Home Futebol Seleção feminina tem atuação de cinema contra a Alemanha, mas ainda é preciso manter os pés no chão

Seleção feminina tem atuação de cinema contra a Alemanha, mas ainda é preciso manter os pés no chão

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida desta terça-feira (11) e explica como Pia Sundhage montou sua equipe

Por Luiz Ferreira em 12/04/2023 09:58 - Atualizado há 2 anos

Thaís Magalhães / CBF

Mais do que a vitória sobre a Alemanha, a atuação da Seleção Feminina na partida desta terça-feira (11) provou mais uma vez que temos uma equipe altamente competitiva e um trabalho bastante sólido. Por mais que receba críticas (algumas honestas e outras nem tanto assim), Pia Sundhage vem conseguindo implementar um jogo coletivo fortíssimo e muito coeso no Brasil. O ótimo desempenho apresentado em Nuremberg (como a própria treinadora sueca afirmou em entrevista coletiva) foi sim a melhor apresentação do escrete canarinho sob seu comando. E talvez a melhor notícia dessa Data FIFA seja o fato da Seleção Feminina estar apresentando uma melhora considerável às vésperas da Copa do Mundo.

No entanto, por mais que a empolgação seja compreensível, é preciso ter MUITA CALMA nas análises. Mesmo tendo feito ótimos jogos contra Inglaterra e Alemanha, o Brasil ainda não está no mesmo patamar das melhores seleções do planeta e ainda precisa de ajustes em todos os setores. A cobrança precisa ser proporcional ao cenário onde a equipe comandada por Pia Sundhage está inserida para que o desempenho das duas últimas partidas não seja tomado como uma obrigação inegociável. Entender nosso lugar é fundamental para que o trabalho não seja prejudicado.

Por outro lado, é óbvio que a atuação da Seleção Feminina em Nuremberg pode E DEVE ser celebrada. O time mostrou solidez defensiva e ainda conseguiu dar um “calor” na equipe de Martina Voss-Tecklenburg (que talvez esperava um Brasil mais fechado nesse início de jogo). Notem que apesar do 4-4-2/4-2-4 ter sido a formação básica, a equipe variou bastante a formação. No lance do primeiro gol, Tamires aparece na frente ao lado de Gabi Nunes na já conhecida variação para um 3-1-4-2 com Ary Borges vindo mais por dentro e Luana aparecendo pelo lado direito.

Rafaelle carrega a bola e a Seleção Feminina se organiza num 3-1-4-2 com Ary Borges por dentro, Luana por fora e Tamires bem à frente. Foto: Reprodução / YouTube / Germany Football

É interessante notar que a Alemanha teve poucas chances na primeira etapa. A mais clara dela saiu em falta cobrada por Alexandra Popp que Lelê defendeu de maneira segura (aliás, mais uma boa atuação da goleira brasileira). Mesmo assim, o time de Martina Voss-Tecklenburg conseguiu criar problemas quando acelerou as trocas de passe e partiu para os duelos mais físicos. Não foi por acaso que Pia Sundhage não ficou satisfeita com a escapada de Lea Schüller às costas de Antônia, Kathellen e Rafaelle. As duas linhas de marcação do Brasil estavam organizadas, mas a equipe abriu espaços demais na frente da defesa. O setor conseguiu se virar bem apesar dos pontos levantados anteriormente.

Lea Schüller recebe às costas da zaga brasileira e cria a primeira chance da Alemanha. Pia não ficou satisfeita com a cobertura defensiva. Foto: Reprodução / YouTube / Germany Football

Apesar disso, a Seleção Feminina conseguia manter a consistência e arriscava bons ataques com Adriana jogando como uma espécie de “ponta-armadora”, jogando muito sem a bola e fazendo boa dupla com Tamires (exatamente como nos tempos de Corinthians). Ao mesmo tempo, Luana mostrou que está recuperando o bom futebol de anos passados com muita força na marcação e ótima distribuição de passes no meio-campo. E também precisamos falar de Gabi Nunes, Geyse (importantíssimas no ataque) e em mais uma grande atuação de Antônia como “lateral-base” no Brasil.

Mas talvez o posicionamento de Kerolin como volante seja a grande notícia dessa Data FIFA. A atuação da camisa 21 jogando até mais recuada do que Luana foi simplesmente fantástica. A leitura da movimentação adversária para cobrir as subidas na pressão das companheiras de equipe e conseguir desafogar a Seleção Feminina na saída de bola estão cada vez mais apuradas. Sem dúvidas, a sua presença no elenco (erradamente contestada por este que escreve há algum tempo) e seu posicionamento como volante foram os grandes acertos de Pia Sundhage nesse ciclo.

Certo é que o grupo inteiro já comprou as ideias da treinadora sueca. A execução das ideias parece mais “natural” do que alguns jogos atrás e o nível de concentração apresentado surpreendeu muita gente. Até mesmo no segundo tempo, quando a Seleção Feminina sofreu um pouco mais com as investidas do escrete germânico, as jogadoras deram a impressão de terem finalmente compreendido o que Pia tanto pede no trabalho com e sem a bola, na antecipação dos lances e na intensidade colocada em cada momento da partida. Com o time bem organizado no 4-4-2/4-1-3-2, as coisas funcionaram bem. Destaque (mais uma vez) para o trabalho de Kerolin na cobertura das laterais e na “regência” do meio-campo.

Antônia salta para a pressão e Kerolin fecha o espaço às costas da camisa 2. A execução das ideias de jogo parece cada vez mais natural. Foto: Reprodução / YouTube / Germany Football

Mesmo assim, ainda é altamente necessário manter os pés no chão e compreender bem o cenário no qual a Seleção Feminina está inserida. O gol de Jule Brand nos acréscimos da partida desta terça-feira (11) nos mostrou que a equipe como um todo ainda precisa de um pouco mais de maturidade em determinados momentos. Além disso, o nível de exigência física e mental será muito maior na Copa do Mundo e dificilmente veremos Alemanha e Inglaterra cometendo os mesmos erros que cometeram nessa Data FIFA. Por outro lado, precisamos sim exaltar a competitividade e o jogo coletivo apresentado pela equipe de Pia Sundhage nessas duas partidas. É algo que empolga sim. Ainda mais quando olhamos para trás.

Está claro para este que escreve que a treinadora sueca já tem a sua base e deve fazer pouquíssimas mudanças na convocação final para o Mundial da Austrália e da Nova Zelândia. E aqui vale um adendo importante: você pode não gostar do trabalho de Pia (e tá tudo bem). Mas precisa reconhecer que o desempenho da equipe nessa Data FIFA foi sim sensacional. Muitas falácias caíram e muitos discursos desonestos perderam o sentido. E a sensação que fica é a de que a Seleção Feminina tem tudo para fazer uma grande Copa do Mundo.

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