Home Games Análise: a nostalgia salva Streets of Rage 4 de uma morte súbita

Análise: a nostalgia salva Streets of Rage 4 de uma morte súbita

A prova de que jogos beat ’em up ainda merecem espaço

Carlos Alberto Jr
Colaborador do Torcedores.com.
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Suicídio. Fazer um novo episódio da série Streets of Rage pode ser visto tanto como um ato de ousadia quanto um suicídio coletivo para três estúdios. Afinal, própria Sega rejeitou diversas tentativas de desenvolvimento de um novo jogo que fizesse jus à trilogia original lançada entre 1991 e 1994 para o Mega Drive.

Havia uma boa razão para essas constantes desistências: embora fosse popular em consoles 16-bit, o gênero beat ‘em up não sobreviveu ao sair dos sprites D2 para mundos 3D dos consoles da segunda metade da década de 1990. Agora a pergunta que fica é: após 26 anos, como os estúdios Lizardcube e Guard Crush Games iriam reinventar uma franquia tão característica de uma época?

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Três fatores foram fundamentais ao jogo lançado ontem (30) se tornasse realidade: um remake bem sucedido de Wonder Boy: The Dragon’s Trap, um fortalecimento independente do nicho de beat ‘em ups e uma dose considerável de nostalgia. Só assim a Sega finalmente foi convencida a aprovar uma nova continuação.

Entre os principais nomes que toparam essa loucura estão: Cyrille Lagarigue e Jordi Asensio da Guard Crush, criadores da série Streets of Fury, considerado por muitos fãs de beat ‘em up, os jogos responsáveis pelo revival do gênero; Ben Fiquet, da Lizardcube, o artista por trás das lindas animações de Wonder Boy: The Dragon’s Trap, foi encarregado de criar a arte feita “à mão” e a trama; e Olivier Derivière, da publisher Dotemu.

O último nome, apesar de ser um experiente compositor de trilhas para videogame, trazendo em seu currículo jogos como Alone in the Dark, Remember Me, nunca havia produzido música dançante, justo força motriz da Streets of Rage. O resultado é exatamente o que pode se esperar dessa equipe: mecânica e visualmente, Streets of Rage 4 é espantosamente bom e bem resolvido. Musicalmente é funcional, mas longe do que o jogo merece.

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Um velho novo jogo

Faz mais de 25 anos desde o lançamento de Streets of Rage 3, mas esta quarta entrada parecerá familiar para quem já jogou os jogos anteriores da franquia. Axel, Adam e Blaze estão todos aqui, além de mais de uma dúzia de outros personagens desbloqueáveis. Dois recém-chegados – Cherry Hunter, filha de Adam, guitarrista, e Floyd Iraia, ciberneticamente modificado – são acréscimos bem-vindos ao elenco que se encaixam perfeitamente com as outras personalidades coloridas e arrojadas da série.

Quanto à história, é um padrão de Streets of Rage, embora agora seja contada através de painéis e textos de quadrinhos lindamente renderizados. Ambientado 10 anos após os eventos de Streets of Rage 3, em uma cidade semelhante a Nova York, o quarto episódio existe num vácuo bizarro, que tenta se encaixar nesse mundo da violência urbana e policial norte-americana dos anos 80 ao mesmo tempo que busca uma identidade própria no mundo atual, por meio de uma trama sobre lavagem cerebral e o poder de influência da música em multidões. Enquanto no original o antagonista era Mr. X, um caricato lorde do crime, em Streets of Rage 4 os vilões são os gêmeos Y, filhos do Mr. X.

Jogabilidade

Os desenvolvedores Dotemu, Lizardcube e Guard Crush Games adotam amplamente a abordagem da jogabilidade. Em outras palavras, não conserte o que não está quebrado. A jogabilidade é basicamente o que você esperaria de um jogo de Streets of Rage: há um botão de pulo, botão de ataque, movimento especial e ataque para trás para combater os inimigos por trás.

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Como é tradição, há muitas armas para pegar em cada nível, de morcegos e cachimbos a espadas e granadas. De fato, as armas parecem ainda mais abundantes do que nos jogos anteriores.

O maior ajuste na jogabilidade é que, enquanto movimentos especiais ainda drenam uma pequena quantidade de saúde, agora você tem a chance de recuperá-la com repetidos ataques aos inimigos. É uma ótima maneira de manter a ação em movimento, batendo em todos os inimigos e em basicamente todo mundo nos estágios.

Não estamos mais nos anos 1990

A direção de arte é outro componente atualizado com sucesso em Streets of Rage 4. As animações fluidas seguem o padrão de qualidade de Wonder Boy, desta vez porém em um estilo menos caricato, mais sujo, mas ainda assim bem cartunesco com alguns traços de anime.

Ironicamente, esse aspecto juvenil se estende para o jogo como um todo, trazendo uma representação “limpinha” de crime, vida noturna e violência urbana. Praticamente uma antítese ao visual dos jogos de Mega Drive, que retratavam a violência das gangues urbanas de cidades como Chicago, Nova York e Detroit ao som de uma trilha sonora influenciada pela emergente cultura clubber, berço da house music, descendente da disco, que inspirou Yuzo Koshiro a compor sua trilha sonora.

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Falando trilha sonora, aqui talvez seja o aspecto em que o jogo mais sofre com a falta de identidade. Olivier, o compositor principal, tenta emular a sonoridade clássica da série como um todo enquanto a mescla com estilos mais contemporâneos durante as fases. Essas, por sua vez, seguem uma estrutura dinâmica, mudando conforme o jogador progride pelos segmentos. Já os compositores convidados sonorizam sequências de chefe ou de menu. Na teoria, isso soa interessante, mas na prática, é uma salada musical.

Resumo

O jogo é antes de mais nada, um presente para os fãs. A continuação segue a receita de bolo dos títulos originais da Sega, sendo mecanicamente muito similar aos seus antecessores. Ao mesmo tempo, a estética, a trilha sonora e os modos extras adicionam muito mais variedade e mantêm o fator replay por muito tempo. Street of Rage 4 está disponível para PS4, Xbox One, Nintendo Switch e PC.

É importante também lembrar que o jogo suporta co-op online, algo frequentemente ignorado por outros jogos do gênero; talvez seus únicos defeitos sejam um modo história um tanto curto, o não desenvolvimento da identidade visual dos cenários e principalmente da música, e talvez a pouca criatividade no desenvolvimento dos inimigos e chefes, que são essencialmente os mesmos de antigamente.

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De qualquer forma, Streets of Rage 4 é uma ode à pancadaria à moda antiga desenvolvida da maneira correta, e uma carta de amor a uma das séries que embora não tenha sido a primeira, é considerada por muitos a que melhor sintetizou as convenções do gênero beat ’em up.

Aos novatos, este é um jogo que permite entender como a gente se divertia nos arcades e consoles nos anos 1990. Já para nós, é como reencontrar um velho amigo após décadas: diferente por causa da passagem do tempo, mas que você reconhece à distância e de quem sentiu muita falta.

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Prós

  • Combate sofisticado
  • Referências aos jogos clássicos
  • Utilização de itens durante as lutas
  • Elenco diverso

Contras

  • Campanha curta
  • Falta de identidade visual
  • Trilha sonora aquém aos clássicos

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