Home Futebol Fernando Diniz aposta alto no seu estilo de jogo em primeira convocação na seleção brasileira

Fernando Diniz aposta alto no seu estilo de jogo em primeira convocação na seleção brasileira

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a lista de convocados para os jogos contra Bolívia e Peru pelas Eliminatórias da Copa do Mundo

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É muito difícil para este que escreve ver Fernando Diniz no comando da Seleção Brasileira e não pensar na fragilidade do “acordo” feito entre CBF e o italiano Carlo Ancelotti. Pode até ser que o italiano assuma mesmo o comando da equipe em meados de 2024, mas a impressão que fica é a de que o “Dinizismo” será a tônica do escrete canarinho por algum tempo. Prova disso está na lista de convocados anunciada na última sexta-feira (18). Não parece que houve consulta ao técnico do Real Madrid na escolha dos nomes que vão iniciar esse ciclo até a próxima Copa do Mundo. Certo é que o estilo de jogo único do treinador foi o principa critério da sua primeira convocação.

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Por mais que a lista de convocados não tenha agradado a todos (nem este que escreve), Fernando Diniz sabe que vai precisar de resultados positivos o quanto antes. Por isso, a aposta em nomes que estão mais familiarizados com suas ideias. Não deixa de ser algo natural diante do fato de que seleções possuem muito pouco tempo para treinos. Além disso, vale lembrar que Diniz vai se dividir entre a Seleção Brasileira e o Fluminense até segunda ordem. Não chega a ser surpresa a presença de nomes como os zagueiros Ibañez e Nino, os laterais Renan Lodi e Caio Henrique e os volantes Bruno Guimarães e André. Existe sim a necessidade de compreensão rápida dos seus conceitos.

No entanto, a ausência de nomes que estão em melhor fase nas suas equipes e que podem se encaixar no tal “Dinizismo” sem muitas dificuldades chama um pouco a atenção. É possível discutir por que Adryelson e Lucas Perri não foram chamados diante da excelente fase dos dois num Botafogo cada vez mais líder do Brasileirão. Ou por que a CBF optou por deixar João Gomes (do Wolverhampton), Danilo (do Nottingham Forest) e Vítor Roque (do Athletico Paranaense) para a Seleção Olímpica. Ou ainda por que nomes como Douglas Luiz (volante que vem de grande temporada no Aston Villa) e Arthur Cabral (atacante do Befica e que fez ótimas atuações pela Fiotentina) foram ignorados.

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A falta de tempo para preparar o time como deseja e a necessidade de mostrar serviço logo em partidas importantes pelas Eliminatórias da Copa do Mundo ajudam a explicar (um pouco) as escolhas de Fernando Diniz. Seu modelo de jogo já foi amplamente estudado e comentado nas principais mesas de debate da imprensa esportiva. A aproximação entre os jogadores, a troca de posições constante, o incentivo ao drible e a busca pela saída de bola sempre pelo chão fazem parte desse estilo mais “aposicional” por assim dizer. Apesar dos “haters”, esse estilo é algo bem agradável de se nas suas equipes. E o melhor para a Seleção Brasileira: é de fácil assimilação pelos jogadores.

O Fluminense de Fernando Diniz concentra jogadores num lado para que outros possam ter mais liberdade. É o caso de André, Marcelo e Germán Cano. Foto: Reprodução / Premiere / GE

Não entendam estilo “aposicional” como algo totalmente contrário ao “jogo de posição” difundido por Pep Guardiola e outros grandes nomes do futebol mundial, visto que é possível observar alguns elementos comuns nas duas propostas de jogo. Defensivamente falando, Fernando Diniz também é o tipo de treinador que aposta nessa aglomeração na frente da área alternada com perseguições curtas no setor onde está a bola. A intenção é diminuir espaços e retomar a posse o mais rápido possível para acelerar nos contra-ataques. Também é possível ver um dos pontas recuando para a última linha e os atacantes fechando em cima dos volantes adversários em determinados momentos.

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Jhon Arias recua para a última linha, Ganso fecha junto com Cano e Keno auxilia Samuel Xavier. A intenção é fechar o espaço na frente da área. Foto: Reprodução / Premiere / GE

A forma como seu Fluminense joga nos deixa algumas pistas de como Fernando Diniz pretende usar alguns jogadores nessa sua passagem pela Seleção Brasileira. Não é difícil imaginar Richarlison aparecendo na área para dar o último toque ou até mesmo Vinícius Júnior deixando mais o lado esquerdo e se aproximar de Rodrygo no outro lado. É possível também que Neymar seja o “Paulo Henrique Ganso” do Brasil por conta da capacidade do camisa dez em armar o jogo vindo mais de trás com a bola dominada. Apesar dos questionamentos feitos por este que escreve em determinados nomes, é possível sim pensar numa equipe altamente competitiva e que jogue um futebol mais vistoso.

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Keno recebe pela esquerda, Cano e John Kennedy se projetam e André, Ganso Arias fogem da “confusão”. Neymar pode assumir o papel do camisa dez. Foto: Reprodução / Premiere / GE

É lógico que vamos ter que esperar a bola rolar para ver mesmo qual vai ser a do “Dinizismo” na Seleção Brasileira e se ele vai perdurar até a próxima Copa do Mundo. Pelo que se desenha até aqui (e sabendo que a CBF é a única “fonte” que confirma o acerto com Carlo Ancelotti), é bem possível que o discurso mude daqui a alguns meses. Seja como for, o simples fato de Fernando Diniz ter que se dividir entre o escrete canarinho e o Fluminense traz uma série de perguntas. E muito da sua convocação passa sim por um conflito de interesses. Convocar os jogadores que já conhece ou apostar nos melhores sabendo que estes podem desfalcar suas equipes? É bem complicado.

E no meio disso tudo ainda existe Neymar. O jogador mais talentoso dos últimos vinte anos acertou recentemente com o Al-Hilal num movimento visto por muitos como o “final” de sua carreira. Por outro lado, Fernando Diniz fez questão de dizer que conversou com o jogador e que tem seu apoio. Se conseguir tirar o melhor do camisa dez e integrá-lo ao “Dinizismo” como muita gente deseja, o treinador terá realizado a sua principal tarefa no comando da Seleção Brasileira. Mesmo saindo no ano que vem para (possivelmente) dar lugar a Carlo Ancelotti.

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