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Conheça a história das taças da Copa do Mundo

Obra anterior passou por roubos, guerra e sumiu no Brasil; Taça atual irá para as mãos do vencedor pela 13ª vez nesta edição de 2022

Thiago Chaguri
Apaixonado por esporte desde criança, acompanho diversas modalidades por acreditar na magia e nas boas histórias que seus protagonistas e torcedores proporcionam. Além do entretenimento, admiro também as pluralidades táticas e estratégicas.

Símbolo da conquista máxima do futebol, a taça da Copa do Mundo será entregue ao campeão no dia 18 de dezembro em Doha, no Catar. 80 mil pessoas estarão presentes no estádio Lusail e bilhões ao redor do planeta irão acompanhar através de plataformas multimídia o capitão de uma das 32 seleções participantes ser eternizado na história junto de seus companheiros.

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O atual modelo foi produzido em 1971 e oferecido ao ganhador a partir do Mundial de 1974. Primeira a ter a honra de erguer este troféu, a Alemanha repetiu o feito em 1990 e 2014. Brasil, Argentina, França e Itália faturaram dois cada, enquanto a Espanha levou uma vez para casa.

Já a antiga Taça Jules Rimet foi a premiação oficial por nove edições, de 1930 a 1970. Itália e Uruguai obtiveram sucesso em duas ocasiões. Alemanha e Inglaterra ganharam um exemplar. O Brasil conquistou em três oportunidades e, por regra, obteve o direito de sua posse definitiva. Em 1983, entretanto, houve o famoso roubo na sede da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), caso nunca resolvido que sempre desperta mistério no imaginário popular.

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Primeira taça da Copa foi inspirada na deusa grega da vitória

O objeto mais cobiçado pelas seleções foi oficialmente revelado em 1930, há poucos dias do início da primeira Copa do Mundo. Após desembarque no Uruguai, sede do torneio, o presidente da Fifa Jules Rimet concedeu uma entrevista coletiva e apresentou a “Vitória das Asas de Ouro”, nome dado à taça que seria entregue ao campeão.

A peça possuía 35 centímetros e 3,8 quilos, sendo 1,8 de ouro maciço, além de partes em prata. Sua base era feita de lápis-lazúli, uma pedra semipreciosa de tom azul.  

Taça Jules Rimet / Foto: Reprodução/BBC

Inspirado pela imagem de Niké, deusa da vitória na mitologia grega, o próprio Rimet foi o responsável pelo esboço. A confecção ficou a cargo de Abel Lafleur, um artista francês que trabalhava como restaurador no Museu de Belas-Artes de Rodez, no sul da França. O relato mais divulgado é que a produção levou aproximadamente três meses para ficar pronta. Seu orçamento foi estimado em uma quantia considerável à época: 50 mil francos suíços, correspondente a 14.500 mil dólares.

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A posse era transitória, porém tornaria-se definitiva para a primeira seleção a conquistar o título mundial por três vezes. Até então, cada vencedor permanecia com a taça original e a devolvia obrigatoriamente meses antes da próxima edição.

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Esconderijo secreto durante a guerra

O primeiro país bicampeão da Copa foi a Itália. Fora da competição em 1930 ao liderar um boicote pela escolha do Uruguai como anfitrião, a Squadra Azzurra faturou as edições de 1934 e 1938. Tal feito a coloca como a única seleção da história a obter dois títulos em suas duas primeiras participações.

No período da segunda conquista a Europa já vivenciava um clima de alerta devido ao rearmamento ostensivo e o expansionismo territorial da Alemanha nazista liderada por Adolf Hitler, afrontando o Tratado de Versalhes – um acordo de paz com uma série de imposições rigorosas contra a Alemanha, considerada responsável pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Em 1939 houve a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Comandada pelo primeiro-ministro e ditador fascista Benito Mussolini, a Itália era uma das principais integrantes do “eixo” junto de Alemanha e Japão. A taça, portanto, estava em posse de um país totalmente envolvido no confronto bélico.

Diante desta situação, diz a lenda que o secretário-geral da federação italiana Ottorino Barassi precisou retirá-la de um banco em Roma, onde estava preservada, e escondê-la numa caixa de sapato embaixo de sua cama para evitar o roubo de soldados nazistas e de ladrões fascistas. Incrivelmente a valiosa obra escapou ilesa de danificações deste tenebroso período da humanidade. A narrativa mais provável, porém, é de que ela fora transferida para um cofre de um banco na Suíça.

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A derrota do “eixo” em 1945 decretou o fim das batalhas. Já no ano posterior houve o retorno do Congresso da Fifa, realizado em Luxemburgo. Como forma de homenagear os 25 anos de cargo do então presidente, dirigentes aprovaram rebatizar a “Vitória das Asas de Ouro” para “Taça Jules Rimet”. O francês, até o presente momento, é o mandatário mais longevo da entidade. Comandou-a de 1921 a 1954.

Pickles, um detetive bom pra cachorro

A taça aportou na Inglaterra em janeiro de 1966. Dois meses depois, em 20 de março, foi roubada em plena luz do dia dentro da Igreja Metodista Westminster Central Hall, onde estava exposta. O fato rapidamente virou notícia pelo mundo e preocupou a população local quanto à realização da competição. Além disso, a imagem do país e da polícia foi arranhada pela demora na resolução do caso.

Houve uma tentativa frustrada de recuperação no dia 23 de março. Um rapaz que se identificou como “Jackson” enviou parte do objeto em um pacote endereçado à Joe Mears (presidente da federação inglesa e do Chelsea) exigindo 15 mil libras pelo resgate e uma carta ameaçando o derretimento caso a polícia tomasse conhecimento das tratativas. Mesmo diante desta situação o departamento policial foi acionado. Um detetive designado fingiu ser assistente de Mears para abrir negociações com o meliante e descobrir o paradeiro do objeto. No final das contas descobriram que “Jackson” era somente o intermediador e seu verdadeiro nome era Edward Betchley. Mesmo condenado a dois anos de prisão, Betchley nunca revelou a real identidade do ladrão.

Toda a investigação voltou a estaca zero, mas por pouco tempo. No dia 27 aconteceu algo totalmente inesperado em Norwood, sul de Londres. Um cachorro chamado Pickles farejou um embrulho de jornal em um jardim e despertou a atenção de seu dono, David Corbett. O homem desenrolou os papéis e, para a sua surpresa, lá estava a tão procurada taça. Corbett a entregou às autoridades e recebeu uma recompensa de 5 mil libras de patrocinadores, além de ingressos para todos os jogos da Inglaterra na competição. Pickles também ficou famoso. Participou de programas de TV e até protagonizou um filme, além de ter acompanhado seu dono nas partidas.

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Pickles e seu dono, David Corbett / Foto: AAP

Obra “sobreviveu” à guerra e a um roubo na Inglaterra, mas teve seu trágico fim no Brasil

Após esta epopeia do cãozinho, a Fifa encomendou uma réplica da peça em 1968. Ainda assim manteve a decisão de entregar a original para a primeira seleção tricampeã do certame.

Quem realizou a façanha, por acaso, foi a seleção brasileira, em 1970. A posse definitiva foi para as mãos da CBD (renomeada para CBF em 1979) e por lá permaneceu de 1970 até 1983, quando um novo roubo foi registrado. Desta vez a taça nunca mais foi encontrada…

O crime foi arquitetado pelo bancário Sergio Pereira Ayres e executado na noite do dia 19 de dezembro por dois elementos: o negociador de ouro José Luiz Vieira da Silva e Francisco José Rocha Rivera, ex-policial. Ambos renderam, amarraram e vendaram os olhos do vigilante João Batista Maia, de 55 anos. Apesar da proteção à prova de balas da vitrine, os ladrões levaram apenas 20 minutos para concluir a ação. Eles removeram os pregos das bases fixadas na parede para realizar a subtração. Todo este procedimento ocorreu dentro da antiga sede da CBF, na Rua da Alfândega, centro do Rio de Janeiro. Posteriormente, o ourives argentino Juan Carlos Hernandez, que já havia sido preso por estar clandestinamente no Brasil, receptou o objeto.

A Polícia Federal foi designada para cuidar do caso devido a comoção do sumiço do “orgulho nacional”. Os suspeitos foram capturados após uma denúncia de Antônio Setta, que havia sido convidado por Sergio a participar da trama. Setta vivia de pequenos roubos, mas recusou-se a participar deste por motivos patrióticos. Quando o caso foi noticiado pela imprensa, ele não titubeou e avisou a polícia sobre a abordagem recebida. 

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Até hoje o caso não foi totalmente esclarecido, mas há fortes suspeitas de que houve o derretimento da taça. Portanto, o que existe atualmente é apenas uma réplica exposta no Museu da Fifa.

Substituição: sai a Taça Jules Rimet e entra Taça da Copa do Mundo Fifa

Em 1971, a Fifa promoveu um concurso para substituir a Taça Jules Rimet. Dentre os 53 projetos elaborados por artistas diversos, o escolhido foi o de Silvio Gazzaniga. O italiano era diretor artístico do Stabilimento Artístico Bertoni (atual GDE Bertoni), uma empresa localizada em Milão que produz troféus – inclusive o da Champions League -, medalhas e outras peças semelhantes.

A obra foi batizada de “Taça da Copa do Mundo Fifa” e pesa 6,175 quilos, sendo 4,9 de ouro 18 quilates distribuídos por 36,8 centímetros. Há o nome “Fifa World Cup” (Copa do Mundo Fifa) grafado próximo à base, entre duas faixas envoltas por pedras semipreciosas na cor verde, a malaquita. Seu valor de confecção foi estimado em 100 mil francos suíços, que correspondia a 38,5 mil dólares na época.

A taça da Copa do Mundo / Foto: Divulgação/FIFA

O campeão recebe a taça original em campo, todavia, assim como a antiga, sua posse é transitória. Após o período de quatro anos, a federação do país vencedor recebe uma réplica.

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Desde 1974 cada seleção vencedora tem seu nome registrado na parte inferior da peça original. Tal espaço está reservado para receber a gravura até 2038. A Fifa ainda não divulgou informações se o atual design será mantido ou se haverá um novo modelo após a data final estipulada.

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