A demissão de Alexander Medina e o futuro do Internacional em mais uma temporada recheada de erros
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o trabalho de “El Cacique” no Colorado Gaúcho e o que pode vir pela frente ainda em 2022
Ricardo Duarte / SC Internacional
O empate contra o simpático e inexpressivo Guaireña na noite da última quinta-feira (14) pela Copa Sul-Americana colocou um ponto final no trabalho de Alexander “El Cacique” Medina no Internacional. Este que escreve entende perfeitamente que 17 jogos (pouco mais de três meses) é um recorte muito pequeno para se avaliar o trabalho de um treinador de modo mais profundo e preciso. Por outro lado, os resultados ruins e as péssimas atuações coletivas deixaram bem claro que o momento da ruptura era esse. E fica ainda mais difícil defender Alexander Medina sabendo que ele recebeu votos de confiança após depois que o Internacional foi eliminado da Copa do Brasil pelo Globo do Rio Grande do Norte e quando praticamente deu adeus ao Gauchão depois de levar 3 a 0 do Grêmio em pleno Beira-Rio.
🔎 Alexander Medina foi demitido do @SCInternacional.
⚔️17 jogos
✅6 vitórias
⛔️6 empates
❌5 derrotas
📊47.1% apv.
⚽️17 gols marcados
🚫20 gols sofridos• Eliminado na 1ª fase da Copa do Brasil.
• Nenhuma vitória por torneios nacionais e internacionais na temporada. pic.twitter.com/GUXk5cduoI
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) April 15, 2022
A demissão de Alexander Medina também escancara uma série de erros cometidos pela diretoria colorada. A começar pela demora em trazer os reforços pedidos pelo treinador uruguaio e pela falta de habilidade em lidar com as crises no clube. Ver Gabriel, Maurício, Victor Cuesta (hoje no Botafogo) convocando a imprensa e colocando a cara à tapa logo depois da eliminação na Copa do Brasil foi um dos momentos mais surreais dos últimos anos. Mas também era a prova de que a diretoria do Internacional já não confiava no trabalho de “El Cacique” e simplesmente o deixou ser “devorado pelos leões”. Difícil entender essa postura diante da opção pelo fim desse ciclo pouco mais de um mês depois da derrota para o Globo.
O problema todo é que Alexander Medina foi muito mal no comando do Internacional. Este que escreve comentou aqui mesmo neste espaço que o estilo de jogo implementado no Talleres casava com as características do elenco que encontrou no Beira-Rio nesse início de temporada. No entanto, por mais que a diretoria tenha demorado muito para trazer os reforços pedidos pelo uruguaio e que ele tenha sofrido bastante para montar a equipe diante de tantas baixas por lesões, não havia mais como segurar “El Cacique” no comando do Internacional. Não diante de tantas partidas ruins e de eliminações frustrantes ao longo desse início de 2022. Havia sim como fazer o escrete colorado jogar muito mais e muito melhor do que vinha jogando.
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Talvez o grande erro de Alexander Medina tenha sido confiar demais no seu estilo e não se adaptar ao elenco que tinha em mãos. Já se sabia que o uruguaio apostava num estilo mais vertical, de transição rápida, de forte marcação e com muita organização na última linha de defesa. Tudo que o Internacional não teve nesses 17 jogos sob o comando de “El Cacique”. O gol de Mario Otazú (no empate em 1 a 1 com o Guaireña) é um bom exemplo da confusão que se instalou no time colorado. Carlos de Pena (atacante de origem) foi jogar na lateral-esquerda enquanto Liziero (volante que jogando no setor enquanto Moisés segue se recuperando de lesão) voltou para o meio. E junto de Wesley Moraes, Taison e Maurício sofriam para colocar velocidade nas transições para o ataque. Difícil entender o que se passava no Inter.

Taison e Liziero apenas observam Cesar Villagra lançar Mario Otazú marcar o gol do Guaireña. O atacante paraguaio atacou o espaço às costas de Bustos e aproveitou a desorganização da última linha do Internacional. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Sudamericana
É difícil apontar apenas um problema no Internacional. A grande verdade é que o time como um todo sofria muito mais do que o normal para criar suas jogadas de ataque e para se defender. Esse cenário se repetia contra adversários em tese mais fracos e ficava ainda mais complicados quando o escrete de Alexander Medina encarava adversários mais fortes, como o Atlético-MG e o grande rival Grêmio. Este colunista repete: por mais que a diretoria tenha falhado na promessa de reforçar o elenco colorado, era plenamente possível fazer esse time jogar ser muito mais competitivo do que já foi. Talvez o único momento em que isso tenha acontecido foi na vitória por 1 a 0 sobre o próprio Tricolor Gaúcho ainda na primeira fase do Gauchão.
Isso porque o Internacional apresentava claras dificuldades na construção das jogadas de ataque e se movimentava muito pouco para durar as defesas adversárias. O panorama era sempre o mesmo: Taison recuava para armar as jogadas de ataque, Edenílson (um dos que parecia mais desconfortável com Alexander Medina) avançava para junto de Wesley Moraes (ou David) e Maurício, Liziero aparecia por dentro para dar opção de passe e os laterais jogavam mais espetados para dar amplitude. Ideias promissoras, mas muito mal executadas. E se faltava mobilidade na frente, faltava velocidade para cobrir os buracos que apareciam na defesa colorada sempre que o time perdia a bola e o adversário iniciava o contra-ataque.

Taison recebe a bola na intermediária e vê todo o time do Internacional estático no ataque. Um dos grandes problemas do escrete de Alexander Medina estava na falta de movimentação e de intensidade nas transições defensivas. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
Eliminação na Copa do Brasil diante do Globo do Rio Grande do Norte, derrota e eliminação no Gauchão para o Grêmio (que acabaria se sagrando campeão estadual em cima do Ypiranga), derrota na estreia do Brasileirão para o Atlético-MG (sendo amplamente dominado no primeiro tempo) e empates contra os modestos 9 de Outubro (do Equador) e Guaireña (do Paraguai) pela fase de grupos da Copa Sul-Americana. É praticamente impossível defender o trabalho de Alexander Medina diante de tantos resultados ruins e de tantos desempenhos abaixo da média. Conforme dito anteriormente, o treinador uruguaio até pode reclamar da falta de reforços e de “blindagem” da diretoria colorada. Mas precisa reconhecer que teve tempo para implementar seus conceitos no Internacional e falhou. Acontece nas melhores famílias. É do jogo.
https://twitter.com/Footstats/status/1514804030647640071
A partir da demissão de “El Cacique”, a imprensa esportiva começa a especular sobre o novo comandante do escrete colorado. Apenas nesta sexta-feira (15) falou-se em Cuca, Mano Menezes, Lisca Doido, Odair Hellmann e até mesmo Renato Gaúcho (!!!), todos treinadores de perfis e de estilos bastante diferentes entre si. Se a diretoria pretendia uma ruptura com a chegada de Alexander Medina, ela mostra que é muito difícil abandonar os velhos hábitos. Ainda que o trabalho do uruguaio tenha sido fraco e muito abaixo da expectativa, ficam as dúvidas sobre a postura dos dirigentes a partir da chegada do novo treinador. Ele será bancado mesmo se os resultados não aparecerem num primeiro momento? O que ele vai fazer com os reforços contratados a pedido do antigo treinador? Onde o Internacional pode chegar em 2022?
Certo é que, apesar do trabalho ruim, Alexander Medina não é o principal culpado pela péssima fase do Internacional. Ela vem de muito tempo e parece ter se instalado no clube quase como um hóspede chato que não deseja ir embora. A falta de convicção da diretoria no uruguaio ficou evidente com o último voto de confiança dado após o Gauchão. E esse erro de avaliação custou dias preciosos para que o novo técnico possa treinar e implementar seus conceitos num Colorado numa busca desesperada por identidade.
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