O título desta humilde análise parece óbvio. E é. Mas é algo que precisa ser lembrado sempre por toda e qualquer equipe que deseja vencer jogos e (principalmente) levantar taças. O “primeiro round” da grande final da Copa do Brasil seguiu exatamente essa linha. O São Paulo de Dorival Júnior mereceu a vitória sobre um Flamengo apático e sem brilho por conta de toda a competitividade que mostrou durante os noventa e poucos minutos de partida neste domingo (17). Organização defensiva, agressividade nas transições e muita concentração para lidar com a atmosfera hostil num Maracanã tomado por mais de 67 mil pessoas. Tudo o que o time comandado por Jorge Sampaoli não teve.
Aliás, este que escreve ainda está tentando encontrar as palavras certas para falar da atuação do Flamengo. Escalação, organização tática, postura com e sem a bola, o rubro-negro da Gávea teve uma daquelas tardes em que absolutamente nada deu certo. O baixíssimo número de finalizações fala por si só (ver os números do SofaScore no tweet acima). Vamos entrar na parte tática mais pra frente. Mas ficou claro para este que escreve que o time sentiu demais o clima ruim nos bastidores e que a relação entre técnico e elenco influenciou sim na atuação da equipe.
Não, meu amigo. Ninguém está levantando teorias da conspiração ou insinuando que os jogadores “entregaram” a vitória para o São Paulo (que jogou bem e mereceu vencer). O ponto aqui é o ambiente ruim no Flamengo. E a grande verdade é que se você trabalha num local onde chefia e funcionários não se entendem, é muito possível que o trabalho seja ruim. E o que vemos hoje no Ninho do Urubu e na Gávea é o resultado de uma série de decisões absurdamente erradas da diretoria. Os jogadores têm culpa? Lógico que sim. Mas tudo começa com quem manda e dá as ordens.
Falando do jogo em si, é preciso dizer que Dorival Júnior venceu Jorge Sampaoli com folga no duelo de estratégias. Rodrigo Nestor deu bastante consistência ao lado esquerdo do São Paulo e ainda formou boa dupla com Caio Paulista. O 4-2-3-1 proposto pelo treinador tricolor protegia bem a área, fechava bem os lados do campo e ainda explorava bem a falta de combatividade do meio-campo do Flamengo. Na prática, Bruno Henrique, Gabigol e companhia ignoravam o jogo sem bola e sobrecarregavam o sistema defensivo. Aliás, é difícil entender por que Jorge Sampaoli não repetiu a formação que venceu o Botafogo e que deu mais equilíbrio ao time. Faltou percepção sobre o que o campo mostrava.

Com o meio mais povoado e movimentos mais coordenados, o São Paulo foi se impondo aos poucos e explorando a principal deficiência do seu adversário no Maracanã: a marcação no lado direito. Assim como todos no time, Wesley não fez boa partida, mas o jovem lateral foi mais uma vítima do 4-3-3 confuso proposto por Jorge Sampaoli. Victor Hugo e Gerson sobrecarregavam Pulgar na proteção da última linha e Gabigol pouco ajudava na marcação em cima de Caio Paulista. O resultado era sempre o mesmo. Wesley sempre tinha que lidar com dois jogadores em velocidade no seu setor e “escolher” um para marcar. Apesar das oportunidades para resolver o problema, Sampaoli não se mexeu no banco de reservas.

O Flamengo até que tentava algumas escapadas com bolas longas buscando Bruno Henrique no lado esquerdo de ataque. No entanto, o camisa 27 esbarrou na grande atuação de Rafinha, praticamente perfeito nas interceptações e na cobertura do seu setor. Mesmo assim, era pouco para conter o volume de jogo do São Paulo. E a falta de combatividade do Flamengo acabou cobrando seu preço aos 45 minutos da primeira etapa, novamente com mais uma trama da dupla formada por Caio Paulista e Rodrigo Nestor em cima do solitário Wesley. Desta vez, o lance ainda contou com a hesitação de Matheus Cunha na saída do gol e o oportunismo de Calleri ao tomar a frente de Ayrton Lucas antes de balançar as redes.

A mexida óbvia era a entrada de Everton Ribeiro no lugar de Victor Hugo ou Gabigol (outro que errou tudo que tentou na partida). Jorge Sampaoli optou pelo jovem da camisa 29 e reorganizou o Flamengo numa espécie de 4-4-2 com Gabigol mais próximo de Pedro. O time melhorou seu desempenho, mas ainda sem a força e a competitividade necessária para vencer o eficiente sistema defensivo do São Paulo. Na prática, a melhor chance do Fla em todo o jogo nasceu de um cruzamento de Ayrton Lucas que Everton Ribeiro escorou para Pedro, mas a zaga tricolor salvou em cima da linha. Muito pouco para quem pintava como favorito ao título da Copa do Brasil e para quem tem tanto talento à disposição.

Matheuzinho, Thiago Maia e Everton Cebolinha também entraram no jogo, mas não conseguiram mudar o panorama da partida. Dorival Júnior foi descansando seus principais jogadores e mantendo o eficiente bloqueio defensivo na frente da área do goleiro Rafael. Além de Rafinha, Beraldo, Pablo Maia, Rodrigo Nestor e Caio Paulista foram fundamentais na construção do resultado que deixa o Tricolor Paulista em boas condições para decidir o título da Copa do Brasil dentro de casa. E diante das últimas atuações da equipe no Morumbi, é bem provável que o panorama seja bem parecido com o que vimos neste domingo (17). Resumindo tudo, o São Paulo venceu porque entendeu o que o jogo pedia. Simples assim.
Enquanto isso, o Flamengo terá mais dias tensos pela frente. A relação entre elenco e comissão técnica nunca foi das melhores e deve piorar bastante no decorrer dessa semana. O que este que escreve ainda não conseguiu entender foi o Jorge Sampaoli pretendia com a formação que mandou a campo. Ao mesmo tempo, a postura de alguns jogadores beirou a apatia total em determinados momentos. Se quiser pensar em tirar a vantagem do São Paulo no Morumbi, o Fla precisa mudar de postura e competir. Antes de qualquer outra coisa.

