as suspeitas recaem sobre sua família, mais especificamente sobre seu irmão Kevin Williams.

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Desaparecimento

Dois anos depois de se aposentar do basquete, Williams realizou, em 2002, um sonho antigo. Aprendeu a velejar e comprou seu próprio barco; o “Hukuna Matata”, uma expressão suaíle com erro ortográfico, que significa “sem preocupações”.

Seu objetivo era iniciar a jornada no Taiti e atravessar o Oceano Pacífico até o Havaí, parando em pequenas ilhas pelo caminho. Para acompanhá-lo, convidou uma antiga namorada, Serena Karlan, quem conheceu durante seus tempos de NBA. Além deles, Bertrand Saldo integrava a tripulação – um experiente capitão francês que seria responsável pelas rotas e outras necessidades de uma aventura desse porte.

Uma viagem como esta é uma experiência transformadora, uma oportunidade única na vida. E de fato foi o que aconteceu, porém com um final trágico.

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Quando concluíam os últimos preparativos para zarpar oceano a dentro, uma surpresa indesejável foi ao encontro do casal. Kevin, irmão de Brian, ficou sabendo dos planos e viajou até o Taiti para encontrá-los.

Sob o pretexto de “reatar os laços familiares”, Kevin inclui-se nos planos do irmão. No dia 6 de julho de 2002, o “Hukuna Matata” iniciou sua viagem com os quatro tripulantes a bordo. Partindo do porto de Pape’ete com destino a ilha de Raiatea, e posteriormente, a costa do Havaí.

Durante as 48 horas seguintes, 3 ligações telefônicas foram registradas a partir de celulares via satélites presentes no barco. No último registro, Brian conseguiu contatar sua família no dia 8, e depois disso, nenhum outro sinal.

Desde deste dia, nenhum dos tripulantes foi visto novamente, com exceção de Kevin Williams.

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Infância

Brian nasceu em 1969, três anos depois Kevin. Filho de Patricia Phillips e Eugene Williams, passou o início de sua vida viajando pelo mundo devido a profissão do pai. Eugene se tornou integrante da segunda formação de um famoso grupo vocal americano, o The Platters. Descoberto pela banda durante uma apresentação em uma casa noturna, Eugene foi a vários países com sua família, incluindo países exóticos para uma família californiana, como Japão e Índia. O estilo de vida agitado abalou o núcleo familiar dos Williams, que culminou na separação do casal no início da década 1970.

Divorciada, Patricia estabeleceu-se em Fresno, Califórnia, junto com seus dois filhos. Casou-se novamente, agora com Ron Barker, contudo, esta relação também mostrou-se problemática. Barker era um sujeito nervoso e agressivo, que constantemente brigava aos berros com os filhos de sua esposa. Em entrevista após os acontecimentos no Taiti, Paul White, melhor amigo de Kevin durante a infância, confidenciou que o padrasto tinha inveja do intelecto das crianças e que a mãe “assistia tudo passivamente”. Já Patricia, recusa-se a comentar sobre o segundo marido: “Eu bani este homem da minha consciência de tal forma, que não consigo te dizer quando casei com ele, quanto tempo ficamos juntos e quando nos separamos”.

Neste ambiente, Kevin e Brian cresceram e desenvolveram personalidades distintas. O primeiro, acometido por uma doença asmática grave, manteve-se distante dos esportes, mesmo desenvolvendo um corpo atlético. Kevin é descrito como um sujeito com dificuldade de socialização, mas assim como sua mãe, era excepcionalmente inteligente. Ainda na terceira série do ensino fundamental, já havia lido coleções completas de enciclopédias e passava boa parte dos seus dias lendo dentro de casa. Assim como seu irmão, Kevin tinha tendências a depressão. Ao envelhecer desenvolveu vícios em drogas e álcool, o que dificultava sua busca por uma estabilidade alternando empregos e cidades. White e outras pessoas próximas a família relatam que Kevin sentia-se viver à sombra do sucesso irmão. Invejava sua vida e conta bancária, e o que tornava tudo pior é que, eram muito parecidos fisicamente, a não ser pela cor dos olhos e a forma física.

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Já Brian, era mais adepto ao talento artístico herdado de Eugene. Muito mais sociável que seu irmão, ele era naturalmente curioso e passava longas horas jogando xadrez com frequentadores mais velhos de um café próximo a sua casa. Brian também lia muito, e era cativado por pequenos momentos de beleza da vida. Certa vez, ele foi de bicicleta até um lava-rápido e ficou por horas observando os carros que ali paravam serem ensaboados e enxaguados.

Sem interesse por basquete, Brian não praticou o esporte de forma competitiva antes do primeiro ano do ensino médio. Jogando pela Saint Monica High School, teve ótimas atuações, sendo que o número que usava foi aposentado pela escola.

Durante a faculdade, jogou beisebol pela Universidade do Arizona, mas pelo seu porte físico mais adequado à modalidade da bola laranja, foi logo redirecionado.

Carreira na NBA

Atendendo a todos os requisitos – como idade e talento – Brian se tornou elegível para jogar na melhor liga de basquete do mundo. No Draft de 1991, foi selecionado na décima posição pelo Orlando Magic. Durante aquela noite, algo que passou desapercebido naquele momento, mas anos mais tarde foi resgatado, Brian já deu sinais do seu baixo interesse pelo esporte e a carreira na NBA. Na entrevista, que ocorre com todos os selecionados na primeira rodada, ao ser perguntado sobre suas expectativas de jogar no Magic, Brian deu maior enfoque nas pessoas que compunham a organização e nada sobre o jogo em si.

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Em sua primeira temporada, Williams teve minutos reduzidos. Jogou em média 19 minutos, com 9,1 pontos, 5,7 rebotes e um toco por jogo. Apesar desses números não serem de grande destaque, a franquia considerava que Brian tinha grande potencial e poderia ter grande contribuição ao longo de uma temporada.

Certa vez, seu ex-companheiro de time no Chicago Bulls, e atual treinador do Golden State Warriors, Steve Kerr, declarou que Williams “talvez é o jogador mais talentoso fisicamente que eu já vi”.

Na temporada seguinte o desenvolvimento esperado não se confirmou. Brian atuou em apenas 21 dos 82 jogos da temporada por ter sido diagnosticado pela equipe médica da franquia com depressão clínica. Esta foi a primeira vez que um atleta da NBA teve um problema desse tipo revelado publicamente. Naquele ano foi reportado que o atleta tentou suicidar-se por duas vezes. Na primeira, ele teria ingerido 15 comprimidos tranquilizantes; no outro caso, o atleta teria batido com o carro em um poste de forma proposital. Ainda naquele ano, Brian desmaiou durante um treino cinco contra cinco enquanto era marcado por Shaquille O’Neal.

Algum tempo mais tarde, quando questionado sobre os episódios, Brian disse que os casos foram reportados de forma exagerada, e que a sua infelicidade era decorrência de residir em Orlando, cidade que chamou “estéril” e “feita para turistas”; já sobre desmaio, justificou-se dizendo que naquele tempo ingeria diariamente apenas 2.000 calorias e que, por ter crescido como vegetariano, quis manter a dieta e que a falta de ferro e proteína teriam causado o mal-estar, em face ao esforço físico que era submetido.

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Sem conseguir se adaptar na Flórida, Brian foi trocado para o Denver Nuggets em 1993, onde atuou por duas temporadas, até ser novamente trocado, para o Los Angeles Clippers.

Ao que a primeira vista parece uma carreira errática, de alguém que não correspondeu às expectativas técnicas para a competição de alto nível, não foi o que de fato atrapalhou sua carreira.  Williams era visto por companheiros de time como um sujeito distante e alguém de difícil relacionamento. Jogadores em geral e Williams não compartilhavam dos mesmo interesses. Durante as viagens e concentrações, passava boa parte do tempo lendo, enquanto os outros jogavam cartas e conversavam.

Certa vez, enquanto lia a biografia de Miles Davis no avião, disse ao seu colega do Magic Tom Tolbert, que gostaria de ter a mesma paixão por basquete que Davis tinha por música. Em outro episódio, Grant Hill, ala do Detroit Pistons, o viu lendo “The Tarahumara”, um complicado texto acadêmico sobre uma tribo do México. Durante uma entrevista, Williams manifestou seu pouco apreço ao rap, gênero musical favorito da maioria da liga, dizendo que “é só sobre bundas e carros”.

Em meados de 1996, Williams estava livre no mercado (sem contrato), e assim ficou até 2 de abril de 1997. Com apenas nove jogos para o fim da temporada regular 1996-1997, o Chicago Bulls e Williams entraram em acordo para firmar um contrato até o fim da temporada. É comum na liga as franquias fazerem contratações para a disputa da pós-temporada, mas informações de bastidores relatavam que durante aquele ano, Williams tinha uma pedida muito alta em relação àquilo que os times estavam dispostos a pagar para tê-lo por toda a temporada regular.

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Contratado especialmente para as disputas de playoffs, Williams atuou por minutos relevantes durante toda a pós-temporada. Nas finais, contra o Utah Jazz de Karl Malone, teve boas participações, especialmente no jogo 5 em que marcou sete pontos, quatro rebotes e duas roubadas de bola. Os Bulls venceram a série por 4 a 2 e se sagram campeões da NBA. Kerr novamente elogiou o companheiro de time, dizendo que os Bulls não teriam ganho a série sem Williams.

Para a temporada seguinte, os Bulls decidiram não renovar o contrato de Williams. Como foi relato no primeiro episódio de The Last Dance, a franquia desejava iniciar um processo de reformulação, e ele não estava nos planos.

Em alta pela suas boas atuações em 1997, assinou um contrato de sete anos com o Detroit Pistons, tornando-se o jogador mais bem pago da história da franquia. Neste período Brian trocou seu nome oficialmente para Bison Dele – uma homenagem a seus antepassados cherokees e africanos. Na Cidade do Motor, atuou por duas temporadas, até 1999, quando decidiu se aposentar precocemente, com mais US$ 30 milhões para receber. O mundo da NBA não compreendeu sua decisão, muitos analistas consideravam que estava em seu auge físico e técnico, tornando seu afastamento ainda mais incompreensível.

Após a aposentadoria muitos times tentaram com que ele retornasse à liga. Jerry West, dirigente do Los Angeles Lakers na época, tentou em vão persuadi-lo a voltar. Outros tantos times também fizeram investidas, e todas foram negadas.

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Vida fora das quadras

Fora do ambiente da NBA, Williams manifestava com maior frequência sua personalidade de “espírito livre” e curiosidade. Um de seus melhores amigos, Patrick Byrne, quem conheceu em 1991 através de Ahmad El Hosseini, um amigo em comum, não tinha qualquer relação com o basquete. Byrne havia sido diagnosticado e curado de um câncer no começo da vida adulta, e por ter visto a morte como uma possibilidade real, queria viver intensamente. Este foi o principal elo entre os dois, e desenvolveram uma forte amizade. Juntos, percorrem de bicicleta o caminho de Salt Lake City até Phoenix, tiraram a licença de piloto de avião, pularam de para-quedas e aterrissaram um monomotor em lagos remotos.

Além do estilo de vida incomum, os dois partilhavam do gosto por jazz e literatura. Por e-mail ou pessoalmente, discutiam as obras de Nietzsche, Wynton Marsalis e Miles Davis. Ambos tinham em William Blake seu poeta preferido, e adoravam os filmes de Jim Jarmusch. PhD em filosofia por Stanford, Byrne também discutia longamente sobre o assunto com seu amigo, além de politica e questões raciais.

Williams e Byrne tinham origens e aparências totalmente diferentes. Enquanto o primeiro era negro, filho de músico, atlético e de família pobre, o segundo era um branco magricela de cabelo desgrenhado e filho de um bem-sucedido executivo da GEICO. Por onde passavam, Williams despertava o interesse de mulheres, como o próprio Byrne relembra. “Ele era um cara muito legal. Ele era um cara naturalmente legal. Todos queria estar à sua volta”.

Sem paciência para groupies, Brian também não era adepto a relacionamentos longevos. Chegou a namorar Madonna e outras celebridades durante seus tempos de atleta, mas não por muito tempo. Considerava-as imersas em si mesmas, e não partilhavam dos mesmos interesses. Contudo, com uma mulher foi diferente.

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Serena Karlan e Brian se conheceram em 1997 em Los Angeles. A mulher de olhos azuis, cabelos pretos e porte de modelo o encantou, e durante algum tempo se encontraram. Contudo, a vida de constantes viagens e mudanças de cidades de um jogador da NBA impossibilitou um relacionamento estável.

Enquanto Brian estava dedicado ao basquete, Serena buscava se estabilizar profissionalmente. Morou em Nova York, onde nasceu, trabalhando em lojas de varejo e no mercado imobiliário, até se tornar assistente pessoal do cantor Prince em Los Angeles. Mesmo distantes, comunicavam-se ocasionalmente. Brian mostrava interesse para além de sua beleza, mas todos seus avanços eram declinados. Serena e Brian tinha uma conexão, daquelas difíceis de explicar em palavras quando se gosta de alguém. O interesse era recíproco e percebido pelas amigas de Serena, que reparavam na forma com que ela falava dele.

Depois da precoce aposentadoria, Williams foi viver a vida como queria. Abastecido financeiramente de seus contratos na NBA, iniciou uma viagem pelo mundo em busca de experiências e a paz consigo mesmo. Foi ao Líbano visitar Hosseini, onde tornou-se sócio de um amigo em uma empresa de engarrafamento de água, correu com os touros em Pamplona, visitou galerias de arte na Europa, flertou em bares de Mônaco, acampou por meses a fio no Outback australiano e dedicou-se a aprimorar suas habilidades em saxofone, violino e trompete. Quando chegou ao sul do Pacífico, visitou diversas ilhas e hospedou-se nos melhores resorts da região.

Vivia como sempre quis, mas cansou-se da solidão. Como havia dito a Serena logo quando se conheceram, sinta-se sozinho no meio da multidão. Então, a convidou em 2001 para acompanha-lo em uma série de viagens pela região. Em um primeiro momento, Serena relutou para aceitar o convite, mas aceitou passear por duas semanas. Duas semanas se tornaram cinco, até que ela retornou aos Estados Unidos.

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Algumas semanas depois Dele voltou entrar em contato, não para visitá-lo mas para ir morarem juntos. Novamente Serena relutou e negou o pedido, dizendo que tinha obrigações no seu emprego e contas para pagar, já que sua saúde financeira não estava estabilizada. Em resposta, Brian enviou um cheque de US$ 50 mil e uma carta dizendo: “É isso que penso da sua situação financeira”. Nesta época, ela trabalhava no mercado imobiliário em Nova York, e apesar de ser competente, não gostava de sua ocupação. Convencida pela sua mãe e amigas de infância, embarcou em um vôo no início de 2002, com destino a Nova Zelândia. “Ela tinha conexões profundas com as pessoas. Mas com o Brian era especial”, disse Gael Karlan, mãe de Serena.

O casal permaneceu por algumas semanas na ilha de Moorea, hospedados em um dos melhores resorts da Polinésia. Por lá frequentaram praias, tomaram drinks à beira d’água e passearam de scooter por toda extensão da ilha. Encantados pelo lugar paradisíaco, planejaram ir até o Havaí. Estavam animados pela aventura, até Kevin inadvertidamente os encontrou.

Não se sabe qual foi a reação de Bison Dele ao encontrar o irmão, nem qual foram as condições para todos embarcassem na viagem, mas o fato é que todos a iniciaram juntos. Em um conversa por telefone com sua melhor amiga, Stacey Steele, Serena a informou sobre a chegada de Kevin. Steele disse que esta “foi a primeira vez que ela falou algo de negativo sobre outro ser humano nos 17 anos que a conheço”.

Sem mais notícias do paradeiro da embarcação, dois meses passaram-se sem qualquer novidade sobre o caso. Neste meio tempo, em meados de agosto, a guarda costeira americana enviou um boletim de socorro a todos os barcos em raio de mil milhas em volta do Taiti. O padrasto de Serena, inconformado pela falta de novas informações, transformou sua casa em um centro de buscas e também elaborou um “resumo dos acontecimentos”. Com esse documento de 24 páginas, tentou contatar a Casa Branca e o FBI em busca de suporte.

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Apenas no dia 5 de setembro veio a primeira pista. Munido do passaporte e talão de cheques de Brian, um homem tentou comprar moedas de ouro no valor de meio milhão de dólares em Phoenix, no Arizona. Posteriormente abaixou a pedida para US$ 150 mil, e assinou o cheque, dependendo apenas da aprovação bancária para a concretização do compra. Por estar desaparecido há mais de dois meses, e sem nenhuma atividade na conta desde a viagem no Taiti, a compra levantou suspeitas. O gerente da conta notificou as pessoas que cuidavam do patrimônio de Brian, que por sua vez, contataram a polícia local.

Para identificar o comprador, foi armada uma operação policial. Combinou-se uma hora para a retirada das peças de ouro, e quem apareceu no horário marcado foi Kevin. Ele foi conduzido à delegacia e interrogado durante cinco horas consecutivas. Sob interrogatório, Kevin afirmou que a compra estava sendo feito com o aval do irmão, e que fazia isso em seu nome, completando que a última vez que tinha o visto, ele estava bem. Sem qualquer prova para contradizer o depoimento de Kevin, a polícia de Phoenix o liberou, algo que posteriormente, seria considerado pelo FBI com um erro.

Amedrontado pelas consequências, e pelas leis de pena de morte do Arizona, Kevin fugiu para a Califórnia onde ficou por um tempo no apartamento de sua namorada, Erica Weise, em Palo Alto. Dali, atravessou a fronteira com o México e desapareceu por um tempo, sendo que esses movimentos eram monitorados pelo FBI até o momento de cruzar a fronteira. Durante a fuga, Kevin ligou para sua mãe e confessou suas preocupações. “Mãe você me conhece, eu não sobreviveria à prisão”.

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Inconformado pelo desaparecimento do amigo, Byrne tentou comunicar-se com Kevin para entrarem em contato e obter alguma informação sobre o paradeiro de Brian. Em troca, estava lhe ofereceu uma quantia de US$ 150 mil. Byrne nunca recebeu uma resposta. Sem nenhuma novidade, foi ao México tentar encontrar-se pessoalmente com Kevin. Foi de lá que recebeu uma ligação informando que o barco havia sido encontrado, sem nenhum sinal dos ocupantes.

Kevin foi encontrado as 11h30 da manhã do dia 15 de setembro desacordado as margens de um rio, próximo a fronteira. De acordo com o hospital de Chula Vista, o homem de 2,07 metros estava sem reflexos e sua pupilas não respondiam a estímulos. Marcas nas suas costas e pulsos sugeriam que o homem não se mexia a um tempo considerável. Em situação grave, Kevin foi transferido a um hospital na Califórnia.

No dia 26 de setembro a família concordou desligar os aparelhos que o mantinham vivo, visto que, com a morte cerebral não havia nenhuma perspectiva de melhora. O diagnóstico oficial foi de que Kevin cometeu suicídio com altas doses de insulina e analgésicos.

Com a impossibilidade de colher as versões dos tripulantes do “Hukuna Matata”, a polícia interrogou Weise, quem conviveu com Kevin após os acontecimentos do Taiti. Segundo ela, Kevin relatou que discutiu com o irmão, e tornou-se uma briga corporal. Acidentalmente, Brian teria acerta um soco em Serena, que ao cair bateu com a cabeça numa estrutura de metal do barco e morreu na hora. Assustado com a situação, Bertrand Saldo afirmou que teria que reportar o ocorrido para uma central de apoio, Brian quis a todo custo impedi-lo. Saldo insistiu, o que levou Brian a golpear e mata-lo com uma chave inglesa. Sem outra alternativa a não ser se defender, Kevin pegou uma arma presente no barco e atirou no irmão. Sob alto estresse e por ter certeza que ninguém acreditaria na sua história, Kevin lançou os três corpos no mar e navegou de volta ao Taiti.

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Após quase duas décadas do desaparecimento de Dele e Karlan, seus corpos não foram encontrados. As famílias e amigos de ambos permanecem sem respostas, e o mundo do basquete perdeu uma das suas figuras mais singulares dentro e fora das quadras.

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