Home Futebol Jogaço entre Corinthians e Grêmio é a prova definitiva do salto de qualidade do futebol feminino brasileiro

Jogaço entre Corinthians e Grêmio é a prova definitiva do salto de qualidade do futebol feminino brasileiro

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Arthur Elias e Patrícia Gusmão no jogo que decidiu o título da Supercopa Feminina

Por Luiz Ferreira em 13/02/2022 20:53 - Atualizado há 4 anos

Thais Magalhães / CBF

A partida que decidiu o título da primeira Supercopa Feminina nos mostrou um Corinthians que ainda se coloca como a equipe a ser batida no continente sul-americano e um Grêmio extremamente competitivo e que não se intimidou em nenhum momento. Mais do que isso, o embate entre as comandadas de Arthur Elias e Patrícia Gusmão também é a prova definitiva do salto absurdo de qualidade do futebol feminino nos últimos anos. Sem exageros. Quem acompanha as nossas principais competições há pelo menos cinco anos percebe muito bem como o jogo apresentado dentro de campo e as ideias táticas dos treinadores na beira do gramado atingiram um nível altíssimo. O Corinthians ainda é o grande “bicho-papão” da modalidade no país. Mas a atuação do Grêmio deixou claro para este que escreve que o nível de competitividade tende a aumentar bastante em 2022.

O que eu e você vimos nesse domingo (13) não foi somente a quarta conquista consecutiva do cada vez mais histórico Corinthians de Arthur Elias. Este que escreve já falou sobre a admiração que nutre por essas jogadoras uma porção de vezes aqui no TORCEDORES.COM e não deve parar tão cedo. Mas a final da Supercopa Feminina também nos mostrou que o Timão não é invencível. Parece óbvio, mas a sensação que todos nós tínhamos era a de que as (pouquíssimas) derrotas da equipe corintiana aconteciam muito mais por obra do acaso do que por mérito dos adversários. A primeira competição do ano no futebol feminino serviu para provar que essa tese sempre esteve errada.

Isso porque o Grêmio entrou em campo disposto a competir dentro das suas possibilidades e a explorar os pontos fracos da equipe comandada por Arthur Elias. E vale lembrar aqui que não existe esse negócio de equipe invencível no futebol de alto rendimento. Por todo o histórico (que inclui a “Tríplice Coroa” em 2021 e mais uma porção de conquistas e boas atuações nos últimos meses), falar que o Corinthians era o favorito no confronto era chover no molhado. Mas a estratégia das comandadas de Patrícia Gusmão estava mais do que clara. Marcação forte na entrada da área, concentração em nível máximo e muita velocidade nas transições para o ataque.

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Arthur Elias mandou o Corinthians a campo com Liana Salazar na proteção da zaga, Gabi Zanotti e Tamires se revezando no meio-campo e Gabi Portilho e Adriana abrindo espaços na defesa adversária enquanto Jheniffer segurava Pati Maldaner e Tuany no comando de ataque. Foi possível notar uma variação interessante no desenho tático do Timão no primeiro tempo por conta de toda essa movimentação ofensiva das jogadoras corintianas. Quando foi jogar pelo lado direito (onde se sente mais confortável), Gabi Portilho cresceu na partida e foi responsável por algumas das boas tramas ofensivas da sua equipe. A fluidez do escrete de Arthur Elias era tão grande que Tamires aparecia pela direita, Katiuscia vinha por dentro (quase como uma ponta de lança) e Gabi Zanotti esperava a sobra. Tudo para gerar superioridade numérica no terço final.

Gabi Portilho abria o jogo pela direita, Katiuscia vinha por dentro e se somava a Adriana e Jheniffer dentro da área. Mais atrás, Tamires e Gabi Zanotti se posicionavam para esperar a sobra da jogada de ataque. Superioridade numérica. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A partir do momento em que Arthur Elias apostou no seu já tradicional 4-2-4, as jogadoras do Corinthians começaram a fazer mais associações pelos lados. Era comum ver Adriana e Gabi Portilho trocando de posição pela direita, Jheniffer arrastando a zaga do Grêmio e abrindo espaço para a chegada de Gabi Zanotti e Tamires vindo da esquerda para dentro para auxiliar Diany na armação das jogadas. A movimentação constante e vertical ajudava a quebrar um pouco as perseguições individuais do time de Patrícia Gusmão no setor da bola e a bagunçar a última linha defensiva da equipe gaúcha. O único “porém” estava nas conclusões a gol e na grande apresentação da goleira Lorena.

Por maior que fosse o domínio corintiano, faltava o principal: colocar a bola na casinha. O Timão era claramente superior ao Grêmio, criava chances de balançar as redes mas falhava demais. Seja nas tomadas de decisão ou nas conclusões a gol. E com Lorena mostrando mais uma vez que não foi lembrada por Pia Sundhage por acaso, as coisas iam ficando mais e mais complicadas para o Corinthians. Ainda que esse 4-2-4 tenha potencializado muita coisa, o Corinthians não conseguiu transformar essa superioridade em gols. E com isso, o Grêmio foi aproveitando o cansaço do seu forte adversário para arriscar algumas subidas ao ataque e até dar alguns sustos na goleira Paty.

A configuração do ataque do Corinthians no segundo tempo fez com que Gabi Portilho, Jheniffer e companhia começassem a fazer mais associações pelos lados. Os gols só não saíram por conta dos erros na conclusão das jogadas e da goleira Lorena. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

O Grêmio começou a se soltar a partir da entrada de Cássia no lugar de Rafa Levis e a mudança para um 4-4-2 mais ofensivo e vertical. A camisa 28 se juntava a Laís Estevam no ataque e ganhava a companhia de Luan e Caty pelos lados do campo. Mais atrás, Tchula segurava a onda na marcação e Pri Back organizava a saída de bola. Por mais que o Corinthians fosse superior técnica e taticamente, as Gurias Gremistas encaixaram boas investidas em cima de Paulinha, Campiolo, Tarciane e Yasmim aproveitando os lançamentos para as “pontas” que atacavam o espaço entre zagueiras e laterais para receber os passes mais longos. Caty, Laís Estevam, Dani Ortolan (que poderia ter entrado um pouco mais cedo na partida) incomodaram bastante e deixaram a impressão de que a primeira edição da Supercopa Feminina só seria decidida na disputa por penalidades.

Patrícia Gusmão percebeu bem a queda no ritmo da partida e apostou nas ligações diretas e nos passes de ruptura para chegar na área do Corinthians. Caty, Laís Estevam, Luany e companhia incomodaram bastante a defesa corintiana. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Mas quem tem Gabi Portilho e Gabi Zanotti tem tudo. Ou tem, pelo menos, a certeza de que uma delas vai resolver as coisas dentro de campo. E no caso do Corinthians, as duas resolveram. A camisa 18 foi determinante para abrir espaços na defesa do Grêmio e a camisa 10 marcou o gol do título aos 48 minutos do segundo tempo após escanteio cobrado por Diany. Aliás, é impressionante como o Timão domina tão bem o recurso das bolas aéreas. A Supercopa Feminina ia para as mãos das “Brabas” como já era esperado, mas é preciso deixar bem claro que isso não diminui em nada a grande atuação coletiva do Grêmio. Por mais que Patrícia Gusmão venha sofrendo com as críticas, o que se viu em campo nesse domingo (13) foi uma equipe mais arrumada, coesa e que deu um certo calor no time mais forte do continente sul-americano. E isso é muito.

Tudo isso deixa neste que escreve a certeza de que o futebol feminino tem tudo para crescer a níveis estratosféricos em 2022. O público está abraçando, as TV’s estão noticiando e os clubes estão investindo. Grêmio, Internacional, Flamengo, Real Brasília, Palmeiras, Ferroviária e várias outras equipes estão reforçadas e com o objetivo claro de acabar com o reinado do Corinthians. Certo é que o salto de qualidade e de competitividade será maior do que tudo o que vimos nesses últimos anos. Podem confiar.

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