Home Futebol Empate contra o Vila Nova escancara o deserto de ideias que é o time do Vasco hoje em dia

Empate contra o Vila Nova escancara o deserto de ideias que é o time do Vasco hoje em dia

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Zé Ricardo e a péssima atuação coletiva do time na abertura da Série B

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Este colunista escreveu no dia 6 de março que Zé Ricardo havia encontrado uma alternativa interessante para bater de frente contra adversários mais fortes. Menos espaços entre as linhas, forte pressão no portador da bola e alta velocidade nos contra-ataques. Tudo para criar todo tipo de dificuldade possível para o Flamengo de Paulo Sousa. E tudo o que não se viu no jogo contra o Vila Nova, disputado nesta sexta-feira (8), em São Januário. Na prática, o empate contra a equipe comandada por Higo Magalhães só escancarou ainda mais todos os problemas coletivos e o deserto de ideias que é o Trem Bala da Colina nesses últimos meses. De nada adiantou o tempo de preparação para o início do Brasileirão da Série B, visto que os erros de 2021 ainda se fazem bastante presentes nesse início de temporada.

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É interessante notar que o discurso de Zé Ricardo antes da partida falava em intensidade, competitividade e concentração para vencer seus adversários nessa caminhada de volta à elite do futebol brasileiro. Só que as coisas começaram a desandar na escalação inicial do Vasco. A formação inicial girava em torno de um 4-2-3-1 que só ganhava profundidade quando Nenê trocava de posição com Gabriel Pec para buscar o espaço às costas da última linha do 4-1-4-1 do Vila Nova. Muito pouco para tanto tempo de treinamento. E para piorar a situação, Zé Ricardo insistiu em Bruno Nazário jogando como uma espécie de “ponta-armador” pelo lado direito e em dois volantes (Zé Gabriel e Yuri Lara) mais marcadores do que criadores. Não foi por acaso que o Vila Nova criou tantos problemas no jogo desta sexta-feira (8).

Formação inicial das duas equipes em São Januário. Zé Ricardo apostava num 4-2-3-1 no Vasco e Higo Magalhães mandava o Vila Nova para o jogo num 4-1-4-1 bem compactado.

O gol de Raniel (marcado logo aos oito minutos de partida em falha coletiva da defesa do Vila Nova) deixou a impressão de que o cenário seria mais favorável ao Vasco. No entanto, Arthur Rezende empatou três minutos depois num dos pontos mais vilneráveis do Trem Bala da Colina em pelo menos duas temporadas: a bola aérea defensiva. Ao mesmo tempo, Zé Gabriel e Yuri Lara encontravam muitas dificuldades para dar sequência às jogadas de ataque e deixavam o quarteto ofensivo completamente isolado na frente. Enquanto isso, o Vila Nova se fechava com Rafinha Silva na frente da zaga, Pablo e Arthur Rezende armando o jogo e fazendo boas duplas com os laterais Alex Silva e Willian Formiga e com Rubens abrindo espaços para as chegadas de Pablo Dyego (AQUELE MESMO que jogou no Fluminense) e Matheuzinho.

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A teoria nos apresentava um Vasco mais dominante e mais envolvente (pelo menos de acordo com o discurso de Zé Ricardo e dos jogadores antes do início da Série B). A prática nos mostrou um Trem Bala da Colina perdido em campo e sem ter muito o que fazer com a bola. Conforme dito anteriormente, o time de São Januário conseguia levar algum perigo apenas quando Nenê trocava de posição com Gabriel Pec e buscava a linha de fundo. De resto, toda a equipe permaneceu muito estática e completamente passiva diante da marcação do Vila Nova. E diante de tudo o que se via em campo nesta sexta-feira (8), este que escreve se pergunta se o Vasco realmente aproveitou o tempo livre para trabalhar e se condicionar fisicamente.

É muito difícil dizer que alguma coisa mudou do Campeonato Carioca até aqui. O jogo contra o Flamengo (disputado há pouco mais de um mês) nos mostrava uma equipe que conseguiu se adaptar a um contexto desfavorável e incomodar bastante seu adversário. Contra o Vila Nova, no entanto, as coisas foram diferentes. Isso porque o Tigre escolheu se fechar na defesa, isolar o quarteto ofensivo do restante da equipe e colocar muita intensidade nas transições. Aliás, não é surpresa para este que escreve que o time de Higo Magalhães tenha terminado a partida com mais finalizações do que o Vasco (16 a 12) sem ter ficado tanto com a bola (apenas 39% de posse durante todo o jogo). Números que só ajudam a entender o tamanho do problema.

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O time do Vasco pecou demais pela lentidão nas transições e com a falta de ideias para furar o 4-1-4-1 do Vila Nova. As únicas boas jogadas saíam quando Nenê trocava de posição com Gabriel Pec e partia em direção da linha de fundo. Foto: Reprodução / Premiere / GE

O panorama pouco mudou no segundo tempo. O Vila Nova seguia bem fechado na frente da sua área e obrigava o Vasco a apelar para ligações diretas na direção do quarteto ofensivo. Zé Ricardo tentou dar mais velocidade para sua equipe com as entradas de Vitinho, Figueiredo, Getúlo, Juninho e Lucas Oliveira, mas as dificuldades na criação das jogadas e os erros nas tomadas de decisão persistiam. Enquanto isso, o Vila Nova ia arriscando alguns contra-ataques e mantendo a marcação encaixada no meio-campo para arrancar um empate fora de seus domínios nessa abertura de Série B. Aliás, o escrete de Higo Magalhães tinha a vida bastante facilitada pelo posicionamento ruim dos jogadores do Vasco no meio-campo e na saída de bola. Acabava que a única saída era fazer a ligação direta e rezar para funcionar.

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O Vila Nova manteve seu 4-1-4-1 no segundo tempo, fechou as linhas de passe e obrigou seu adversário a apelar para as ligações diretas. O Vasco encontrou muitas dificuldades para fazer a bola chegar no ataque com um mínimo de qualidade. Foto: Reprodução / Premiere / GE

A oportunidade desperdiçada por Zé Gabriel aos 48 minutos do segundo tempo e a imperdoável pirraça de Nenê ao ser substituído resumem bem o Vasco nesses últimos dias. Por mais que o Vila Nova tenha sido competitivo e usado o contexto da partida a seu favor, a impressão que fica é a de que o time de Zé Ricardo não sabia o que fazer para levar a bola ao ataque ou para minimamente incomodar seu adversário dentro de seus domínios. Este colunista entende bem que ainda é preciso ter um pouco de paciência com Zé Ricardo por conta do início da Série B e do processo de entendimento entre treinador e jogadores. Por outro lado, as cobranças da torcida e da imprensa são certeiras quando falam na falta de criatividade de um time que deixou a sensação de estar completamente desgastado no meio do segundo tempo.

Difícil não perceber que o sinal de alerta já está ligado em São Januário. As atuações mais pobres e o futebol ruim fizeram com que o Vasco permanecesse na Série B de 2021 para 2022. Há como o time jogar mais e melhor mesmo sem os tão sonhados reforços da 777 Partners (que só deve assumir o futebol vascaíno no segundo semestre). Ainda mais sabendo que nível de exigência física do Brasileirão da Série B é muito mais alto do que aquele visto no Campeonato Carioca. O primeiro aviso já foi dado.

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