Home Futebol Título da Copa do Brasil fecha temporada mágica do Atlético-MG com chave de ouro; confira a análise da decisão

Título da Copa do Brasil fecha temporada mágica do Atlético-MG com chave de ouro; confira a análise da decisão

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a atuação do time comandado por Cuca em nova vitória sobre o Athletico Paranaense de Alberto Valentim

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
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Daqui a alguns anos (quando a cabeça deste que escreve estiver muito mais grisalha do que já está), vamos nos lembrar dos feitos desse Atlético-MG e do inesquecível ano de 2021. Foi o ano da quebra de tabus, de redenção de uma torcida que não abandonou seu clube em nenhum momento e de um time que simplesmente atropelou seus adversários de maneira implacável. O título da Copa do Brasil veio com mais uma vitória sobre o Athletico Paranaense marcada pelo melhor estilo trabalhado por Cuca em toda a temporada: intensidade alta, movimentação constante, rapidez nas transições ofensivas e muita coordenação na pressão pós-perda. Foi também o ano de Hulk (apontado por este que escreve como o melhor reforço do futebol brasileiro assim que ele foi anunciado pelo Galo), Keno, Zaracho, Junior Alonso, Guilherme Arana e vários outros nomes que compõem o elenco mais estrelado da história do Atlético-MG.

É verdade que a goelada na partida de ida praticamente selou a conquista da Copa do Brasil. No entanto, Cuca e seus jogadores mantiveram o foco e jogaram como se o confronto do último domingo (12) não tivesse existido. Armado no tradicional 4-4-2, o Galo foi um pouco mais cauteloso, é verdade. Mas sempre levou perigo quando Vargas, Hulk e Keno aceleravam na direção do gol defendido por Santos. Do outro lado, Alberto Valentim adotou um 4-2-3-1 “torto” com Léo Cittadini pelo lado direito e a aposta em Zé Ivaldo, Christian e Pedro Rocha completando o onze inicial. E como era de se esperar, o Athletico Paranaense pressionando bastante seu adversário na base do “abafa” e das bolas levantadas na área em busca de Renato Kayzer (que mais brigou com os adversários do que jogou no período em que esteve em campo). Por pouco, Anderson Daronco não perdeu o controle da partida no início diante dos lances mais ríspidos.

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Atletico-MG vs Athletico Paranaense - Football tactics and formations

Cuca manteve o 4-4-2 no Atlético-MG com o que tinha de melhor à disposição. Já Alberto Valentim desfez a linha de cinco defensores e apostou num 4-2-3-1 “torto”.

O objetivo de Alberto Valentim com o “novo” desenho tático era claro. Soltar Marcinho para abrir o campo e explorar as subidas de Guilherme Arana ao ataque, ganhar superioridade numérica no meio-campo com Léo Cittadini mais próximo de Terans, Christian e Erick e deixar Pedro Rocha mais próximo de Renato Kayzer. O gol anulado do camisa 32 foi uma ducha de água fria nos torcedores que faziam a festa na Arena da Baixada e também nos jogadores do Furacão. Bastou uma pequena queda no ritmo para que o Atlético-MG encaixasse seu primeiro contra-ataque e balançasse as redes pela primeira vez. Vargas inicia a jogada por dentro, passa para Zaracho que vê Keno se deslocando às costas da zaga do Athletico Paranaense. Todo o lance é uma aula de conceitos táticos e mostra muito bem o que o escrete comandado por Cuca é capaz de fazer quando tem campo, tempo e espaço para acelerar e construir suas jogadas ofensivas.

Vargas acelera, Zaracho arrasta a marcação e Keno ataca o espaço. O primeiro gol do Atlético-MG é uma aula de construção ofensiva. Imagens: Reprodução / TV Globo / GE

Mas a organização defensiva do Atlético-MG também chamava a atenção (e talvez este seja um dos pontos menos comentados sobe o time comandado por Cuca). O Galo se defende MUITO BEM e sabe sair com extrema facilidade e velocidade para o ataque. O 4-4-2 (que lembra um 4-2-2-2 típico dos anos 1990 em determinados momentos e pela força que o escrete mineiro tem atacando por dentro) é bastante compactado e tem em jogadores como Jair, Allan e Zaracho as peças fundamentais para fazer a engrenagem funcionar de acordo com o que Cuca deseja. É verdade que o segundo tempo nos apresentou um Athletico Paranaense mais incisivo com as mudanças de Alberto Valentim (algumas forçadas e outras por opção tática mesmo). Vinicius Mingotti deu mais profundidade ao ataque do Furacão, Fernando Canesin entrou bem no jogo e Jader foi importante na pressão pós-perda. Nada, no entanto, que ameaçasse a vantagem do time de Cuca.

O Athletico Paranaense ganhou um pouco mais de volume ofensivo com as mexidas de Alberto Valentim, mas nem assim conseguiu ameaçar a vantagem do seu adversário na Arena da Baixada. O Galo seguiu controlando as ações e acelerando assim que retomava a posse da bola. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Cuca percebeu que seu Atlético-MG precisava de alguém que cadenciasse e controlasse mais a posse da bola e mandou Nacho Fernández para o jogo no lugar de Vargas. O Galo ganhou mais fluidez na saída de bola e Hulk teve ainda mais liberdade para jogar como referência no meio da zaga adversária. Calebe e Savarino também entraram e mantiveram o nível de intensidade de Zaracho e Keno nas transições ofensivas. Todo o lance do segundo gol atleticano é mais uma amostra perfeita de como esse time consegue controlar o espaço e abrir buracos nas defesas adversárias com movimentações simples. No momento do passe de Savarino, o Atlético-MG tem três jogadores atacando a última linha do Furacão e abrindo o espaço necessário para Hulk avançar e marcar mais um belo gol através da sua famosa “cavadinha”. Gol esse que coroa a temporada magnífica do camisa 7 do Galo e que o coloca como principal jogador atuando no Brasil em 2021.

Savarino recebe a bola na direita e vê Calebe, Nacho Fernández e Hulk atacando a última linha de defesa do Athletico Paranaense. O lance do segundo gol do Galo é uma amostra perfeita do que o escrete de Cuca sabe fazer quando tem espaço e tempo para acelerar as jogadas ofensivas. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Ainda haveria tempo para que Jaderson fizesse o gol de honra do Furacão (aos 41 minutos do segundo tempo). Mas a festa do bicampeonato da Copa do Brasil já estava pronta. O Atlético-MG fecha o ano de 2021 com a Tríplice Coroa e a certeza de que a próxima temporada pode ser ainda mais vitoriosa se o trabalho de Cuca tiver continuidade e se a base do time bicampeão for mantida. Fala-se muito de Hulk (com toda a razão, obviamente), mas este que escreve gostaria de destacar dois jogadores que foram fundamentais nas últimas conquistas. Mariano e Jair. O lateral-direito de 35 anos conhece todos os atalhos da posição e foi importantíssimo no balanço defensivo para liberar Guilherme Arana pela esquerda. E o volante da camisa 8 foi simplesmente um monstro na marcação, na distribuição de passes e nas transições ofensivas. Foi o “motorzinho” de um meio-campo talentoso, brigador e altamente qualificado.

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Difícil encontrar outro time na história do Atlético-MG que tenha conquistado tantas coisas e quebrado tantos tabus como esse de 2021. A maneira como atropelou seus adversários no Campeonato Mineiro, no Brasileirão e na Copa do Brasil foi avassaladora e inquestionável. Cuca tem seus méritos por ter conseguido encontrar o equilíbrio em todos os setores e a melhor formação num elenco recheado de estrelas. E tudo partindo de um desenho tático bem brasileiro, o 4-4-2/4-2-2-2. Grandes treinadores deixam legados e com ele não será diferente. Ainda que seu passado como jogador e que algumas de suas atitudes na beira do gramado sejam questionáveis e condenáveis, fica a certeza de que esse Atlético-MG tem sim a “cara” e o estilo preferido de Cuca e que será lembrado por bastante tempo. Um time intenso, brigador, valente, intenso, ofensivo e que gosta de resolver as coisas da maneira mais rápida possível.

As duas vitórias sobre o Athletico Paranaense nos mostraram uma disparidade técnica e tática imensa nessa final da Copa do Brasil. Talvez a maior da história da competição. É por isso que esse Atlético-MG merece um lugar na história. Daqui a alguns anos, eu e você vamos falar dos nossos cabelos brancos e nos lembrar que o Galo Forte e Vingador encontrou a sua melhor versão em 2021 com Cuca, Hulk, Keno e companhia. Que temporada!

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