Ele foi o único profissional da história do voleibol que fez a migração de atleta para treinador, de treinador da seleção brasileira olímpica masculina para a seleção brasileira olímpica feminina.
Atualmente comanda o São Paulo/Barueri, que segue muito bem com sua participação na Superliga Feminina e a Copa do Brasil. Ao mesmo tempo, começa a planejar a participação do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio 2020. A lista de convocadas será divulgada em abril.
Confira os principais momentos da entrevista
Quais os principais desafios da seleção brasileira para Tóquio 2020?
Temos time para jogar com qualquer time do mundo. Teremos a Liga das Nações antes, nós temos que ver o planejamento que vamos ter antes, depende das regras da Federação Internacional de Voleibol e depois Olimpíadas, que é a nossa prioridade deste ano.
A Liga das Nações não é a prioridade deste ano. Temos que pensar nas jogadoras, que elas cheguem na melhor posição possível e nós rezamos para que ninguém se machuque.
Há 16 anos você está no comando da seleção brasileira. Quais foram os principais desafios para este ano?
O tempo é muito curto e não dá tempo de recuperar ninguém. Se tem que ter opções, só que são 10 ou 12 anos para atingir este nível de vôlei. São anos de treinamento e vivências em campeonatos internacionais.
Tem muitos comentários sobre a escalação de novatas. Quais são hoje em dia os principais desafios para escalar e modelar o time para as Olimpíadas?
Isso faz parte. Acho que esta coisa das novas atletas e veteranas atletas. Isso é muito relativo. Nós não podemos trocar, simplesmente, o novo pelo velho. Nós temos que trocar o melhor pelo pior. Essa é a conta certa. Se a mais nova estiver melhor que a mais velha, vai a mais nova. Se a mais velha estiver melhor que a mais nova, vai a jogadora veterana.
No caso da Mari, que foi para a Olimpíada de 2004, e fez 37 pontos em uma semifinal contra a Rússia. A própria Natalia foi para a seleção no primeiro campeonato dela na Copa do Mundo com 16 anos. Uma Copa do Mundo.
Então, depende muito de como estas jogadoras vão estar. Sei que estão escalando várias seleções, com vários nomes. A comissão técnica tem as suas escolhas. O que precisamos é acertar o máximo possível. Não temos margem de erro. E levar o que temos de melhor.
Quais são as expectativas para as olimpíadas de Tóquio 2020?
Vamos primeiro nos preocupar com o nosso time. Olimpíadas é muito mistério.
Temos que chegar muito bem, temos que estar todos muito bem focados. O time tem que estar harmonioso. O tempo é muito curto. Tem que estar com o pé no chão, sabendo que tudo pode acontecer. Tem que chegar com humildade, sabendo que vai ser difícil, sabendo que vai ter que correr muito, saber que vai encontrar dificuldades, saber que vai ter momentos de crise. E saber que vai ter que se recuperar de tudo isso.
E a escalação?
A convocação sai depois da Superliga, em meados de abril. Ainda temos tempo para definir. Todo mundo já esta falando da China, Turquia. Vamos observar. O vôlei feminino nas Olimpíadas começa em 26 de julho e terá a final em 9 de agosto.
Você acabou de retornar do Pré-olímpico Europeu. Conta para nós o que viu?
Eu acabei de voltar do Pré-olímpico Europeu. Fui assistir. Os times tiveram pouco tempo para treinar. Porque todos estavam com suas jogadoras nos respectivos clubes. Achei que a Turquia passou por períodos de grande dificuldades, que se classificou. Mas começou mal o Europeu, ao perder para a Alemanha no primeiro jogo.
Depois teve um momento difícil contra a Bélgica, se recuperou e foi para tie-break. Um jogo complicado, mas menos complicado que o jogo contra a Polônia, que teve seis match points. Três deles com a melhor jogadora da Polônia.
A Turquia conseguiu se recuperar. A Bosque, oposta da seleção da Turquia, durante o quarto set fez 14 pontos e no tie-break, seis pontos. Ela praticamente chamou o jogo no quarto set, em um momento de dificuldade no time. No momento de superação ela segurou.
A central turca estava com um aproveitamento de 26% de ataque, mas com 10 pontos de bloqueio. Teve de tudo um pouco.
A Holanda cheia de altos e baixos. Organizou no campeonato, mas perdeu para Alemanha de 3 a 0. Mudou o técnico e não chegou muito bem.
A Turquia quis mais. Os dois times que mais me chamaram a atenção foi Turquia e Polônia. E a Alemanha também, que chegou até a semifinal. A Turquia viu a morte muito de perto, o que vem depois é lucro.
Seleção brasileira
Você foi o primeiro técnico a mudar do masculino para o feminino. Quais são as principais diferenças na condução da equipe, já que foram 3 conquistas olímpicas (1 medalha de ouro do masculino e 2 medalhas de ouro do feminino)?
A diferença é total. Não tem nada a ver um voleibol com outro. São diferentes, o pessoal do feminino (que somos nós) quer nos aproximar cada vez mais do masculino em termos de velocidade, potência, de versatilidade e nos procuramos.
Acho que o voleibol feminino é bem técnico. Os ralis são maiores, as jogadoras têm que ter um leque técnico muito grande para tentar diminuir o número de erros.
No voleibol masculino, claro, que tem os mesmos atributos técnicos, mas está muito à frente em termos de potência. A potência do saque aumentou a técnica de passe, no amortecimento e na velocidade dos ataques.
Quais as diferenças com os atletas da seleção feminina com o masculino?
O problema é todo um contexto fora da quadra. O técnico do feminino deve compreender os sintomas hormonais, decorrentes da menstruação e gravidez. Vão ter jogadoras que sofrem com TPM e assim nós temos que entender o que acontece. Como funcionam esses hormônios. E como funciona esse cérebro.
Já no masculino é mais direto. O técnico tem que ter este conhecimento, mais jogo de cintura, entender essas interferências que vão acontecer com equipes femininas.
Como funciona hoje o desenvolvimento da base do vôlei nacional?
O Brasil poderia funcionar como o Cartelito na Itália. Sobre a busca de talentos para a Seleção Nacional e também para que estas jogadoras se tornem boas cidadãs, pessoas importantes, que possam influenciar positivamente gerações.
Eu acho que essa busca por incentivo na área social, na base, na formação. Ela é muito importante. Ela é muito importante em qualquer esporte. Eu sou um cara que vou lutar sempre para isso. Acho que esse é meu DNA. Eu vim daí e não paro de lutar em relação a isso.
Acho que você ter um time adulto é importante. Você ter base para formar o adulto é muito mais. Tem um projeto muito maior.
Então este investimento não é para se tornar um time campeão, se transformar em um time que dê algo a mais para dar e fazer para investir em pessoas, em formação, investir nesta área social. E que estas pessoas realmente façam a diferença no futuro.
Durante a partida Minas x Praia Clube, houve um desentendimento entre as jogadoras do Minas. Como lidar com situações como estas?
Isso acontece. Discussão entre jogadoras é normal. Discussão entre jogadoras, jogadoras e comissão técnica, e ao contrário. E isso faz parte do dia a dia. Todo mundo quer o melhor para a equipe. Todo mundo quer “performar” da melhor maneira possível. Isso é querer ganhar, querer que a outra faça bem. Isso é o que eu menos levo em consideração.
São Paulo/Barueri
O time do São Paulo/Barueri é uma equipe jovem, quais são os principais desafios em comandar uma equipe que logo de cara faturou o Campeonato Paulista?
Primeira coisa: temos que falar de projeto. E este projeto me dá um orgulho muito grande! Porque temos dentro deste time adulto sete ou oito jogadoras que são da base do Barueri. Então, o fato que tenhamos conquistado o Campeonato Paulista é muito relevante. Ele é importante! É um título, que muitos times tentam há anos e não conseguiram. E no terceiro ano de existência, já conseguimos ganhar um título muito importante para nossa base.
Sabemos que vamos ter dificuldades em se tratando de Super Liga. É claro, que entram investimentos maiores e melhores, mas ao mesmo tendo as jogadoras estão tendo a oportunidade de ter estas experiências, que são muito importantes nas carreiras delas.
As jogadoras do São Paulo/Barueri têm média de de idade de quantos anos?
A nossa média de idade é por volta de 20.8 a 21 anos. A nossa jogadora mais velha tem 26 anos. A nossa jogadora mais jovem tem 18 anos. E tem várias atletas com apenas 18 ou 19 anos. E tem sete jogadoras que vieram da base do Barueri e tem 18 a 20 anos.
A equipe não retornou bem na 10° rodada, perdendo para o Esporte Clube Pinheiros de 3 a 1. Quais serão os principais desafios neste primeiro trimestre para o time voltar a apresentar volume de jogo da final do Campeonato Paulista de 2019?
Já houve uma melhora para estarmos entre os oito colocados e conseguirmos jogar a Copa do Brasil. Mas é muito importante a nossa permanência na Superliga para 2021. O trabalho está sendo feito com um carinho muito grande e muita dedicação. E claro com uma juventude. E sabe que corremos riscos. E temos muitas dificuldades. Elas estão em um processo de aprendizado e amadurecimento. Mas ao mesmo tempo é muito prazeroso. Vamos ver algumas destas jogadoras nas Olimpíadas de 2024 e 2028. Eu tenho certeza disso!
O time tem que ter uma fluência importante. Todo o movimento o sincronismo e o ritmo. Elas mostraram que elas são capazes. E vamos ter em função da idade desempenhos oscilantes com altos e baixos. Vamos atravessar períodos bons e ruins.
Próximos desafios, a equipe do São Paulo/Barueri joga contra o time do Praia pela Copa do Brasil. E agora?
O Praia é um forte candidato a Super Liga este ano. Já foi campeão o ano retrasado (2018). E tem grandes possibilidades de reconquistar o título. E é muito bem treinado pelo Paulo Couto, que é assistente na Seleção Brasileira. É um grande time. Acho que para o time do São Paulo/Barueri é uma honra jogar contra elas, é um grande aprendizado. E o que temos que fazer é complicar a vida delas ao máximo. Tirar o maior proveito deste jogo. O que foi 3 a 1, quase que conseguimos levar para o quinto set, o que seria muito bom.
A defesa de seu time é imbatível. Quais são os próximos desafios?
Mas tem que melhorar. Falei isso com elas hoje. Nossa defesa é boa e é difícil de derrubar. Nosso volume de jogo deve voltar a ser, nossa relação de bloqueio-defesa (que é nosso forte) precisa estar fazendo o seu melhor. E nos contra-ataques é que estamos tentando aprimorar mais. Para melhorar nossa eficiência. E isso que precisamos evoluir com variedades de jogadas.
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