Home Futebol Avaí/Kindermann x Corinthians: a prévia tática da grande final do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino

Avaí/Kindermann x Corinthians: a prévia tática da grande final do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino

Luiz Ferreira analisa as estratégias de Jorge Barcellos e Arthur Elias e como os dois treinadores podem montar suas equipes na busca pelo título

Por Luiz Ferreira em 21/11/2020 20:56 - Atualizado há 2 anos

Mariana Sá / CBF

A sorte será lançada a partir deste domingo (22). Avaí/Kindermann e Corinthians, as duas melhores equipes do Brasil, fazem o primeiro “round” da final do Brasileirão Feminino na Ressacada, em Florianópolis. De um lado, toda a experiência de Jorge Barcellos (ex-treinador da Seleção Brasileira e responsável pela montagem do timaço de 2007) no comando da excelente e consistente equipe das Avaianas Caçadoras. Do outro, o inventivo e competente Arthur Elias e seu cada vez mais poderoso Timão, o grande pulverizador de recordes. Maneiras diferentes de se enxergar o jogo dentro das quatro linhas, mas com algumas semelhanças. A principal delas talvez seja a busca pela excelência e pela perfeição na execução dos fundamentos com e sem a bola. A coluna PAPO TÁTICO traz aqui no TORCEDORES.COM uma pequena prévia do confronto pelo título mais importante da modalidade no país.

Media day das finais do Brasileirão Feminino A-1

Em 19 partidas disputadas no Brasileirão Feminino (somando os jogos da fase de grupos, das quartas e das semifinais), o escrete comandado por Arthur Elias teve 17 vitórias, um empate e uma derrota, marcando 53 gols e sendo vazado apenas oito vezes. Já o Avaí/Kindermann de Jorge Barcellos teve números um pouco mais modestos ao longo: 10 vitórias, quatro empates e cinco derrotas, com 46 gols a favor e 19 contra. Por mais que os números, as campanhas e as atuações na competição nacional apontem para um favoritismo do Corinthians nos dois jogos da decisão, é preciso prestar atenção em certos detalhes do futebol apresentado dentro de campo. Principalmente na maneira como as Avaianas Caçadoras se comportaram ao longo do torneio diante de equipes mais fortes e mais verticais no ataque (caso das suas adversárias nas finais) e em como Jorge Barcellos pensou seu time.

Antes de mais nada, é preciso dizer que (ao contrário do que muita gente pensa), o Avaí/Kindermann NÃO É uma equipe reativa. Essa impressão pode ter sido causada pelo fato da equipe catarinense não ter o mesmo volume de jogo do Corinthians, por exemplo, ou por não aplicar uma marcação alta contra seus adversários na maioria das vezes. Por conta da característica das suas jogadores, o técnico Jorge Barcellos optou por uma linha mais baixa (utilizando o 4-1-4-1 e o 4-2-3-1) para aproveitar os passes de Duda e Júlia Bianchi para a velocidade de Lelê e Catyellen. Uma é o arco e a outra é a flecha. E para fazer com que essa estratégia funcione, é preciso ter espaço na frente para que as atacantes tenham para onde se projetar. As Avaianas Caçadoras também sabem se adaptar a diferentes situações de jogo, alternando um estilo vertical com certo pragmatismo quando necessário.

O Avaí/Kindermann mostrou que consegue se adaptar a diferentes situações de jogo apenas com o técnico Jorge Barcellos modificando o estilo e o posicionamento das jogadoras em campo. A linha de marcação um pouco mais baixa propicia que as jogadas de “arco e flecha” aconteçam com frequência. Foto: Reprodução / MyCujoo

O estilo de jogo do Corinthians, por sua vez, já foi amplamente divulgado e explicado aqui mesmo neste espaço em outras oportunidades. E vale lembrar também que muito antes de se falar em “inversão da pirâmide” e variação do 4-1-4-1 para o 2-3-5 (com a projeção de meias para a última linha e laterais caindo por dentro), as comandadas de Arthur Elias já faziam isso dentro de campo. O treinador corintiano conseguiu adaptar Andressinha na frente da zaga, trouxe Tamires para o meio-campo (alinhada a Gabi Zanotti) e com o trio ofensivo abrindo o campo e empurrando a defesa adversária para trás. Contra o Palmeiras (no jogo de volta das semifinais), Grazi atuou como referência móvel com Adriana e Crivelari pelos lados e muita intensidade na pressão pós-perda e uma linha de marcação bem alta. O volume de jogo do Corinthians de Arthur Elias beira níveis insanos.

Yasmim tem a bola, Katiuscia aparece do outro lado e Gabi Zanotti e Tamires se projetam em direção ao ataque para criar espaços. Ao mesmo tempo, Adriana, Grazi e Crivelari abrem o campo e dão profundidade às jogadas de ataque. O volume de jogo do Corinthians de Arthur Elias segue surpreendente. Foto: Reprodução / CBF TV

Usando as escalações de Avaí/Kindermann e Corinthians nos jogos de volta das semifinais, é possível imaginar as duas equipes entrando em campo num 4-1-4-1 nos primeiros momentos da partida. As Avaianas Caçadoras, com a linha de marcação mais baixa e ocupando bem os espaços no seu campo, teriam como principal objetivo a roubada de bola e o lançamento mais longo para a velocidade de Lelê no comando de ataque para partir em direção ao gol ou procurar Duda e Catyellen entrando em diagonal buscando os espaços atrás de Erika e Poliana. Ao mesmo tempo, ainda teríamos Andressinha qualificando a saída de bola, Gabi Zanotti e Tamires levando a bola ao ataque e Grazi se movimentando bastante na frente da defesa adversária. Por mais que o Corinthians tenha o favoritismo ao seu lado, é praticamente impossível não notar as inúmeras possibilidades que essa final nos traz.

Avai/Kindermann vs Corinthians - Football tactics and formations

Tomando as escalações dos jogos de volta das semifinais, é possível imaginar Avaí/Kindermann e Corinthians jogando no 4-1-4-1, mas com estratégias e posturas bem distintas. Arthur Elias e Jorge Barcellos possuem suas cartas na manga e podem surpreender muita gente nessa decisão do Brasileirão Feminino.

É bem verdade que as duas equipes podem entrar em campo com escalações e formações completamente diferentes (ainda mais por causa dos desfalques certos de Zoio e Pat nas Avaianas Caçadoras). É óbvio, mas não existe meios de se entrar nas mentes de Arhtur Elias e Jorge Barcellos para saber o que cada um deles está pensando no momento. Certo é, no entanto, que tanto o Avaí/Kindermann como o Corinthians já mostraram mais de uma vez que projetos sérios e bem elaborados costumam dar resultados extremamente positivos. Não é por acaso que as duas equipes chegaram na decisão. Cada uma com seu estilo e com seu jeito de jogar e enxergar o futebol dentro das quatro linhas. Mas igualmente consistentes e eficientes quando o assunto é bola na rede. Não há como esperar outra coisa de Timão e das Avaianas Caçadoras senão duas grandes partidas a partir desse domingo (22), na Ressacada, em Florianópolis.

Os números e a campanha no Brasileirão Feminino apontam o Corinthians como o grande favorito ao título. Mas quem conhece o trabalho de Jorge Barcellos sabe muito bem do que o ex-treinador da Seleção Brasileira é capaz de fazer com suas equipes. A decisão será marcada pelo equilíbrio e por um senhor duelo de estrategistas no banco de reservas. E como diriam os romanos, “alea jacta est”.

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