Home Futebol Intensidade, movimentação e aplicação tática: Internacional e Flamengo fazem jogo que merece ser aplaudido de pé

Intensidade, movimentação e aplicação tática: Internacional e Flamengo fazem jogo que merece ser aplaudido de pé

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o embate de ideias e conceitos entre Eduardo Coudet e Domènec Torrent

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Justo quando falamos da qualidade do futebol apresentado aqui por estas bandas e clamamos por mais qualidade e competitividade das nossas principais equipes, Internacional e Flamengo fazem o jogo que pode ser facilmente classificado como a mais emocionante do Brasileirão 2020 até o momento. Sem exageros de nenhuma parte. O que eu e você vimos neste domingo (25) no Beira-Rio nada mais é do que a apresentação de duas das melhores equipes do país atualmente. O empate em 2 a 2 entre colorados e rubro-negros também foi marcado por um senhor duelo de estratégias e conceitos de Eduardo Coudet e Domènec Torrent. Intensidade, aplicação tática, concentração, troca de posições e as mais variadas alternativas dentro dos noventa e poucos minutos de jogo em Porto Alegre. Internacional e Flamengo merecem ser aplaudidos de pé por tudo que apresentaram dentro de campo.

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Sem Gabigol, Arrascaeta e Bruno Henrique (e com Pedro Rocha ainda sem ritmo e voltando a ser relacionado depois de um longo e tenebroso inverno), Domènec Torrent não tinha alternativas de velocidade para explorar a linha alta de marcação do Internacional e apostou em Gerson jogando mais pelo lado e Vitinho por dentro. O desenho tático era o mesmo 4-2-3-1 que encaixou a partir da vitória sobre o Barcelona de Guayaquil. Por outro lado, o escrete rubro-negro sofreu horrores com a forte pressão que os comandados de Eduardo Coudet exerciam na saída de bola do Fla. Isla e Gustavo Henrique vacilaram, mas também é preciso enxergar o mérito do Inter, que encaixou a marcação no 4-1-3-2 e pressionou até provocar o erro dos dois defensores. Thiago Galhardo, Patrick e Edenílson faziam grande jogo e causavam diversos problemas para a defesa do Flamengo

Flamengo vs Internacional - Football tactics and formations

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O Internacional encaixou a marcação no 4-1-3-2 preferido de Eduardo Coudet e conseguiu marcar duas vezes após pressionar e provocar o erro de Isla e Gustavo Henrique. O time de Eduardo Coudet dava aula de intensidade, pressão pós-perda e velocidade nas transições ofensivas.

O Flamengo, por sua vez, sentia demais as ausências de Arrascaeta e (principalmente) Bruno Henrique. Mesmo com Pedro descomplicando mais uma vez e marcando poucos minutos depois de Abel Hernández abrir o placar, os comandados de Domènec Torrent não tinham a mobilidade necessária para vencer a marcação do Internacional. Não foi por acaso que Dome resolveu mexer na formação inicial e armou sua equipe num 4-3-3 com Gerson alinhado a Thiago Maia e Vitinho pelo lado esquerdo de ataque. O que se veria a partir daí seria um domínio completo do time que jogava de branco, preto e vermelho dentro de um Beira-Rio ainda vazio por conta da pandemia de COVID-19. O Internacional ainda teria chances de matar o jogo com Marcos Guilherme e Patrick antes de (inexplicavelmente) abdicar do ataque a partir dos 25 minutos da segunda etapa. Os números do SofaScore mostram bem isso.

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O domínio rubro-negro foi amplo e indiscutível. Assim como a “cera” feita por todo o time do Internacional. Diante da falta de combatividade (e também do cansaço) do seu adversário, Domènec Torrent apostou nas entradas de Lincoln e Michael nas vagas de Willian Arão e Vitinho respectivamente. O Flamengo se reorganziava num 4-4-2 extremamente ofensivo e que tinha em Gerson o grande maestro do meio-campo. Do outro lado, Eduardo Coudet desmanchou seu 4-1-3-2 inicial e fechou sua equipe numa espécie de 4-1-4-1 com D’Alessandro, Musto e Rodrigo Dourado por dentro, Patrick e Edenílson pelos lados e William Pottker como único jogador de ataque. O Fla seguiu pressionando e empilhando chances com Pedro, Gérson, Vitinho e Filipe Luís, mas foi Éverton Ribeiro (que não vinha em noite tão boa) quem aproveitou cruzamento e acertou a cabeçada que igualou o placar.

Internacional vs Flamengo - Football tactics and formations

Eduardo Coudet recuou demais o Internacional e deu o campo que o Flamengo queria para criar as suas jogadas de ataque. O domínio rubro-negro no segundo tempo foi amplo e inquestionável. Ainda mais com Gerson jogando por dentro e servindo os companheiros como no gol de Éverton Ribeiro.

O melhor jogo do Campeonato Brasileiro até o momento também deixa as suas lições. O Internacional pagou o preço do recuo excessivo nos 45 minutos finais e também pelas oportunidades desperdiçadas por Marcos Guilherme, Thiago Galhardo e Patrick. Mesmo assim, a equipe de Eduardo Coudet deu aula de marcação alta e ajustada em cima da saída de bola do seu adversário. Faltou dosar mais o fôlego e cadenciar o ritmo em determinados momentos. Já o feito do Flamengo de Domènec Torrent é enorme. Fazer o que o escrete rubro-negro fez com o líder do Brasileirão sem Arrascaeta, Gabigol, Bruno Henrique e outros é simplesmente impressionante. Intensidade, aplicação quase perfeita do “jogo de posição” proposto por Dome (esqueça as bravatas de certos comentaristas de TV) e muita persistência até chegar ao gol de empate na casa do adversário. Atuação primorosa.

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Internacional e Flamengo, Eduardo Coudet e Domènec Torrent, todos eles merecem ser aplaudidos de pé depois do jogaço deste domingo (25). O resultado foi o que menos importou no final das contas. Ver duas equipes gigantes praticando um futebol de alto nivel no Brasil depois de tudo o que vemos e ouvimos por aí é certamente um senhor sopro de esperança por dias melhores aqui por estas bandas.

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