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Tecnologia causa controvérsia no Australian Open

Jogadores estão desconfiados das marcações feitas com ajuda da tecnologia

Thais May Carvalho
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e mestranda de Ciências da Comunicação na Universidade de São Paulo, sou colaboradora do Torcedores.com desde 2020. Escrevo sobre diversas modalidades, com foco mais voltado para futebol americano, beisebol, surfe, tênis, futebol, hóquei no gelo e basquete.

Se você acompanhou algum jogo do Australian Open nas noites brasileiras, deve ter percebido a ausência dos juízes de linha em quadra. Isso porque o torneio optou por utilizar a tecnologia Hawkeye para fazer as marcações automáticas em todas as partidas por conta da pandemia.

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Essa situação está causando bastante desconfiança entre os tenistas. Durante os jogos é possível notar que eles constantemente olham as linhas e procuram as marcas da bola na quadra. Para piorar, os jogadores não têm mais a possibilidade de fazer desafios em bolas duvidosas, afinal, a mesma máquina que fez a marcação seria responsável também pela revisão.

Em entrevista com a imprensa francesa, o ex-número 6 do mundo, Gilles Simon, disse que “O maior problema é que [o sistema] não é nem um pouco preciso”. Ele ainda acrescentou: “Sempre temos a ideia de que é pessoal – somos paranóicos e sempre temos a ideia de que o árbitro está nos culpando pessoalmente, e é por isso que ele comete um erro. Mas com a máquina, você não pode levar sua paranóia tão longe. Mas é um problema porque existem grandes diferenças – especialmente onde você pode ver as marcas muito, muito bem. Você pode ver que a chamada que foi feita não é onde a marca está. Então, é um problema.”.

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Além das marcações erradas, o veterano de 36 anos de idade afirmou que o desempenho dos juízes de cadeira também caiu no torneio, pois, com menos chamadas para fazer, eles estão se concentrando menos durante a partida e focando demais em outros aspectos, como o tempo de serviço. “O que eu menos gosto com o Hawkeye é – e eu sei que há uma conexão, e por um tempo, pensei que estava piorando – o nível de arbitragem caiu. Não tenho certeza se há uma conexão com o Hawkeye… os árbitros estão talvez pouco concentrados durante os pontos. E há muitas chamadas de ‘let’ – e se for a máquina, eles não veem.”.

Durante sua partida na segunda rodada, o australiano Nick Kyrgios também reclamou diversas vezes da tecnologia que marca o toque na rede. Ele afirmou que mesmo os saques que passavam a meio metro da linha branca estavam sendo chamadas como ‘let’. A juíza chegou a diminuir a sensibilidade do aparelho no decorrer da jogo, mas o problema continuou. “A marcação de linha, olha, não podemos fazer nada sobre isso pois é por conta da COVID, então é justo. Mas a máquina de rede – se você tem um dispositivo que pode diminuir a sensibilidade, eu só acho que há muitas variáveis.”.

Depois de sua derrota, Frances Tiafoe também afirmou que ele e o adversário Novak Djokovic, que inicialmente se posicionou a favor do uso dessa tecnologia, perceberam que estavam acontecendo chamadas erradas do Hawkeye e de toque na rede. “Desculpe, pela minha linguagem, foi horrível pra c******. Eu odeio isso. Eu não aguento mais. […] não sou fã disso. Acho que nunca vou ser fã. É o que é. Acho que haverá erros. As coisas estão acontecendo muito rápido. Eu entendo que a tecnologia está em um alto nível. Eu simplesmente não acredito nela. Eles vão fazer o que vão fazer. Não importa o que eu diga. Eles não vão mudar nada porque Frances Tiafoe disse isso.”.

O Australian Open foi o primeiro grande torneio a utilizar a tecnologia Hawkeye, ainda em 2007, e ela ajudou a mudar o esporte com a possibilidade dos desafios. Por conta da pandemia, o US Open de 2020 utilizou a máquina para fazer as chamadas de linha em quase todas as quadras e não houve nenhuma grande reclamação. Os organizadores de Wimbledon dizem estar de olho no que acontece na Austrália antes de tomar uma decisão em relação aos juízes de linha, que eles afirmam ser uma parte importante do jogo.

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