É verdade que o jogo de ida da decisão do Campeonato Paulista e a derrota para o Bolívar (ainda que com o time reserva) deixou muita gente com a impressão de que o Palmeiras estaria numa má fase ou sofrendo com a falta de reposição de Danilo e Gustavo Scarpa. Este que escreve abordou o assunto no começo do ano, mas o que se viu neste domingo (9) foi mais uma aula de futebol ministrada pelos comandados de Abel Ferreira. O Verdão simplesmente não deixou o bom time do Água Santa (e muito bem comandado por Thiago Carpini) respirar no Allianz Parque e conquistou mais uma taça para a já extensa coleção. E tudo isso controlando bem o espaço. Sempre com intensidade e a concentração que eu e você conhecemos.
Perdoem este que escreve pelo linguajar mais “difícil” nesta análise. Mas o segredo da atuação de gala do Palmeiras neste domingo (9) passa pelo controle de cada pedaço de campo e pelo posicionamento correto dentro de campo. Com o time mais organizado (e ligado em cada lance), o futebol a aparecer e não era difícil imaginar qual seria o fim dessa história logo os primeiros minutos de partida, quando Gabriel Menino se juntava a Vanderlan, Dudu, Rony e Endrick a partir do lado esquerdo e Raphael Veiga tendia a guardar mais sua posição no lado direito de defesa.
Sem a bola, o Palmeiras jogava no 4-2-3-1 que todos já estão acostumados. Com a posse, no entanto, o time se movimentava bastante no espaço entrelinhas e simplesmente não deixava o Água Santa respirar. Há como se falar em 3-4-3 (já que Marcos Rocha não subia tanto), em 3-3-4 e até mesmo num 3-2-5 dependendo do momento da partida que está sendo analisado. E por mais que Thiaguinho voltasse entre os zagueiros para organizar a construção das jogadas, o que se via no Allianz Parque era um verdadeiro “amasso”. Daqueles característicos do time de Abel Ferreira.
Dudu protagonizou duas boas jogadas antes dos dez mintuos de partida. Já era uma bela amostra do que viria pela frente no Allianz Parque. É claro que a bola parada ajudou a tranquilizar o time por conta da vantagem obtida pelo Água Santa no jogo de ida logo aos 15 minutos. Não era difícil notar o Palmeiras empurrando o Netuno para seu campo e controlando bem o espaço entrelinhas. Rony e Endrick empurravam a defesa para trás para Rapahel Veiga e Gabriel Menino (principalmente o camisa 25) aparecerem na frente para a finalização ou as tabelas. Foi a partir desse controle territorial que Abel Ferreira conseguiu impor seu estilo de jogo e levar a melhor no duelo tático contra Thiago Carpini.
O segundo gol do Palmeiras saiu em mais uma vela jogada de Dudu pela direita (esta de cinema) e com a cabeçada de… Gabriel Menino! O camisa 25 do Palmeiras entendeu bem aquilo que precisava fazer em campo e se transformou no grande nome da final deste domingo (9). Não somente pelos dois gols marcados contra o Água Santa, mas pela forma como jogou no meio-campo palmeirense. Ora fechando seu setor e dando a cobertura necessária para Vanderlan no lado esquerdo, ora aparecendo como “elemento-surpresa” dentro da área adversária. Baita atuação.
O gol marcado por Endrick mostra muito bem como o Palmeiras se organizava sempre que recuperava a bola. Lembrem-se de que estamos falando de um time objetivo e altamente letal quando tem espaço pela frente. Assim que Gabriel Menino recupera a bola, Rony se posiciona para receber o passe e fixa os dois zagueiros do Água Santa. Nesse momento, Endrick, Raphael Veiga, Dudu e Vanderlan atacam o espaço aberto pela movimentação do ataque alviverde. Rony invade a área, chuta, Ygor Vinha faz uma grande defesa, mas o garoto da camisa 16 não perdoa no rebote.
Com três a zero no placar e o cenário totalmente a seu favor, era de se imaginar que o Palmeiras fosse diminuir um pouco o ritmo no segundo tempo. Tanto que Bruno Xavier, Júnior Todinho e Gabriel Inocêncio. Foi a senha para Abel Ferreira mandar Fabinho, Gustavo Garcia e José “Flaco” López para o jogo. Com o fôlego renovado, não demorou muito para que o time conseguisse o quarto gol com o camisa 18 em belo contra-ataque puxado por Rony. Mesmo com o título praticamente garantido, o Palmeiras não deixou de controlar o espaço e usar a afobação do Água Santa a seu favor. O panorama era o mesmo: Rony atacava as costas da defesa adversária e mais quatro jogadores abriam o campo. Organização e intensidade.
Na prática, a partida deste domingo (9) foi mais uma demonstração clara da superioridade e da capacidade de adaptação do Palmeiras a contextos completamente desfavoráveis. Pode não ter um elenco recheado de estrelas (como Flamengo e Atlético-MG), mas possui jogadores dedicados e completamente comprometidos com a proposta de jogo de Abel Ferreira. Título mais do que merecido de um clube que confiou numa filosofia de trabalho e que mostra pra muita gente que esse Palmeiras ainda tem muita lenha pra queimar no futebol brasileiro e sul-americano. Por mais que a torcida proteste contra a falta de reforços “de peso”, o título do Campeonato Paulista está aí para provar esse grupo segue com sede de conquistas.
Ao mesmo tempo, Abel Ferreira prova que tem o elenco palmeirense na mão e que é um dos melhores treinadores em atividade no continente (se não o melhor). Difícil pensar em outro nome com tantos títulos e tantas conquistas nos últimos três anos como o português. Seu nome já está escrito na história da “Terceira Academia” do Palmeiras, mas não se surpreendam se esse time levantar mais taças nos próximos meses. Poucos treinadores souberam calar seus críticos como Abel Ferreira vem fazendo nesses últimos três anos.