Home Futebol Bola de Ouro, amadurecimento e um pouco mais de sorte: e se Neymar tivesse permanecido no Barcelona?

Bola de Ouro, amadurecimento e um pouco mais de sorte: e se Neymar tivesse permanecido no Barcelona?

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as palavras de Suárez sobre a saída do brasileiro para o PSG e o legado do Trio MSN

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

“É comprometedor, mas eu assumo a responsabilidade. Se Neymar tivesse ficado no Barcelona teria ganhando uma Bola de Ouro, com certeza. Minha visão é que se tivesse ficado teria ganhado, sim.” As palavras fortes de Luisito Suárez aos repórteres Klaus Richmond e Luiz Felipe Castro da Revista PLACAR não deixam de carregar uma boa dose de verdade sobre as escolhas do principal jogador brasileiro dos últimos anos. E se Neymar tivesse recusado a proposta do PSG e permanecido no Barcelona? Será que as coisas seriam diferentes? Será que ele teria conquistado a tão cobiçada Bola de Ouro? Difícil colocar o “E SE” numa discussão como essa, mas as declarações de Suárez são bastante relevantes.

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Isso porque o uruguaio formou com Neymar e Messi aquele que ficou conhecido como o Trio MSN. Poucas vezes na história do velho e rude esporte bretão vimos um entendimento e um encaixe tão perfeitos como o destes três no histórico Barcelona de Luís Enrique. Futebol bonito, vistoso e vencedor. Foram dois Campeonatos Espanhóis (2014/15 e 2015/16), três Copas do Rey (2014/15, 2015/16 e 2016/17), duas Supercopas da Espanha (2015 e 2016), uma Liga dos Campeões da UEFA (2014/15) e um Mundial de Clubes da FIFA (em 2015) além dos 364 gols e 173 assistências.

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Enquanto a maioria dos treinadores pensaria em escalações mais cautelosas, Luís Enrique encontrou a formação ideal para acomodar Messi, Suárez e Neymar num Barcelona equilibrado e todo baseado no conhecido “jogo de posição” que aprendeu ao longo da sua carreira. Além da parte tática, havia também um fato fundamental para o sucesso do Trio MSN: a força mental. Esse ponto foi destacado pelo treinador espanhol em entrevista concedida ao canal do Barcelona no YouTube durante a paralisação das competições por conta da pandemia do novo coronavírus.

Aquele Barcelona jogava num 4-3-3 altamente ofensivo com Messi e Neymar abrindo o corredor para as descidas de Daniel Alves e Jordi Alba como verdadeiros pontas. Suárez permanecia mais à frente, ora atuando como referência, ora voltando e abrindo espaços para as entradas dos “interiores”. Rakitic ficava mais à direita e fechava o meio-campo (num 4-4-2 com Neymar recuando pelo outro lado) quando o Barcelona não tinha a bola. E Iniesta (já com idade avançada) jogava mais pela esquerda e fechava o jogo por dentro como volante junto a Busquets. Mais atrás, Mascherano e Piqué protegiam bem a baliza do goleiro Ter Stegen. Um time que encantou o mundo com a alta classe do Trio MSN.

O histórico Barcelona campeão da Liga dos Campeões de 2014/15 tinha Neymar à esquerda, Messi à direita e Suárez abrindo espaços pelo meio. O Trio MSN se entendia muito bem.

A transferência de Neymar para o Paris Saint-Germain em 2017 foi chocante por conta de uma série de fatores. Mas é interessante notar que a saída do brasileiro se deu num momento em que o Barcelona passava por um período ruim. O próprio Suárez afirmou à Revista PLACAR: “Eu não gostava muito de falar sobre isso, mas chega um momento que era já uma bola grande, então fomos falar com Neymar e dissemos: ‘Ney, se quer ganhar tudo fique aqui conosco. Estávamos mal porque havíamos perdido, mas isso vai mudar, vão vir jogadores novos que estamos necessitando.'”

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O que quase ninguém sabe ate agora é o que levou Neymar a deixar o Barcelona. Foi o desafio numa liga diferente? A quantidade absurda de dinheiro oferecida na transação? Ou a oportunidade de ser o protagonista num projeto que visava colocar o clube entre os maiores da Europa? O processo na Receita Federal da Espanha teve influência na decisão de deixar o clube e acertar com o PSG? Até agora, além dos absurdos 222 milhões de euros (cerca de R$ 821 milhões na cotação da época) pagos na negociação, o que temos sobre esse assunto são meras especulações.

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Certo é que Neymar deixou o Barcelona e acertou com o Paris Saint-Germain aos 25 anos e se envolveu numa série de polêmicas dentro e fora dos gramados desde então. Curiosamente, o seu grande momento no escrete parisiense foi a final da Liga dos Campeões da UEFA de 2019/20, perdida para o Bayern de Munique de Lewandowski, Thiago Alcântara, Kimmich, Neuer, Thomas Müller e Hans-Dieter Flick. Na época, o time era comandado por Thomas Tuchel e Neymar deixou o lado do campo para se transformar no camisa 10 de fato e de direito do PSG num 4-3-3 de muita intensidade, mas que já apresentava problemas que vemos hoje por conta da falta de combatividade dos atacantes na saída de bola adversária.

O Paris Saint-Germain ficou com o vice da Liga dos Campeões de 2019/20 tendo Neymar como “ponta-articulador” num 4-3-3 bem ofensivo, mas que deixava a desejar na marcação.

Ao mesmo tempo, o fator extracampo se fez presente em vários momentos. As polêmicas com Cavani e Mbappé, a tentativa de saída frustrada no início de 2019 e as indiretas nas redes sociais apontam para a falta de um amadurecimento maior por parte do brasileiro. E isso sem falar nas seguidas lesões sofridas que prejudicaram o desempenho do camisa 10 do PSG. Suárez afirma: “Tínhamos uma vida diferente fora? Sim, uma vida diferente, mas quando nos juntávamos Neymar nos convidava para os seus aniversários, ou vinha para a nossa casa. Nós só não sabíamos como era a dele, então se víamos que estava fazendo algo errado dizíamos. Neymar era um jovem que gostava de escutar os mais experientes.”

As palavras de Luisito Suárez levam a crer que as coisas poderiam ter sido muito diferentes para Neymar se ele tivesse permanecido no Barcelona. Os últimos acontecimentos na vida do brasileiro mostram que o atacante do Grêmio tem suas razões em pensar assim. Não somente pela Bola de Ouro, talvez a grande obsessão do camisa 10 do PSG, mas por conta da sua trajetória na Seleção Brasileira. O ambiente no Barça (mesmo com os problemas que apareceriam posteriormente) sempre pareceu mais calmo do que no escrete francês. Não parece, mas isso faz diferença.

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