O Corinthians chega na sua sexta decisão consecutiva desde a traumática eliminação na Libertadores de 2020. De lá para cá, as comandadas de Arthur Elias marcaram presença nas finais do Brasileirão e no Paulistão Feminino de 2020 e 2021 e na Libertadores do ano passado. Mas a vitória sobre o Real Brasília por 2 a 0 nesta quarta-feira (9) teve a participação especial de uma jogadora que vem somando demais num meio-campo altamente qualificado. Trata-se da colombiana Liana Salazar. Com a saída de Ingryd para a Ferroviária, a camisa 11 vem sendo escalada no Timão como uma das volantes no melhor estilo “box-to-box”, ou seja, aquela que vai de área a área e que participa de todas as jogadas de ataque sem comprometer nos momentos defensivos. E ao que parece, Salazar caiu como uma luva dentro do esquema tático de Arthur Elias. Sem exagero.
Primeiros dias de fevereiro e estamos onde? NA FINAL!
Na Arena Barueri, o Timão bateu o Real Brasília por 2 a 0 e carimbou vaga para a grande final da Supercopa do Brasil. BRABAS DEMAAAAIS! pic.twitter.com/8EOYP4NKkf
— Corinthians Futebol Feminino (@SCCPFutFeminino) February 9, 2022
Por mais que o Real Brasília tenha uma equipe que tenta competir dentro de suas limitações e que possua boas jogadoras (como a goleira Dida, a meia Gaby Soares, a volante Sassá e a atacante Geovana Cristina), o Corinthians era o grande favorito no confronto na Arena Barueri. Com Gabi Portilho no banco e um meio-campo mais preenchido, o Timão se organizava num 4-1-4-1 que variava para um 4-3-3 ou até um 4-2-4 dependendo da movimentação da trinca de meio-campo formada por Diany, Gabi Zanotti e Salazar. Adriana permanecia mais pela direita, Tamires à esquerda (abrindo o corredor para as descidas de Yasmim) e Jheniffer mais centralizada. A ideia de Arthur Elias era preencher mais os espaços e ganhar os duelos físicos no meio-campo para acelerar nos contra-ataques em alta velocidade. Bem como vimos várias e várias vezes em 2021.
Nesse cenário, Salazar jogava um pouco mais à frente de Diany, ajudava na saída de bola e se tornava mais uma atacante quando o Corinthians partia na direção do gol do Real Brasília (que se posicionava num 4-3-3/4-4-2 dependendo do posicionamento de Gaby Soares por dentro). Com as linhas mais avançadas e muita pressão na saída de bola do escrete candango, o Timão conseguiu dominar as ações da partida depois de levar dois pequenos sustos no começo do jogo. Salazar saltava mais da sua linha e Gabi Zanotti se lançava ao ataque como a camisa 10 que é (de fato e de direito) enquanto Adriana e Tamires ficavam de olho nas laterais Roberta Schroeder e Bruna Natieli. Com Sassá bem longe das jogadoras de meio-campo e sem ter para quem passar a bola, o Corinthians conseguiu frear as investidas do Real Brasília e tomar conta do jogo.
O Corinthians entrou em campo num 4-1-4-1 que variava para um 4-3-3 ou um 4-2-4 dependendo do posicionamento das suas jogadoras de meio-campo. Liana Salazar (no destaque) era quem fazia o balanço no setor e ajudava na pressão na saída de bola. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
Quem viu Liana Salazar em campo nesses dois jogos da Supercopa Feminina pode ter ficado com a impressão de que a colombiana já está há pelo menos uns dois anos no clube. A maneira como ela se encaixou no esquema tático de Arthur Elias é um dos pontos que vem deixando o Timão com uma consistência muito boa nesse início de temporada onde até mesmo os times mais entrosados ainda precisam de um tempo para se acertar de verdade. O entendimento com Tamires e Gabi Zanotti no meio-campo é notável. Sempre que uma das duas recua para buscar o jogo, Salazar avança como uma autêntica ponta de lança para ocupar o espaço mais à frente, dar opção de passe e arrastar a defesa adversária. Não foram poucas as vezes em que vimos a colombiana aparecer no terço final com mais frequência. Essa movimentação é o grande diferencial do Corinthians nesse início de temporada.
Tamires recua, Yasmim abre o campo, Gabi Zanotti volta pela direita e Salazar avança para o terço final. Essa dinâmica do meio-campo do Corinthians vem sendo o grande diferencial da equipe nesse início de temporada e se adaptando muito bem. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
Difícil não perceber em Liana Salazar a jogadora que complementa o talento de Diany, Gabi Zanotti e várias outras no Corinthians. Ela pode jogar mais recuada (como o fez em alguns momentos) e ainda aparecer na frente exatamente como no lance do segundo gol da partida desta quarta-feira (9), marcado aos quatro minutos da segunda etapa. E mais uma vez a pressão do Timão funcionou com Tamires e Gabi Zanotti forçando o erro na defesa do Real Brasília e a camisa 37 levando a bola até a linha de fundo e esperando até o último momento. Jheniffer e Adriana arrastavam as zagueiras adversárias para abrir o espaço onde a colombiana apareceu para dominar com categoria, ajeitar o corpo e acertar o canto direito da goleira Dida. Gol que teve a marca de uma ideia muito bem assimilada e muito bem executada pelas jogadoras dentro de campo.
Tamires parte para a linha de fundo, Adriana e Jheniffer arrastam a marcação e abrem o espaço que Salazar ataca no lance do segundo gol do Corinthians em cima do Real Brasília. Toda essa movimentação é fruto de uma estratégia muito bem executada. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
É óbvio que não se pode projetar o restante da temporada por conta de um recorte de apenas duas partidas. Ainda mais quando todas as grandes equipes do futebol feminino brasileiro ainda buscam a sua melhor forma física e o entendimento dentro e fora de campo. Como já mencionamos mais de uma vez aqui no TORCEDORES.COM, esse é um processo que demanda tempo e paciência. Por outro lado, quando falamos do Corinthians de Arthur Elias, as coisas parecem ficar mais fáceis. Primeiro por conta do entrosamento que já existe entre as jogadoras. E segundo por causa da rápida compreensão das ideias do treinador por parte de quem está chegando agora. Esse é o caso de Liana Salazar e de outras atletas que estão entrando aos poucos. O que é certo é que o Corinthians manteve o nível de intensidade bem alto e concedeu poucas chances ao Real Brasília.
O futuro a Deus pertence. Mas parece que a volante colombiana tem tudo para se transformar num dos grandes xodós da torcida. Por hora, é bom dar tempo ao tempo e deixar que as coisas aconteçam naturalmente numa equipe que já escreveu seu nome na história do futebol feminino mundial. Liana Salazar chegou, conquistou seu espaço num Corinthians estrelado e vem mostrando ótimo entendimento das ideias de Arthur Elias. Difícil não ver a camisa 11 como a grande notícia e uma das grandes esperanças de títulos do clube nessa temporada que promete ser longa, desgastante e cheia de obstáculos.
