Veja regras do Fair Play Financeiro da CBF e as punições para os clubes
Confederação vai estipular limites para gastos e dívidas das equipes
CBF na bola do Brasileirão. Foto: Gilson Lobo/AGIF/Alamy
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apresentou o plano do Fair Play Financeiro do futebol brasileiro. O anúncio foi feito durante a última reunião do Grupo de Trabalho, realizada na sede da entidade, no Rio de Janeiro.
Os representantes dos clubes e federações ainda poderão enviar sugestões até 14 de novembro. A versão final do regulamento será divulgada no dia 26 e o novo modelo começará a valer em janeiro de 2026.
O diretor executivo da CBF e relator do grupo, Helder Melilo, destacou a participação dos clubes e federações no processo de construção.
“Ficamos muito felizes com a ampla participação dos clubes e federações, que demonstra o sucesso desse novo modelo de gestão da CBF, pautado pelo diálogo e pela construção coletiva. Recebemos diversas informações e sugestões e conseguimos acolher cerca de 80% das contribuições”, afirmou Melilo.
Ele também explicou que nem todas as propostas puderam ser incluídas. “Aquilo que, porventura, não estiver contemplado, por ultrapassar o escopo de atuação da CBF no regulamento do Fair Play Financeiro, nós nos colocamos à disposição para atuar como interlocutores junto às instâncias competentes.”
CBF adapta modelo europeu
Segundo a entidade, o sistema foi inspirado em formatos utilizados nas cinco principais ligas europeias — Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França —, mas com ajustes à realidade dos clubes brasileiros.
O Fair Play Financeiro tem como pilares o controle de dívidas em atraso, o equilíbrio operacional, o controle de custos com elenco e o controle de endividamento de curto prazo.
Caio Rezende, diretor da CBF Academy, afirmou que o maior desafio foi equilibrar boas práticas da Europa com a realidade econômica do Brasil.
“O maior desafio foi criar uma regulamentação que fizesse sentido para a realidade dos clubes brasileiros, a partir da consolidação de sugestões recebidas. Estudamos detalhadamente grandes modelos europeus, mas adaptamos à nossa realidade”, disse Rezende.
“Em vez de impor barreiras à entrada de capital, buscamos construir um sistema que priorize a sustentabilidade. Ou seja, que os clubes não gastem mais do que arrecadam e não acumulem dívidas.”
Rezende destacou ainda que a prioridade da CBF é criar um ambiente de confiança para novos investimentos. “Logo no início do grupo de trabalho, o presidente Samir deixou claro que a prioridade era garantir um ambiente seguro para atrair investimentos, sem engessar a gestão dos clubes.”
Regras e punições
O novo regulamento prevê uma série de punições para clubes que descumprirem as normas financeiras. Na primeira violação, o clube deverá apresentar um plano de ação. Em caso de reincidência, passam a valer sanções graduais, como advertência pública, multa, retenção de receitas e proibição de registrar atletas, o chamado transfer ban.
Nas infrações mais graves, o clube poderá sofrer dedução de pontos, rebaixamento ou cassação de licença.
Para clubes em recuperação judicial, o texto propõe medidas específicas. As principais são limitação da folha salarial e equilíbrio nas janelas de transferência. Só será possível contratar se o valor gasto for igual ou inferior ao obtido com vendas.
Participação dos clubes
O grupo de trabalho contou com a presença de 77 clubes, além de federações e representantes do setor econômico do futebol. Entre os temas mais debatidos estavam os pagamentos em atraso e a padronização contábil.
O presidente do Grêmio, Alberto Guerra, elogiou a iniciativa e destacou o avanço que o projeto representa.
“A avaliação é muito positiva. Foi feito um excelente trabalho em pouco tempo, com regras bastante claras. Alguns ajustes ainda precisam ser tomados, mas é uma ferramenta importante e muito necessária no futebol brasileiro”, afirmou.
“Tenho certeza que, em médio e longo prazo, vai ser bom não só para o futebol, mas para os clubes também. Fiquei honrado com o convite de poder participar e trocar essas ideias, contar também das dores do Grêmio.”
Implementação em 2026
O Fair Play Financeiro começará a valer oficialmente em janeiro de 2026. Até lá, a CBF seguirá recebendo sugestões e promovendo ajustes técnicos.
O novo sistema busca criar um ambiente previsível e transparente, limitando gastos e controlando o endividamento. Segundo a CBF, o objetivo não é punir, mas educar.
Com o regulamento, a entidade quer evitar que clubes acumulem dívidas impagáveis e garantir condições mais equilibradas de competição. A CBF avalia que o Fair Play Financeiro representa um passo importante para a sustentabilidade do futebol brasileiro e pretende revisar o sistema anualmente para acompanhar a evolução das finanças dos clubes.

