Recentemente, dois amigos que trabalham juntos descobriram fazer parte do espectro autista. Juliana Prado e Rafael Lopes possuem TEA (Transtorno do Espectro Autista), um transtorno que gera dificuldades para a pessoa se encaixar no mundo neurotípico, ou seja, no que é considerado pejorativamente como “normal”.
O autismo é um “conjunto de condições caracterizadas por algum grau de dificuldade no convívio social, na comunicação verbal e não verbal e interesses específicos por algumas atividades realizadas de forma repetitiva”, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Além do transtorno, Juliana e Rafael também compartilham a paixão pelo futebol e pelo Corinthians. Ela não frequentava a Neo Química Arena, por não se sentir segura; porém, Rafael marcava presença no estádio e começou a levar a amiga para acompanhar o Corinthians nos jogos em casa.
“A gente queria unir isso com o Corinthians, pois somos dois torcedores malucos”, Juliana revelou
“Para o autista, o novo assusta demais. Acabei reprimindo esse sonho de acompanhar o Corinthians por medo e insegurança. Depois de ele confirmar que tinha autismo, me mostrou que eu também poderia me encaixar. E me encaixei mesmo, me senti livre, foi realmente uma libertação, porque antes eu não me conhecia e me culpava por ter alguns jeitos, me sentia estranha”, completou.
Assim, eles fundaram, em abril deste ano, o “Autistas Alvinegros”, presente em todos os jogos do clube na Neo Química Arena desde então. Segundo Juliana, quem teve a ideia foi Rafael.
O estádio do Corinthians possui um espaço preparado para autistas, com isolamento acústico, fones auriculares e outros materiais para interação de crianças com TEA
A faixa “Autistas Alvinegros”, porém, fica exposta estrategicamente em outro lugar do estádio, de frente para as câmeras, para chamar mais atenção para a causa durante as transmissões televisivas.
A ação gerou resultados e muitas pessoas entraram em contato com o grupo, que viu o setor reservado para autistas ficar cada vez mais frequentado. O goleiro Cássio, inclusive, entrou em contato com o grupo pelo Instagram depois de ver a faixa no estádio para pedir uma camiseta e revelar que Maria, sua filha, é também portadora do autismo.

“É uma deficiência invisível”, informou Juliana. “Sofremos muito, e nas meninas é ainda mais difícil o diagnóstico, porque confundem com timidez. Minha mãe mesmo, quando eu era criança, falava que eu era antissocial. A faixa foi para chamar atenção e chamou. Logo no primeiro jogo, muitas pessoas nos procuraram.”
Ainda sobre o grupo, Juliana apontou: “Além de ir aos jogos e tentar conscientizar cada vez mais as pessoas, temos também dois grupos no WhatsApp, que acolhe o autista, mas também o familiar, pai e mãe, que batalham diariamente, porque não é fácil. O Cássio, depois, nos mandou uma mensagem pelo Instagram. Ele ajudou muito na questão da visibilidade. É o que eu falo: ele é gigante dentro e fora dos gramados”
O goleiro foi premiado, no último domingo, com o Troféu Mesa redonda de melhor goleiro, promovido pela TV Gazeta. Os padrinhos, como são chamados os que entregam o troféu para o vencedor, foram Juliana e Rafael.
“Eu senti que ele ficou bem feliz e surpreso com a nossa presença”, Juliana contou. “Foi algo mágico (…) Só pelo fato de ele falar sobre a filha dele, não me lembro de outros jogadores que tenham feito isso, foi importante e corajoso ele abraçar a nossa causa”.
A ideia é expandir o projeto no próximo ano para ajudar ainda mais pessoas com autismo
O grupo busca patrocínio para apoiar as instituições que auxiliam na causa, seja para compartilhar mais conhecimento, medicação ou tratamento médico.
Sobre o contato com Cássio, Juliana ainda revelou: “Ele falou para a gente marcar encontros em 2023 para ele tentar ajudar de outras formas também”
Quanto ao espaço reservado para autistas na Neo Química Arena você pode ter mais informações e acesso à compra dos ingressos pelo e-mail tea@sccorinthians.com.br.

