Home Futebol Estratégia do América de Cali trava Corinthians em jogo que deve servir de lição para o futuro

Estratégia do América de Cali trava Corinthians em jogo que deve servir de lição para o futuro

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreia analisa a atuação do escrete de Arthur Elias nas semifinais da Libertadores Feminina

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Este colunista não resolveu escrever sobre táticas apenas para passar o tempo. A estratégia, o estudo do adversário e toda a atenção nos detalhes são alguns dos ingredientes que fazem com que equipes mais fracas tecnicamente superem oponentes mais fortes em todos os aspectos. É uma das áreas mais fascinantes do futebol. A eliminação do Corinthians de Arthur Elias da Libertadores Feminina contra um América de Cali extremamente aguerrido, organizado e incrivelmente concentrado tem tudo a ver com esse assunto. Ciente da superioridade do seu adversário, a equipe colombiana se fechou na defesa, negou espaço e fez de tudo para levar a decisão para as penalidades. Após o empate em 1 a 1 no tempo normal (com direito a golaço de Joemar Guarecuco no apagar das luzes), o América de Cali foi preciso em cada cobrança e ainda viu a ótima goleira Katherine Tapia defender duas cobranças.

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Quem acompanha a coluna aqui no TORCEDORES.COM já deve ter visto mais de uma vez que este que escreve já declarou sua admiração pelo futebol do Corinthians e pelo trabalho magnífico de Arthur Elias à frente da equipe. E a campanha na Libertadores Feminina não deixava por menos: foram impressionantes 35 gols marcados e apenas sofrido em toda a competição (justamente o gol de Joemar Guarecuco). Há quem diga que o time de Arthur Elias “subiu no salto” quando Tamires abriu o placar aos 12 minutos do segundo tempo. O problema é que esse tipo de pensamento tira todos os méritos de um América de Cali que foi gigante e absurdamente concentrado em toda a partida. O técnico Andrés Usme entendeu que não poderia encarar o Corinthians de peito aberto e trouxe o aprendizado da derrota por 3 a 0 na fase de grupos ao fechar sua equipe num 4-1-4-1 que vigiava de perto as subidas de Tamires e Katiuscia.

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Diante da superioridade do seu adversário, o técnico Andrés Usme armou o América de Cali num 4-1-4-1 bem compactado e que fechava bem as subidas de Tamires e Katiuscia ao ataque. O Corinthians quase não encontrou meios para chegar no ataque. A marcação na frente da área era implacável. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol TV

O nome disso é estratégia. E o técnico Andrés Usme apostou todas as suas fichas nela. Primeiro para conter os avanços do quarteto ofensivo formado por Gabi Nunes, Vic Albuquerque, Adriana e Crivelari e também para vigiar Andressinha e Gabi Zanotti de perto. Tudo para que as duas volantes do escrete de Arthur Elias não tivessem tanta liberdade para armar o jogo. Não era raro ver cinco ou até seis atletas na frente da área e uma das volantes fazendo perseguições mais curtas na intermediária. A verdade é que o Corinthians só conseguiu melhorar um pouco quando Crivelari deixou o jogo para a entrada de Yasmin. Com Tamires próxima a Gabi Zanotti e Andressinha, o meio-campo corintiano cresceu de produção. E num dos únicos momentos em que a marcação do América de Cali baixou a guarda, o Corinthians abriu o placar em chute da camisa 14 que a goleira Katherine Tapia não conseguiu segurar.

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O Corinthians abriu o placar justamente num dos únicos momentos em que o América de Cali baixou a concentração. Tamires acertou belo chute da entrada da área e a goleira Katherine Tapia não conseguiu segurar. Mesmo assim, o escrete colombiano não sentiu o golpe e seguiu com a estratégia. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol TV

Mas o América de Cali manteve a postura e a estratégia do técnico Andrés Usme. Principalmente nas bolas longas na direção das atacantes. E justo no momento em que o escrete comandado por Arthur Elias já se preparava para comemorar a classificação para a final da Libertadores Feminina, Tatiana Castañeda chutou pra frente, Manuela González dividiu com Pardal e Yasmin (numa falha gritante da defesa corintiana) e a bola sobrou justamente nos pés de Joemar Guarecuco. A camisa 9 do América de Cali fez a movimentação correta no lance e atacou o espaço vazio (às costas de Yasmin e Pardal), percebeu Tainá Borges adiantada e acertou um belo chute da entrada da área. O gol de empate (aos 48 minutos do segundo tempo) praticamente acabou com o ânimo do time do Corinthians, que viu Katherine Tapia defender as cobranças de Gabi Nunes e Diany e garantir a classificação histórica do América de Cali nas penalidades.

Pardal e Yasmin não conseguem cortar o lançamento de Tatiana Castañeda. A bola acabou caindo nos pés da atacante Joemar Guarecuco que viu a goleira Tainá Borges adiantada e acertou um belo chute. Um verdadeiro prêmio para um América de Cali aguerrido, organizado e muito intenso na marcação. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol TV

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O grande mérito do time de Andrés Usme foi compreender aquilo que sua equipe poderia fazer contra o Corinthians, entender aquilo que deu certo no jogo da primeira fase e explorar esses pontos. Não foram poucas as vezes em que as atacantes do América de Cali receberam a bola no ataque em condições de dar sequência às jogadas. Faltava acertar o último passe ou a tomada de decisão na intermediária. Alguns podem ver essa postura do escrete colombiano como “postura de time pequeno” e até mesmo diminuir o feito do time na partida desta quarta-feira (17). Mas é justamente aí que está a graça de toda essa história. O futebol é um dos únicos esportes onde o melhor nem sempre vence e onde os “mais fracos” conseguem se superar com mais frequência. Mas, como está escrito lá no início desta análise, a estratégia e a atenção aos detalhes sempre fazem a diferença no velho e rude esporte bretão.

Nada disso, no entanto, diminui o tamanho do Corinthians de Arthur Elias. Estamos falando de uma equipe que conquistou tudo o que disputou nos últimos anos. Por outro lado, a eliminação na Libertadores Feminina deve servir de lição para o futuro. A atenção nos detalhes, o estudo do adversário, a concentração e a força mental são importantíssimas no futebol. Mesmo em equipes mais qualificadas como essa de Arthur Elias.

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