“-Uma mudança de treinador traz sempre também um recomeço de trabalho para todos. Inclusive para os atletas, pois inicia-se a busca pelo time ideal nos conceitos e ideias do novo treinador”.
A análise é do diretor de futebol do Vasco, André Mazzuco, em contato com a coluna esta semana. Basicamente ele diz que, sob o comando de Ramon Menezes, novo técnico cruz-maltino, o time começará do zero.
A afirmação já faria sentido em qualquer circunstância, mas diante do cenário atual é ainda mais claro. E não só em razão da paralisação por conta da pandemia de coronavírus, mas principalmente pelo o que foi deixado por Abel Braga: quase nada.
Em momento algum da temporada 2020 o Vasco mostrou um rumo que pudesse ser seguido. O 4-2-4 de Abel não durou mais que algumas partidas, rapidamente voltando ao 4-3-3 dos tempos de Luxemburgo. No entanto, com algumas características distintas de seu antecessor.
O time de Braga não tinha uma transição rápida, tentava trabalhar a bola com paciência em busca de espaços que raramente encontrava. A equipe de Luxa era mais objetiva, vertical. Logo, mais perigosa.
Ramon trabalhou com os dois – vinha sendo auxiliar-técnico – e deve ter percebido o que funcionou e o que deu errado no elenco atual. Conhece bem os jogadores, suas características e limitações. E isso é positivo.
O ex-meia recebe em mãos uma folha em branco para que comece a escrever sua trajetória como treinador na Série A. No entanto, não são muitas as opções de cores para desenhar uma nova equipe.
Na Tombense, último time que comandou, em 2018, Ramon utilizou por um período o mesmo 4-3-3 atacando, 4-1-4-1 defendendo, de Luxa. Uma das diferenças era a pressão alta muitas vezes exercida, algo pouco praticado na passagem de Vanderlei por São Januário. O ‘perde-pressiona’ pode ser uma das novidades da equipe.
E o time tem capacidade pra isso.
Jogadores como Marrony e Raul, por exemplo, têm dificuldades para furar defesas fechadas, com passes e dribles, mas possuem capacidade de marcação e velocidade para definir as jogadas em bolas recuperadas. Benítez, recém-contratado, parece ser o mesmo tipo de jogador.
Outra virtude buscada por Ramon é na bola parada. Excelente cobrador nos tempos de jogador, o atual treinador já vinha trabalhando antes com os batedores, mas sem sucesso. Nesse ponto, a qualidade no atual elenco é pouca. Guarín e Andrey talvez sejam os de maior destaque atualmente. Pikachu, responsável por muitas das cobranças, até hoje não acertou o pé.
Bruno César, afastado, talvez tenha o maior status de ‘especialista’ no quesito. Seu retorno, aliás, não é algo descartado. Dependerá da avaliação de Ramon, com quem Bruno trabalhou em separado nos últimos meses. Um fato que pode pesar ao seu favor.
O futebol não voltará de um dia para o outro. É consenso que os jogadores precisarão de uma nova pré-temporada, ainda que curta, antes da bola rolar. Até lá, José Luís Moreira, novo vice-presidente de futebol do Vasco, já deixou claro que não haverão contratações.
“- Obviamente a gente contratar antes da pandemia sumir é um risco, a gente não pode correr essa tipo de risco. Não podemos errar nessa situação”, afirmou o dirigente durante uma entrevista para a Vasco TV, canal oficial do clube.
Ou seja, Ramon terá tempo para pensar, avaliar o atual elenco – algo que naturalmente já vinha fazendo -, um período de treinamentos – é o mínimo que se espera -, mas não deverá ter muitas novidades – reforços.
Ramon terá a vantagem de começar um trabalho do zero – ao menos do ponto de vista tático -, o que significa também uma responsabilidade grande. Sem contratações, certamente não será uma missão das mais simples. O apoio interno e externo será fundamental.
