Clube da 2ª divisão do Ceará vai receber R$ 80 milhões da CBF após erro; entenda a história
Erro que impediu acesso à Série A; clube planeja quitar dívidas e reestruturar CT
Icasa atuando pela Série D. Foto: Augusto Ratis/AGIF (via AP)
O Icasa recebeu nesta quinta-feira um desfecho aguardado por mais de dez anos. A Confederação Brasileira de Futebol depositou R$ 80,9 milhões em uma conta judicial ligada ao clube de Juazeiro do Norte. O valor põe fim ao processo que discutia a perda do acesso à Série A do Campeonato Brasileiro em 2014.
A confirmação partiu do presidente Celso Pontes, que acompanhou de perto os últimos capítulos da ação. O dinheiro foi liberado após a conclusão das etapas judiciais e representa uma das maiores indenizações já pagas no futebol brasileiro por erro administrativo.
A decisão encerra um litígio que atravessou diferentes gestões, mudanças no cenário jurídico e anos de espera por parte da torcida e da diretoria alviverde. A premiação chega a superar valores do Brasileirão Série A.
Caso teve origem na Série B de 2013
A disputa começou ainda na Série B de 2013. O Icasa terminou o campeonato na quinta colocação, com um ponto a menos que o Figueirense, último time dentro da zona de acesso. O resultado, à época, tirou o clube cearense da elite nacional.
Pouco depois, surgiu a denúncia de que o Figueirense havia escalado Luan Niezdzielski de forma irregular em uma partida contra o América-MG. O atleta estava suspenso, mas entrou em campo, o que configuraria infração ao regulamento da competição.
Diante do episódio, o Icasa acionou a Justiça Desportiva e pediu a perda de pontos do adversário. A punição alteraria a classificação final e garantiria o acesso inédito do clube à Série A.
Reconhecimento tardio e recursos da entidade
A CBF reconheceu posteriormente que houve erro no processo, mas optou por recorrer das decisões iniciais. A estratégia jurídica adiou qualquer reparação imediata e empurrou o caso para a Justiça comum.
Ao longo dos anos, o processo acumulou recursos, revisões e reavaliações. O tempo transformou a discussão esportiva em uma disputa financeira, com correção monetária e juros elevando o valor da indenização.
Somente agora, após 11 anos, a liberação dos recursos foi confirmada, encerrando definitivamente o caso nos tribunais.
Valor final e divisão do montante
O alvará judicial fixou a indenização total em R$ 84,3 milhões. Desse montante, cerca de R$ 75 milhões ficarão efetivamente com o Icasa. O restante será destinado ao pagamento de honorários advocatícios e despesas do processo.
O valor não será transferido de forma direta para a conta corrente do clube. A quantia ficará vinculada ao Judiciário para garantir a quitação automática de dívidas que o Icasa possui em ações judiciais. Somente o saldo final ficará disponível para uso administrativo.
Mesmo com os descontos, a diretoria trabalha com a expectativa de um impacto financeiro significativo.
Planos envolvem reestruturação e retomada esportiva
A direção do Icasa projeta utilizar os recursos para reorganizar o clube. A prioridade passa pela quitação de pendências financeiras e pela modernização do Praxedão, centro de treinamento da equipe.
Além da estrutura, o dinheiro deve permitir a montagem de um elenco mais competitivo. O objetivo é fortalecer o time para a disputa da Série B do Campeonato Cearense, competição que o clube encara como ponto de partida para uma retomada esportiva.
Fora da elite estadual desde 2022, o Icasa tenta reconstruir sua presença no cenário regional e nacional. A indenização surge como um marco administrativo, capaz de alterar o horizonte de curto e médio prazo.
Silêncio da CBF e novo capítulo para o clube
Até o momento, a CBF não se manifestou publicamente sobre o pagamento. O encerramento do processo, porém, elimina um passivo histórico que acompanhou a entidade por anos.
Para o Icasa, o capítulo judicial chega ao fim enquanto outro se inicia. Sem promessas imediatas de glória esportiva, o clube agora tem a chance de reorganizar sua base financeira e redefinir seus próximos passos dentro de campo.

