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Garone: Otimismo de Lopes é louvável, mas Vasco de 2020 é muito inferior ao de 1996

Técnico campeão brasileiro em 97 e da Libertadores em 98, Antônio Lopes retorna ao Vasco após 12 anos. Dessa vez, como coordenador-técnico

Por Andre Schmidt em 03/04/2020 14:47 - Atualizado há 2 anos

Antônio Lopes retorna ao Vasco após 12 anos. Dessa vez, como coordenador-técnico. E o otimismo do profissional é louvável.
Vítor Silva / Divulgação

“Este momento do clube é muito parecido com o de 1996 quando cheguei no mês de outubro(…) faltavam seis rodadas para acabar o Brasileiro (…) o Vasco estava quebrado de dinheiro naquela época. Havia risco de rebaixamento naquele ano e começamos a construir o ciclo mais vitorioso da história do clube. Podem achar que eu estou louco, mas também acharam quando dei uma entrevista no início de 1997 afirmando que o Vasco seria um dos melhores times do Brasil dentro em breve”, escreveu Antônio Lopes esta semana em seu retorno à São Januário.

O otimismo de Lopes é louvável e até necessário para o atual momento do clube. Pessimismo era algo estampado no rosto de Abel Braga desde o seu anúncio, o que desagradava a muitos. Principalmente os torcedores, é claro. O cenário que o novo coordenador-técnico terá pela frente, porém, será bem diferente daquele que encontrou em 96, ao contrário do que relatou.

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Entre o otimismo e a realidade existe um abismo. Principalmente no que diz respeito ao futebol, seu setor. Nem mesmo a crise econômica é semelhante.

Comparado aos grandes times que o Vasco montou nos anos 90, desde a base da equipe campeã brasileira em 89, passando pelo inédito tricampeonato carioca entre 92 e 94, até chegar ao elenco campeão brasileiro e da Libertadores com Antônio Lopes, certamente o de 96 foi o mais fraco daquela década. Ainda assim, não era inferior ao que o clube tem hoje.

O Vasco passava por uma grande reformulação naquele período. Havia perdido jogadores importantes revelados na própria base, como Yan, Valdir e Jardel, negociados, e Hernande, preso após atropelar quatro pessoas – ninguém morreu. Os experientes Ricardo Rocha, Geovani, João Paulo, William e Charles Guerreiro também não permaneceram, assim como Leonardo, artilheiro trazido do Sport, e Clóvis. Em 94, a maior perda de todas: Dener.

Tudo isso num espaço de apenas dois anos.

Para suprir tantas ausências, o clube foi ao mercado e contratou nomes que haviam se destacado recentemente. Assis, hoje mais conhecido como irmão de Ronaldinho Gaúcho, mas que chegou a ser titular nas seleções de base do Brasil, foi um deles. Válber, um dos pilares do Carrossel Caipira do Mogi Mirim de 92, atuando ao lado de Rivaldo – com quem faria dupla também no Corinthians e no Palmeiras -, foi outro. O experiente centroavante Nilson, ex-Internacional, Grêmio, Flamengo, Fluminense, Corinthians e Palmeiras, foi outro. Serginho, jovem revelação que estava no Corinthians, também virou reforço. Para a zaga trouxe Rogério, campeão brasileiro com o Rubro-Negro Carioca em 92, e Zé Carlos, também com passagem pela Gávea e que estava há cinco temporadas no Porto.

Para o Brasileiro ainda chegariam o meia Ranielli, ex-Palmeiras e Santos, e Macedo, campeão brasileiro, da Libertadores e do Mundial de Clubes jogando no São Paulo de Telê Santana.

Por mais que apenas Válber tenha emplacado – foi o artilheiro do Vasco no ano com 15 gols marcados -, nota-se claramente que, apesar dos problemas financeiros, o clube ainda era capaz de ir atrás de nomes interessantes no mercado. Eram outros tempos.

Tanto que antes de Lopes assumir na vaga de Alcir Portela, já na 18ª rodada do Brasileiro – eram 23 -, o time havia recebido os reforços de Edmundo, por quem pagou R$ 5 milhões junto ao Flamengo, e Ramon – novo técnico vascaíno -, tendo desembolsando 1,5 milhões de dólares ao Bayer Leverkusen, da Alemanha.

O Vasco atual não tem essa capacidade de contratação. Sequer tem credibilidade para se endividar desta maneira.

Além de Edmundo e Ramon, salvadores daquele time, o Cruz-Maltino tinha Carlos Germano no gol, Pimentel na lateral-direita, Cássio na esquerda, Luisinho e Juninho Pernambucano no meio-campo, e os jovens Felipe – subido por Lopes – e Pedrinho – resgatado pelo Delegado após voltar aos juniores no início da temporada – surgindo. Da base também emergiam Richardson, Brener e Pedro Renato.

O time que Lopes recebeu no Vasco em 1996 tinha dificuldades, demorou pra encaixar, mas contava com onze jogadores que chegariam à Seleção: Germano, Pimentel, Cássio, Luisinho, Juninho, Felipe, Pedrinho, Válber, Macedo, Ramon e Edmundo. Um time inteiro!

O elenco atual tem apenas Leandro Castán e Breno, que não joga há mais de um ano, como atletas que já representaram a Seleção Brasileira principal. A diferença é muito grande.

Nem mesmo o discurso de que o Vasco brigava contra o rebaixamento condiz realmente com a verdade. O time vinha muito mal e era o 16º colocado no Campeonato Brasileiro – terminou em 18º -, mas em uma edição que tinha 24 clubes e apenas dois caiam. A vantagem era de oito pontos para o Bahia, penúltimo colocado e primeiro na zona da queda naquele momento. São Paulo, Santos e Fluminense, por exemplo, estavam ainda piores.

A situação hoje é bem diferente, Lopes.

O Vasco já não é mais capaz de atrair gênios como Edmundo – muito menos pagando milhões – e nem de repatriar ótimos jogadores como Ramon – a não ser para ser técnico. O garimpo por jovens revelações como Juninho, trazido do Sport aos 20 anos, já não é eficiente. A base, apesar de ainda revelar bons jogadores, não consegue manter suas joias por tanto tempo como fez com Carlos Germano, Felipe e Pedrinho. Craques como Mauro Galvão e Evair, fundamentais para construir a equipe vitoriosa de 97, não ficam mais livres no mercado.

Os tempos são outros, Delegado. Infelizmente. E o Vasco também.

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