Cruzeiro arranca pontinho precioso das Gurias Coloradas na base da concentração e da efetividade
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida desta segunda-feira (16) e as escolhas de Maurício Salgado e Felipe Freitas
Já é fato publico e notório que o nível de qualidade do futebol feminino jogado aqui por estas bandas cresceu bastante se comparado com o que se fazia quatro ou cinco temporadas atrás. Isso faz com que esse esporte passe a ser muito mais estudado do que antigamente. A consequência natural disso é a necessidade cada vez maior de concentração e efetividade por parte de cada equipe. Podemos resumir o empate entre Internacional e Cruzeiro desta maneira. Se as Gurias Coloradas controlaram a maioria das ações do jogo desta segunda-feira (16), as Cabulosas acabaram sendo mais efetivas e aproveitaram melhor as (poucas) chances que criaram na partida disputada em Porto Alegre. Mesmo assim, os técnicos Maurício Salgado e Felipe Freitas sabem que precisam corrigir muita coisa nas suas equipes.
O fato do Internacional chamar mais a responsabilidade na partida não surpreendeu este que escreve. Além de jogar em casa, a vitória poderia levar as Gurias Coloradas para a liderança do Brasileirão Feminino à frente de Palmeiras e Corinthians. Esse foi um dos motivos pelos quais Maurício Salgado manteve seu 4-4-2/4-2-3-1 com Fabi Simões e Maiara Lisboa jogando pelos lados, Lelê arrastando a zaga das Cabulosas e Millene se movimentando bastante por dentro. Mais atrás, Duda e Isabela Capelinha protegiam a zaga e davam opção de passe quando Belinha e Eskerdinha apoiavam. O objetivo aqui era claro. Marcar o Cruzeiro ainda na saída de bola da equipe celeste, retomar a posse e acelerar nos contra-ataques na direção do gol adversário em altíssima velocidade.
Já as Cabulosas entraram em campo no mesmo 4-3-3/4-3-1-2 visto na goleada sobre o Flamengo no dia 18 de abril. Mariana Santos se comportava como uma espécie de “enganche” e abria espaços para as chegadas de Janete e Vanessinha em diagonal. A estratégia adotada por Felipe Freitas era semelhante à adotada por Maurício Salgado (embora do Cruzeiro trabalhasse mais a bola do que o Internacional). Não foi por acaso que as linhas mais altas de marcação surpreenderam as donas da casa no começo da partida desta segunda-feira (16). Aos 15 minutos de jogo, Nine roubou a bola de Belinha e serviu Mariana Santos na entrada da área. Esta viu Janete livre na esquerda, mas a finalização saiu fraca e sem muitas dificuldades para a goleira Rubi.
Aos poucos, o Internacional foi encontrando a melhor maneira de jogar e entendendo como o Cruzeiro se comportava defensivamente. Com Belinha e Eskerdinha bastante presentes no apoio, as Gurias Coloradas foram subindo as suas linhas de marcação e obrigando o escrete comandado por Felipe Freitas a recuar. O problema é que as laterais Janaína e Nine sofreram muito com o avanço das adversárias e a falta de auxílio na marcação por parte de Janete e Vanessinha. Com mais volume de jogo e superioridade numérica no campo ofensivo, o Internacional foi controlando mais o jogo e criando chances de gol. No entanto, Duda, Maiara e Millene desperdiçaram ótimas oportunidades de abrir o placar ainda no primeiro tempo. E essa falta de efetividade se mostraria fatal para as Gurias Coloradas.
O jogo ficou um pouco mais equilibrado na segunda etapa com as Cabulosas mais presentes no campo de ataque e mais consistentes na marcação. Tanto que Vanessinha, Corina e Mariana Santos deram sustos na defesa adversária. Mas foi numa das jogadas trabalhadas pelos lados do campo (com muitas triangulações e boas linhas de passe) que as Gurias Coloradas abriram o placar. Mai cruzou da direita, Millene deixou a bola passar e Duda completou para as redes sem chances para Taty Amaro (substituída da lesionada Rubi). O castigo veio cinco minutos depois, com Karen aproveitando rebote de Gabi Barbieri. E a maior prova de que o Internacional não era efetivo foi o gol perdido pela experiente Fabi Simões no finalzinho da partida após belo passe de Priscila no espaço às costas da zaga das Cabulosas.
Acaba que a partida disputada nesta segunda-feira (16), no Sesc Campestre, foi mais uma demonstração do salto de qualidade que a modalidade deu aqui no Brasil. Todo jogo passou a ser bastante estudado e cada detalhe influencia diretamente no resultado final. As Gurias Coloradas até poderiam ter ficado com os três pontos e assumido a liderança do Brasileirão Feminino se tivesse sido mais efetiva e aproveitado mais as chances que teve. O Cruzeiro, por sua vez, conseguiu arrancar um empate precioso apesar de todos os problemas e de toda a irregularidade que a equipe de Felipe Freitas vem apresentando na temporada. E fica também a certeza de que o escrete comandado por Maurício Salgado pode e deve jogar mais e melhor do que vem jogando. Ainda mais diante do potencial do elenco colorado.
Há quem veja uma certa injustiça no resultado final do jogo desta segunda-feira (16) por conta do volume de jogo do Internacional e das chances criadas ao longo da partida. Só que o futebol foi forjado no mais puro caos e não perdoa tantas falhas em momentos decisivos. E a impressão que ficou desse empate foi a de que o Cruzeiro entendeu melhor o cenário, se fechou como pôde e contou com uma bela dose de sorte. Mesmo assim, a efetividade das Cabulosas foi bem maior do que a das Gurias Coloradas. E isso faz muita diferença.