A reduzida pré-temporada e o momento de transição à espera de uma mudança radical de regulamento, prevista para 2022, davam a impressão de que a temporada de 2021 seria mais uma barbada para a Mercedes e, por consequência, para a conquista do histórico octacampeonato por Lewis Hamilton.
Mas os resultados dos testes realizados há duas semanas na pista de Sakhir deixaram no ar a impressão de que a Red Bull pode brigar de igual para igual neste ano. Max Verstappen fez a melhor volta dos três dias de testes, com 1s de vantagem sobre a volta mais rápida de Lewis Hamilton. Além disso, a equipe austríaca aproveitou melhor as sessões, dando 369 voltas ao longo de três dias, contra apenas 304 dos alemães.
“Nosso carro não esteve estável, enquanto a Red Bull pareceu bem forte, tanto em ritmo de corrido como de voltas rápidas”, cravou o chefe da Mercedes, Toto Wolff. Mas seu colega da Red Bull, Christian Horner, foi rápido na resposta. “Somos cautelosos. Não podemos subestimar o tamanho do desafio que temos. Toto está tentando afastar os holofotes, e isso faz parte do jogo.”
Domínio perto do fim?
O predomínio que a Mercedes estabeleceu desde 2014, com seis títulos de Lewis Hamilton e um de Nico Rosberg, em 2016, não é inédito na história da Fórmula 1, mas é certamente o mais longo.
O mais próximo disso foi visto pela McLaren com sete títulos em oito temporadas, entre 1984 e 1994, mas são dois períodos praticamente distintos: nos três primeiros anos, usando motores Porsche, a equipe disputou ferrenhamente com Ferrari e Williams; depois, com o motor Honda, o time britânico foi dominante até 1991.
A Williams que seguiu a esse domínio e a Ferrari dos anos Michael Schumacher são outros exemplos, mas o fato é que todas em algum momento tiveram adversários à altura, o que não aconteceu contra a Mercedes especialmente nos últimos dois anos. A expectativa era que o cenário mudasse com o novo regulamento, que deveria começar neste ano mas foi adiado em uma temporada por causa da pandemia. Tal decisão transformou 2021 numa temporada de transição.
Futuro de Hamilton a conta-gotas
A possibilidade de superar Schumacher e chegar ao oitavo título é um dos motores de Hamilton. O atual campeão só acertou novo contrato com a Mercedes no começo de fevereiro e por apenas esta temporada. Seu futuro ainda é incerto, mas o britânico se diz empolgado. “Estou comprometido e parece que está será a temporada mais excitante de todas. Os times estão próximos e a competição vai ser boa”, cravou. “No fim do não verei se estou pronto para parar.”
Sua principal ameaça ao título vem do holandês Max Verstappen, que parece pronto para liderar a Red Bull de volta ao título que não vem desde 2013, ano do tetracampeonato de Sebastian Vettel. Mas ele jura não se animar com resultados de testes. “Claro que é bom andar na frente, mas os testes não dizem nada. A Mercedes ainda é favorita. Como não ser, depois de ganhar tudo nos últimos sete anos”, disse. Parece que não é só um lado que quer jogar a responsabilidade para o outro.
Coadjuvantes a postos
A temporada tem um sabor extra: nas principais equipes, à exceção da Mercedes, houve troca de pilotos. Valteri Bottas seguirá como escudeiro de Hamilton, enquanto a Red Bull, insatisfeita com o desempenho de Alexander Albon, buscou a experiência de Sergio Perez. O mexicano havia ficado a pé após depois que a Racing Point, agora Aston Martin, foi buscar a experiência de Sebastian Vettel.
O alemão, que viveu um último ano tenebroso na Ferrari, tenta provar acima de tudo a si mesmo que ainda pode ser competitivo. “Ainda estou me acostumando a algumas coisas, isso leva tempo. Mas estou feliz, relaxado e acho que será um grande ano”, diz Vettel, que dividirá a equipe com Lance Stroll – o filho de Lawrence Stroll, principal acionista da equipe.
A Ferrari, por sua vez, manteve o talentoso Charles Le Clerc e apostou no espanhol Carlos Sainz, que fez boas temporadas em uma ascendente McLaren disposta a retomar os anos de glória – especialmente depois de voltar a contar os motores Mercedes.
Para o lugar de Sainz, o time laranja buscou na Renault o sorridente Daniel Ricciardo. Aos 32 anos, o australiano é outro que tenta ainda se mostrar competitivo. “Estou preocupado porque testamos pouco, mas o carro parece confiável e isso é importante”, afirmou.
Uns chegam, outros estão de volta
Com a perda de Ricciardo, a Renault optou por uma bola de segurança: Fernando Alonso, que já pilotou duas vezes pela equipe e, depois de dois anos fora da Fórmula 1, foi escolhido para liderar o renovado projeto, que mudou de nome e cor: o amarelo deu lugar ao azul e a equipe vai usar o nome Alpine. O outro piloto continua sendo o francês Esteban Ocon.
Na AlphaTauri, segunda equipe da Red Bull, Pierre Gasly ganhou a companhia do japonês Yuki Tsunoda, completando o grupo de equipes que vão brigar pelos pontos e tentar beliscar algum lugar eventual no pódio.
Duas das equipes que andaram nos últimos lugares em 2020 não mexeram na formação. A Alfa Romeo segue com o veterano Kimi Raikkonen e o já não tão novato Antonio Giovinazzi, enquanto a Williams manteve George Russell e Nicolas Latifi.
Já a norte-americana Haas aparentemente cansou de ser a escada de humor da série Drive to Survive. Dispensou os trapalhões Romain Grosjean e Kevin Magnussen e usou o DNA para selecionar dois novatos, Mick Schumacher e Nikita Mazepin. Um é filho do heptacampeão Michael Schumacher, que dispensa apresentações; outro, de um magnata russo do petróleo que injetou um caminhão de dinheiro e mudou até as cores do time, que usava preto e agora corre quase como uma bandeira da Rússia, em branco, azul e vermelho. Mas a prioridade deles, assim como de Alfa Romeo e Williams, é não comer poeira: o que vier é lucro.
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