Home Futebol Benfica ainda oscila bastante, mas já tem a marca e o estilo único de Jorge Jesus; entenda

Benfica ainda oscila bastante, mas já tem a marca e o estilo único de Jorge Jesus; entenda

Luiz Ferreira analisa o empate em três a três com o Rangers pela Liga Europa na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O torcedor do Flamengo pode até estar com saudades de Jorge Jesus e do seu estilo inconfundível de armar suas equipes. No entanto, é preciso dizer que até mesmo o “Mister” anda sofrendo com o contexto imposto pela pandemia de COVID-19 e com a sequência quase insana de jogos. O empate em três a três com o Rangers (comandado pelo inglês Steven Gerrard) deixou bem claro que os Encarnados ainda oscilam bastante e sentiram demais a expulsão de Otamendi antes da metade do primeiro tempo. Por outro lado, a recuperação nos minutos finais a partir das mexidas de Jorge Jesus mostraram que a sua equipe está, aos poucos, assimilando seus conceitos e realizando os movimentos certos do 4-1-3-2 preferido do treinador português. O Benfica segue nas primeiras posições do seu grupo na Liga Europa e conseguiu reduzir um estrago que seria bem grande.

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Jorge Jesus manteve seu 4-1-3-2 preferido e costumeiro no Benfica. Everton Cebolinha e Rafa Silva jogavam pelos lados, Taarabt chegava mais por dentro e Pizzi e Seferovic se revezavam no comando de ataque. O volume de jogo e a marcação adiantada deram resultado logo no primeiro minuto de jogo, quando o camisa 27 recuperou a bola no campo de ataque e partiu pela direita. O cruzamento para a pequena área encontrou Connor Goldson antes de morrer nas redes do goleiro Allan McGregor. Parecia que as coisas caminhariam para a recuperação dos encarnados após a derrota por 3 a 0 para o Boavista em jogo válido pelo Campeonato Português na última segunda-feira (2). O que se viu, no entanto, foram as oscilações (até certo ponto) normais de uma equipe que tem pouco tempo para treinar e que se desmanchou depois da expulsão do argentino Otamendi.

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Rafa Silva e Everton Cebolinha abriam o campo e abriam espaços para as chegadas de Severovic e Pizzi na área adversária dentro dos movimentos do 4-1-3-2 preferido de Jorge Jesus. A intensidade nas transições e a marcação adiantada deram resultado logo no primeiro minuto de jogo no Estádio da Luz. Foto: Reprodução / FOX Sports

Com a saída de Otamendi, Jorge Jesus reorganizou o Benfica num 4-4-1 com o brasileiro Jardel formando dupla de zaga com Vertonghen e adotando uma postura um pouco mais reativa do que o usual. O grande problema é que o escrete português sofreu a virada em apenas seis minutos, com Diogo Gonçalves (marcando contra) e Kamara acertando o canto direito de Odysseas em chute da entrada da área. O “Mister” tentou dar sangue novo aos encarnados com as entradas de Gilberto (ex-Fluminense) e Grimaldo nos lugares de Diogo Gonçalves e Nuno Tavares. O problema é que os dois falharam na jogada que resultou no terceiro gol dos Rangers (marcado por Morelos) aos seis minutos do segundo tempo. A grande missão de Jorge Jesus naquele momento era fazer com que seu time recuperasse a concentração e tentasse minimizar o estrago dentro de seus domínios.

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Grimaldo falhou na cobertura e deixou Tavernier partir sem marcação pelo lado esquerdo da defesa do Benfica. O camisa 2 partiu sozinho e encontrou Morelos dentro da pequena área. Gilberto (outro que entrou durante o jogo) não cortou o cruzamento que originou o terceiro gol da equipe escocesa. Foto: Reprodução / FOX Sports

Sem muitas alternativas, Jorge Jesus aproveitou que os Rangers diminuíram o ritmo para tentar dar mais força ao ataque do Benfica com as entradas de Darwin Nuñez e Waldschmidt nos lugares de Seferovic e Everton Cebolinha (ambos muito apagados na partida). Com Weigl recuando para fazer a “saída de três” e com os laterais mais espetados no ataque, os Encarnados foram conseguindo ocupar o campo de ataque e chegaram a um empate que parecia impensável nos primeiros minutos do segundo tempo. E o camisa 9 do Benfica foi fundamental ao ocupar espaços e prender os zagueiros Connor Goldson e Filip Helander na defesa. Primeiro fazendo a jogada do segundo gol do Benfica (marcado por Rafa Silva) e depois recebendo passe açucarado de Waldschmidt para tocar na saída de Allan McGregor aos 46 minutos da segunda etapa. Resultado que pode dar moral apesar dos problemas.

Weigl recuava para fazer a “saída de três”, Grimaldo e Gilberto se lançavam ao ataque e Darwin Nuñez se movimentava muito na frente. Na prática, o 4-4-1 se transformou numa espécie de 3-3-3 que ocupava bem os espaços por todo o campo. O empate premiou a ousadia de Jorge Jesus nas substituições. Foto: Reprodução / FOX Sports

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É bem verdade que as últimas atuações do Benfica mostram que a equipe ainda precisa de mais regularidade e consistência para atingir seus objetivos nessa temporada. Mesmo assim, é preciso destacar que os Encarnados já começam a entender bem os conceitos de Jorge Jesus. A equipe foi superior aos Rangers todas as vezes que aplicou intensidade nas transições e conseguiu coordenar bem os movimentos quando esteve com onze jogadores em campo. Principalmente quando seu 4-1-3-2 funcionava como o desejado. Por outro lado, a dupla de zaga formada por Otamendi e Vertonghen (ambos pesados e com mais de 30 anos nas costas) sofre demais para fazer a recomposição. Ainda mais quando os adversários exploram as bolas longas às costas dos dois veteranos. E sem zagueiros rápidos e inteligentes na recomposição, o Benfica sofre toda vez que avança suas linhas.

É óbvio que muita coisa ainda pode mudar nesses últimos meses de 2020. O Benfica tende a crescer conforme for jogando, treinando e compreendendo melhor os conceitos de Jorge Jesus. Mesmo assim, as atuações contra o Boavista e contra o próprio time dos Rangers mostram que os Encarnados ainda oscilam demais. E essa irregularidade pode custar pontos preciosos no Campeonato Português e na própria Liga Europa.

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