O Flamengo teve a sua melhor atuação coletiva sob o comando de Vítor Pereira nesta terça-feira (28). O time mostrou um pouco mais de segurança na defesa e teve alguns lampejos do bom futebol do ano passado. Mesmo assim, essa melhora no desempenho coletivo ainda é muito tímida diante do potencial que a equipe rubro-negra possui. Ao mesmo tempo, a derrota doída nas penalidades e o vice na Recopa Sul-Americana para um Independiente del Valle que entrou em campo com o objetivo de se defender e sair apenas “na boa” mostrou aos dirigentes rubro-negros que não basta gastar rios de dinheiro e apostar na grife de um técnico estrangeiro para ser campeão. Planejamento ainda é fundamental.
Este que escreve já abordou o fato de que o Flamengo paga hoje pelas escolhas feitas pela sua diretoria. Eu e você sabemos que a adaptação do elenco às ideias de Vítor Pereira (e vice-versa) não é algo que vai acontecer da noite pro dia. Se a ideia era mesmo trocar o treinador, o mínimo a ser feito era acertar o planejamento, preparar o time para a mudança de filosofia que viria pela frente e focar nas primeiras competições do ano. Consequentemente, o que se vê em campo é toda a dificuldade de comunicação entre VP e os jogadores nesse início de temporada.
Certo é que o Flamengo entrou em campo com mais uma mudança tática. Thiago Maia virou zagueiro pela esquerda nos momentos em que o escrete rubro-negro tinha a bola para qualificar o passe e permitir que Ayrton Lucas tivesse mais liberdade para avançar. Ideia que parecia promissora no papel, mas que acabou não sendo tão boa na prática por conta da clara mudança no estilo de jogo. Ao invés das tabelas e das aproximações por dentro, muitas bolas longas e cruzamentos para a área. Bem diferente do que esses jogadores estavam acostumados a fazer.

Notem que essa mudança de estilo (de um jogo de mais aproximação para um muito mais vertical do que estávamos acostumados a ver no Flamengo) é fundamental para se compreender o que acontece dentro de campo. Mesmo assim, é bom que se diga que o escrete comandado por Vítor Pereira criou chances suficientes para ir para o intervalo vencendo por dois ou três gols de diferença. Faltou calma e um pouco de sorte para colocar a bola na casinha. Só que o time ainda jogava abaixo do que já jogou. Everton Ribeiro parecia um “exército de um homem só” na condução da bola do meio para o ataque visto que ninguém recuava para abrir e ocupar o espaço entrelinhas do time do Independiente del Valle.

Enquanto isso, o “Mata Gigantes” ia se fechando na frente da sua área e contando com a “tolerância” do árbitro uruguaio Andrés Matonte na cera e nas entradas mais duras. Mesmo assim, o time comandado por Martín Anselmi fazia uma partida razoável dentro do contexto geral. Faltava mais ousadia para aproveitar os espaços generosos que o Flamengo deixava no campo de defesa. Apesar do claro desconforto dos jogadores nesse estilo mais vertical, o Flamengo seguia criando boas oportunidades nas bolas levantadas da área, seja com Pedro, Ayrton Lucas ou Arrascaeta.
Mesmo assim, a ausência dessa aproximação por dentro era algo que favorecia o Independiente del Valle e toda a estratégia adotada pelo técnico Martín Anselmi. Varela e Ayrton Lucas não comprometeram na defesa e ainda chegavam ao ataque com fôlego. No entanto, o número excessivo de bolas levantadas na área acabou facilitando demais a vida do “Mata Gigantes”. Percebam que sempre que um dos laterais recebia a bola com liberdade pelo lado, ele permanecia sozinho e isolado no setor sem que ninguém se aproximasse para a tabela ou a jogada de linha de fundo.

O Flamengo melhorou com as entradas de Matheuzinho, Everton Cebolinha, Gerson e (principalmente) Matheus Gonçalves. O jovem de 17 anos mostrou muita personalidade na partida e se transformou no ponta que quebra as linhas adversárias com muita movimentação e habilidade. Foi a partir daí que o time começou a se aproximar mais e trocar passes por dentro (ainda que insistisse em cruzamentos para a área). No último minuto do tempo regulamentar, Gabigol achou Cebolinha às costas de Pellerano e fez o passe que o camisa 11 apenas escorou para Arrascaeta mandar para as redes de Moisés Ramírez. Foi um dos poucos momentos em que o Flamengo fez a bola girar com inteligência e objetividade.

O Flamengo pressionou na prorrogação, mas não conseguiu balançar as redes de Moisés Ramírez. O goleiro do Independiente del Valle se transformaria no grande herói do título ao defender a cobrança de Arrascaeta logo na abertura da disputa de penalidades. Resultado amargo para o time comandado por Vítor Pereira que deve sim ser cobrado por uma série de escolhas, mas que é muito mais consequência de um planejamento medonho. E como eu e você sabemos muito bem, é preciso muito mais do que grife e uma porção de bons jogadores para se levantar taças e comemorar vitórias. É preciso trabalho sério e saber onde se quer chegar. E não brincar com a sorte como Braz, Landim e Spindel fazem todo dia.
A tendência é que a pressão sobre Vítor Pereira fique ainda maior com o vice-campeonato da Recopa Sul-Americana. Por mais que o time do Flamengo tenha apresentado uma pequena evolução nesta terça-feira (28), a atuação coletiva da equipe ainda está muito abaixo daquilo que esses mesmos jogadores já mostraram. Mesmo assim, já ficou claro pra todo mundo que grife, charutos, tweets misteriosos e empáfia não ganham jogos. A verdade, meus amigos, é que o Fla é hoje refém da enorme incompetência que reina nos bastidores. E VP é o menor dos problemas.

