Home Futebol PSG atropela o Istanbul Basaksehir com show de Neymar e muitas reflexões para o futuro (dentro e fora de campo)

PSG atropela o Istanbul Basaksehir com show de Neymar e muitas reflexões para o futuro (dentro e fora de campo)

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória do Paris Saint-Germain em jogo válido pela Liga dos Campeões

Por Luiz Ferreira em 09/12/2020 18:23 - Atualizado há 2 meses

Reprodução / Twitter / UEFA Champions League

É difícil encontrar um jogo de futebol que estivesse carregado de tanto simbolismo como esse entre o Paris Saint-Germain e o Istanbul Basaksehir. A partida foi realizada nesta quarta-feira (9), um dia depois dos jogadores das duas equipes deixarem o gramado do Parque dos Príncipes depois que o quarto árbitro (romeno) Sebastian Contescu proferiu ofensas racistas ao ex-atacante Pierre Webó, membro da comissão técnica do escrete turco. Com um novo trio de arbitragem e com mensagens fortes contra o racismo espalhadas por todo o estádio e estampadas no peito dos atletas, o PSG simplesmente atropelou o Istanbul com direito a “hat-trick” de Neymar e grande atuação coletiva dos comandaos de Thomas Tuchel (principalmente Florenzi, Verratti, Paredes e Di María). Mas o que vai ficar para a história é mesmo o marco que todos aqueles que lutam contra o racismo tanto esperavam.

Dentro de campo, o Paris Saint-Germain foi absoluto diante de um Istanbul Basaksehir que apenas tentou competir e que já não tinha mais chances de classificação nem para a Liga Europa. Tudo por conta do 3-1-4-2 utilizado por Thomas Tuchel no escrete parisiense que liberava Florenzi e Bakker para se junta à dupla de ataque (formada por Mbappé e Neymar) e que bloqueava os espaços com Paredes, Verratti e Rafinha Alcântara no meio-campo. O show começou aos 21 minutos do primeiro tempo com o camisa 10 pegando uma bola na intermediária, dando uma caneta no cabo-verdiano Carlos Ponck e chutado colocado no ângulo esquerdo de Günok. Golaço com a grife de um “Adulto Ney” cada vez mais coletivo e cada vez mais participativo no PSG. Alta intensidade nas transições (principalmente nas ofensivas) e bastante compactação nos momentos em que o adversário tinha a posse da bola.

Thomas Tuchel encontrou no 3-1-4-2 a formação que melhor equilibrou os talentos que tem à sua disposição no PSG. Paredes protegia a zaga, Verratti e Rafinha Alcântara organizavam a saída de bola e Neymar resolvia no ataque junto com Mbappé. O Istanbul pouco pôde fazer durante a partida realizada em Paris.

Este que escreve já falou algumas vezes sobre o claro amadurecimento de Neymar no Paris Saint-Germain e na Seleção Brasileira. Embora atípica para todos nós, a temporada de 2020 do camisa 10 foi muito boa por conta dessa mudança de postura dentro de campo. Ainda mais quando o vemos colocando seu talento a serviço das suas equipes. Dentro do já mencionado 3-1-4-2 de Thomas Tuchel, Neymar é muito mais atacante de movimentação do que um meio-campista. E isso jogando a partir da esquerda e cortando pra dentro ou chamando para si a responsabilidade de prender a bola no ataque enquanto seus companheiros aparecem para a tabela ou o passe em profundidade. Sempre usando a habilidade para abrir espaços e acionar Mbappé, Florenzi e Bakker na variação para um 3-3-1-3/3-3-4 proposta por Thomas Tuchel. A evolução tática de Neymar é clara e evidente nesses últimos anos.

Por mais que o Istanbul Basaksehir seja um adversário frágil, a grande verdade é que o PSG fez o que toda equipe que deseja ser protagonista deve fazer em situações como essas: jogar com a máxima intensidade e marcar o máximo de gols possível. E tudo baseado na estratégia de Thomas Tuchel e no ótimo jogo coletivo da equipe francesa. Ainda mais quando a trinca Neymar, Mbappé e Di María está a fim de jogo e com fome de gols. O placar de 5 a 1 (apesar de elástico) não é nem sombra do atropelo que eu e você vimos em Paris. De acordo com o SofaScore, o PSG teve 68% de posse de bola, finalizou 20 vezes ao gol (sendo nove no alvo) e trocou 767 passes durante a partida. Não foi por acaso que Thomas Tuchel descansou alguns de seus principais jogadores e deu minutos a outros que podem ser úteis numa segunda fase de Liga dos Campeões da UEFA, como o jovem Pembélé e o volante Gueye.

Com a goleada construída, Thomas Tuchel foi descansando jogadores e dando minutos a outros sem, no entanto, desfazer seu 3-1-4-2 inicial. O Istanbul Basaksehir tentou reagir com a entrada do brasileiro Giuliano, mas só conseguiu fazer um golzinho com Topal em bola rebatida dentro da área do Paris Saint-Germain.

Foi sim uma partida carregada de simbolismo. Não apenas pela grande atuação coletiva do PSG e pelo “hat-trick” de Neymar. Há coisas que são muito maiores e que merecem muito mais destaque do que um gol no último minuto ou uma defesa milagrosa. A atitude dos jogadores das duas equipes (que peitaram a UEFA e se recusaram a voltar para o campo depois da atitude odiosa do romeno Sebastian Contescu não foi somente um marco importantíssimo na luta contra o racismo no esporte. Foi também uma prova de que quem manda no espetáculo são os jogadores. Impossível não lembrar do histórico discurso de Nelson Mandela no Prêmio Laureus de 2000: “O esporte tem o poder de transformar o mundo. Tem o poder de inspirar. Tem o poder de unir as pessoas de um modo que poucas coisas podem fazer. Fala com a juventude em uma língua que eles conseguem entender. Esportes podem criar esperança onde antes só havia desespero“.

Mais do que um belo jogo de futebol, Paris Saint-Germain e Istanbul Basaksehir mostraram que não basta não ser racista. É preciso ser antirracista e se solidarizar com todos aqueles que sofrem desse que é um dos maiores cânceres da Humanidade. É exatamente por isso que falar do simbolismo dessa partida é muito mais importante do que qualquer esquema tático ou estratégia de qualquer treinador. Ainda mais num momento em que tanta gente perde a vida por causa da cor da pele.

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