Home Futebol Palmeiras encerra seu “ano mágico” com a conquista da Copa do Brasil e a consolidação do ótimo trabalho de Abel Ferreira

Palmeiras encerra seu “ano mágico” com a conquista da Copa do Brasil e a consolidação do ótimo trabalho de Abel Ferreira

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o Verdão construiu a vitória sobre o Grêmio de Renato Gaúcho

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Há quem não aprecie o futebol jogado pelo Palmeiras de Abel Ferreira e que o classifique como “retranqueiro” e “pragmático”. Este que escreve nunca se atreveu a falar do gosto de cada um sobre estilos de jogo. O que não se pode fazer, no entanto, é diminuir o tamanho do feito pelo treinador português. São APENAS QUATRO MESES DE TRABALHO num cenário completamente desfavorável. Além da pandemia de COVID-19, da falta de vacinas e do desrespeito às medidas de prevenção da doença por parte de governo e cidadãos, Abel Ferreira teve que lidar com a desconfiança da nossa imprensa esportiva, sempre em busca de resultados e munida de “frases feitas”. A conquista da Copa do Brasil com mais uma vitória sobre um Grêmio desorganizado e sem rumo é a resposta perfeita. Abel Ferreira fez do seu Palmeiras uma equipe extremamente competitiva e consistente. Tudo feito bem ao seu modo.

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Mas é preciso dizer que o Grêmio de Renato Gaúcho começou a partida deste domingo (7) com muita intensidade na marcação no campo adversário e com a entrada de Thaciano no lugar de Jean Pyerre. Os objetivos do treinador gremista eram claros: colocar um jogador para vigiar as subidas de Viña, dar liberdade para Vanderson apoiar o ataque e permitir que Alisson saísse do lado para dentro para explorar os espaços às costas de Felipe Melo (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve) e Zé Rafael. As duas chances desperdiçadas por Alisson e Pepê no começo da partida fizeram com que Abel Ferreira abandonasse o seu 4-2-3-1 costumeiro e adotasse um 4-1-4-1 na sua equipe. Mais veterano e experiente, Felipe Melo ficou mais fixo na frente da zaga e Zé Rafael se juntou a Raphael Veiga. Tudo para aproveitar o espaço às costas de Matheus Henrique e Maicon e a falta de intensidade do escrete gremista.

Gremio vs Palmeiras - Football tactics and formations

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Thaciano ficava de olho nas subidas de Viña ao ataque e liberava Alisson para se movimentar entre as linhas do Palmeiras. Abel Ferreira corrigiu esse problema trazendo Felipe Melo para a frente da zaga e alinhando Zé Rafael e Raphael Veiga num 4-1-4-1 que aproveitou bem a falta de intensidade do Grêmio.

As mexidas no time do Palmeiras ajudaram a expor ainda mais as fragilidades de um Grêmio. Não se trata “apenas” da falta de intensidade. A atuação do Tricolor Gaúcho nas duas partidas da decisão da Copa do Brasil nos mostraram uma equipe que tinha grandes dificuldades para fazer alguma coisa além de levantar bolas na área ou fazer ligações diretas buscando Diego Souza no comando de ataque. Some isso aos problemas defensivos causados pelas escolhas de Renato Gaúcho. Não há nada que justifique a manutenção de Vanderlei no banco de reservas para que Paulo Victor continuasse como titular. Fora isso, a dupla de zaga formada por Paulo Miranda e Kannemann sofreu com a movimentação de Wesley, Rapahel Veiga e Zé Rafael às costas dos volantes Matheus Henrique e Maicon. Todos eles procuravam Luiz Adriano e Rony no terço final seja com passes em profundidades ou com tabelas perto da área.

Não demorou muito para que as escolhas de Abel Ferreira e Renato Gaúcho fizessem efeito dentro de campo. Primeiro com o Palmeiras ocupando bem os espaços na defesa e no ataque. E depois com o Grêmio sofrendo com a lentidão nas transições e com os problemas na cobertura. E dentro desse cenário todo, este que escreve precisa fazer um pequeno adendo. Por mais que Paulo Victor tenha falhado no primeiro do Palmeiras (marcado por Wesley após bela jogada de Raphael Veiga), a postura dos jogadores do Grêmio quando a equipe perde a bola foi simplesmente vergonhosa. Todos olhando e caminhando em campo como se nada tivesse acontecido. O contraste com o adversário era evidente. Ainda mais quando já se sabe que Abel Ferreira costuma cobrar muita concentração e intensidade dos seus atletas. O Palmeiras não sobrou nos dois jogos da final da Copa do Brasil por acaso. O que se via na Allianz Parque era sintomático.

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Com a vantagem no placar, Abel Ferreira apenas recuou as linhas do seu Palmeiras e deu sangue novo ao time com as entradas de Gabriel Menino, Patrick de Paula, Willian e Mayke. Tudo para administrar a vantagem e tirar proveito da desorganização do seu adversário. Renato Gaúcho, por sua vez, repetiu o 3-2-5 do jogo de ida (em Porto Alegre) com Ferreira, Jean Pyerre, Guilherme Azevedo e Churín se juntando a Diego Souza. O problema é que time não fazia nada além de levantar bolas na área. Muito pouco para o elenco que o treinador gremista tem à sua disposição. Mesmo jogando contra um oponente mais qualificado tecnicamente. O gol de Gabriel Menino foi a síntese de tudo que aconteceu no Allianz Parque. Enquanto Renato Gaúcho sofria com os problemas (causados pelas suas escolhas), Abel Ferreira aproveitava todas essas falhas para colocar o Palmeiras no caminho do título.

Palmeiras vs Gremio - Football tactics and formations

Renato Gaúcho empilhou atacantes, mas não conseguiu corrigir os problemas na recomposição e na criação das jogadas. Nada além de bolas levantadas na área diante de um Palmeiras ligado, competitivo e muito concentrado na ocupação de espaços e nos contra-ataques. Título merecido e que teve a marca de Abel Ferreira.

Você pode não apreciar o estilo de jogo do Palmeiras de Abel Ferreira. Mas não tem como negar que o treinador português conseguiu aumentar a competitividade da equipe e potencializar os talentos de maneira assombrosa. São apenas quatro meses de trabalho e a consolidação de um dos anos mais vitoriosos da história do clube. O estilo mais seguro e pragmático, baseado em defesa sólida, força nas bolas aéreas e alta intensidade nos contra-ataques ganhou outra conotação com Abel Ferreira. Não apenas pela manutenção de uma tendência que vem desde os primeiros anos da “Era Crefisa”, mas por entender todo o contexto e saber como tirar o melhor de cada um dentro daquele que é um dos elencos mais qualificados do país. Entender as qualidades dos seus jogadores e saber encaixá-los numa equipe homogênea e equilibrada é tarefa que poucos treinadores conseguem cumprir aqui por essas bandas.

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Abel Ferreira já escreveu seu nome na história do Palmeiras. Vencer a Copa Libertadores da América e a Copa do Brasil em quatro meses de trabalho é feito comparável ao de Jorge Jesus no comando do Flamengo em 2019. Por todo o contexto envolvido nos últimos meses (incluindo a pandemia de COVID-19, os estádios vazios e o calendário bagunçado), o “Mister” do Verdão bate de frente com JJ sem muitas dificuldades.

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