Nova convocação da seleção brasileira segue a linha de renovação, mas as incertezas permanecem
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a lista de Ramon Menezes para a Data FIFA de junho e a busca pelo novo técnico
Thais Magalhães / CBF
Ramon Menezes deixou a Seleção Sub-20 na Argentina depois da vitória sobre a Nigéria, veio para o Rio de Janeiro e anunciou a lista de convocados para os amistosos contra Guiné e Senegal nos dias 17 e 20 de junho. O grupo escolhido tem boas surpresas como o lateral Vanderson (do Monaco), o volante Joelinton (do Newcastle) e o zagueiro Nino (do Fluminense). Só que a análise dessa convocação vai muito além dos nomes chamados no último domingo (28). Mesmo com a confirmação de Ramon Menezes no comando da equipe na Data FIFA de junho, as incertezas quanto ao novo comandante da Seleção Brasileira permanece fortes. Principalmente quando o assunto é o substituto de Tite no comando da equipe.
Isso porque a CBF deixa a sensação de ir até o fim pela contratação de Carlo Ancelotti, mesmo com o italiano repetindo mais de uma vez que não pretende deixar o Real Madrid. Ao mesmo tempo, Ramon Menezes segue a linha do “manda quem pode e obedece quem tem juízo” se agarrando numa chance (ainda que remota) de assumir o comando da Seleção Brasileira pelo menos até o ano que vem. Assim sendo, qual é o planejamento para a equipe? Apostar na renovação do elenco? Incorporar alguns nomes da equipe Sub-20 e dar minutos para outros mais jovens? Ou manter uma base até que o novo treinador chegue e implemente seus conceitos? Sendo bem franco, não me parece que a CBF pense dessa forma.
É sempre possível discutir a presença e/ou a ausência de alguns nomes presentes na lista de Ramon Menezes. Pessoalmente, senti falta de Douglas Luiz (volante que fez grande temporada no surpreendente Aston Villa de Unai Emery) e de Arthur Cabral (atacante da Fiorentina finalista da Conference League). No entanto, é bem possível que esses jogadores convocados chamados no domingo (28) se saiam bem nos amistosos contra Guiné e Senegal. Ainda mais tendo em vista que Ramon Menezes tem um estilo de jogo semelhante ao de Tite, com uma linha de cinco atacantes bastante móvel, muita participação dos volantes na transição ofensiva e zagueiros de muita qualidade no passe vertical.
Se a aposta em Andrey Santos, Arthur, Vitor Roque e outros jovens valores da equipe Sub-20 foi a tônica do amistoso contra o bom time de Marrocos, Ramon Menezes aposta na experiência por motivos óbvios. Difícil imaginar que o treinador interino da Seleção Brasieira fosse convocar algum jogador do elenco que está na Argentina com a Copa do Mundo da categoria em andamento e muita coisa em jogo. Marquinhos, Danilo, Casemiro, Bruno Guimarães, Richarlison e outros serão muito úteis dar mais consistência ao sistema defensivo, grande problema da equipe na última Data FIFA. Na ocasião, Ramon Menezes apostou em duas linhas com quatro atletas na frente da área. Tal como faz na Sub-20.
Sobre o time-base do Brasil nas duas partidas, não há muito o que pensar. Por mais que se discuta a presença deste ou daquele nome na lista, a equipe deve ser muito parecida com a que vinha jogando na Copa do Mundo. Danilo pode dar muito mais consistência ao sistema defensivo e soltar mais Alex Telles para apoiar o ataque na esquerda. Lucas Paquetá pode crescer ainda mais de produção com Bruno Guimarães dividindo a criação das jogadas ao seu lado e a dupla formada por Vinícius Júnior e Rodrygo merece mais e mais minutos seja com Richarlison ou Pedro no comando de ataque. E ainda há Joelinton, Malcom, Vanderson e Nino à disposição. Todos com grande potencial e prontos para somar.
Mas isso não resolve todas as questões. Por mais que Ramon Menezes tenha convocado um grupo forte, as dúvidas sobre o futuro da equipe permanecem muito por conta da postura da CBF na busca pelo novo treinador. Já se fala que a entidade pode esperar por Carlo Ancelotti até junho de 2024, quando seu contrato com o Real Madrid chega ao final. Ao mesmo tempo, nomes como Jorge Jesus, Fernando Diniz, Dorival Júnior e Abel Ferreira seguem no radar sem que os dirigentes ao menos se posicionem sobre o planejamento para o novo ciclo, as prioridades de momento e a proximidade das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. Fica difícil pensar em qualquer coisa a longo prazo dessa maneira.
As incertezas ainda vão se fazer presentes na Seleção Brasileira. Enquanto o novo treinador não for anunciado, vai ser praticamente impossível pensar no que virá pela frente no âmbito tático e técnico. Discutir ideias de jogo e métodos de trabalho será um outro problema grave diante desse cenário incerto. Falou-se demais em renovação e final de ciclo de alguns jogadores que estiveram no Catar no ano passado e pouco se pensou no nome certo para fazer essa nova geração de jogadores finalmente desabrochar e fazer a alegria da torcida brasileira. No entanto, a impressão que fica é a de que a CBF parece mais preocupada com a Data FIFA do que com o técnico da Seleção Brasileira.
É meio complicado pensar em avaliações mais profundas (visando o médio e longo prazo) das partidas contra Guiné e Senegal por causa dos motivos levantados anteriormente. Ramon Menezes será o treinador da equipe? Até quando? A CBF vai insistir em Carlo Ancelotti sabendo da proximidade das Eliminatórias para a Copa do Mundo? E como fica a preparação do time Sub-23 que vai disputar os Jogos de Paris 2024? E a Copa América do ano que vem? Como se vê, há muitas perguntas que seguem ser resposta. E isso não deve mudar tão cedo na Seleção Brasileira.
