Time do Cruzeiro faz o Corinthians sofrer mais do que o normal na base da organização e dos contra-ataques
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação das equipes de Arthur Elias e Felipe Freitas no jogo desta sexta-feira (18)
Rebeca Reis / Staff Images Woman / CBF
Todos nós concordamos que o Corinthians ainda é o time a ser batido no futebol feminino brasileiro e sul-americano. E é justamente por isso que a equipe comandada por Arthur Elias passou a ser altamente visada e estudada por todos seus adversários diretos e indiretos. A vitória (suada) sobre o Cruzeiro nesta sexta-feira (18), no Canindé, foi construída muito mais em cima da falha da goleira Rubi no lance do gol de Miriã do que através da imposição física e técnica das jogadoras corintianas. Isso porque Felipe Freitas apostou num bloco médio e com forte pressão na saída de bola do seu adversário para retomar a posse e explorar bem a profundidade com as velozes Mariana Neiva, Vanessinha, Robinha e Mariana Santos. Difícil não perceber que o Corinthians sofreu muito mais do que o normal.
Três pontos garantidos pelas Brabas do Timão! 🦅
Com gol da Miriã, o @SCCPFutFeminino venceu o Cruzeiro por 1 a 0 e conquistou a segunda vitória na minha disputa! #BrasileirãoFemininoNeoenergia 🇧🇷 pic.twitter.com/MnFARChtrg
— Brasileirão Feminino Neoenergia (@BRFeminino) March 19, 2022
Este que escreve, no entanto, não está ignorando o contexto da partida desta sexta-feira (18). O Corinthians entrou em campo com uma equipe bem diferente daquela que conquistou a chamada Tríplice Coroa na temporada passada (o Paulistão, o Brasileirão Feminino e a Libertadores) por conta de uma série de motivos. Nomes como Katiuscia e Érika se recuperam de lesão, Gabi Zanotti, Adriana, Liana Salazar e Gabi Portilho estão sendo preservadas e o time está recuperando o entrosamento de outros tempos aos poucos. Movimentos mais do que naturais desse início de temporada, mas que também apontam para um desgaste físico e mental de um elenco que conquistou tudo o que disputou em 2021.
E foi em cima disso que Felipe Freitas armou o time das Cabulosas. Com o quarteto ofensivo explorando bastante a profundidade com bolas mais longas e a defesa corintiana ainda desorganizada, o Cruzeiro tratou de dar alguns sustos na goleira Lelê no primeiro tempo. É verdade que o Timão ainda conseguia se impor na base da técnica e do preparo físico, mas essa falta de entrosamento e de rodagem de algumas jogadoras mais novas acabou fazendo a diferença em determinados momentos. Principalmente no sistema defensivo, onde Juliete e Tamires concederam espaços demais para suas adversárias. Faltava às Cabulosas, no entanto, alguém para colocar a bola dentro da “casinha”.

Mesmo com menos posse de bola e com dificuldades para atacar, o Cruzeiro conseguiu explorar bem os problemas defensivos do Corinthians de Arthur Elias. Juliete e Tamires concediam espaços demais no lado esquerdo da defesa. Foto: Reprodução / SPORTV
A primeira etapa também nos mostrou um Cruzeiro que variava bastante a altura do seu bloco de marcação. Ele podia se posicionar mais próximo da área da goleira Rubi ou adiantar suas linhas até a altura do meio-campo para forçar o erro na saída de bola do Corinthians. O problema é que, além da definidora no ataque, faltava ao time de Felipe Freitas uma jogadora que pudesse organizar as linhas de marcação na frente da zaga. Sempre que Giovana Campiolo, Diany ou Mariza conseguiam um mínimo de espaço para trabalhar a bola, os passes de ruptura saíam e o jogo do Corinthians fluía com uma certa facilidade. Principalmente por conta dos espaços abertos depois da primeira linha de pressão das Cabulosas. Bastou que Arthur Elias organizasse um pouco sua equipe para que Jaqueline e Bianca Gomes fossem mais acionadas.

Mariana Neiva, Robinha, Vanessinha, Mariana Santos e Nine adiantavam a marcação, mas o resto do time do Cruzeiro não acompanhava o movimento. Isso abria espaços demais na intermediária e facilitava a vida do Corinthians. Foto: Reprodução / SPORTV
Logo depois do intervalo, Arthur Elias mandou Liana Salazar e Grazi para o jogo (nos lugares de Bianca Gomes e Mariza) e viu sua equipe abrir o placar com Miriã aproveitando cobrança de escanteio de Tamires do lado direito e a falha incrível da goleira Rubi. Com Adriana e Gabi Portilho no jogo, o Corinthians passou a ter ainda mais a posse de bola e recuperou parte da intensidade que eu e você vimos com frequência na temporada passada. Mesmo assim, o sistema defensivo sentia demais a falta de ritmo, de entrosamento e até mesmo de concentração. Numa das melhores chances do Cruzeiro, Karen puxa o contra-ataque e lança Mariana Santos às costas de Juliete. A camisa 25 cruza para a área, Vanessinha domina, mas finaliza para fora. O início da jogada mostra bem o posicionamento ruim da defesa do Timão.

Marília vê Karen puxando a marcação e faz o passe. A camisa 30 lança Mariana Santos na direita e esta cruza para Vanessinha finalizar para fora. A melhor chance do Cruzeiro aproveitou bem os espaços na defesa do Corinthians Foto: Reprodução / SPORTV
Por mais que a vitória do Corinthians fosse o resultado esperado, é preciso dizer que a equipe de Arthur Elias sofreu muito mais do que deveria nesta sexta-feira (18). Conforme mencionado anteriormente, este que escreve não ignora o contexto de início de temporada e as condições físicas das principais jogadoras do elenco corintiano. Por outro lado, precisamos reconhecer que os demais times que disputam o Brasileirão Feminino (além de terem estudado bastante o atual campeão nacional e sul-americano) subiram ainda mais o sarrafo e o nível de exigência da principal competição da modalidade no país. Ver um Cruzeiro ou um Red Bull Bragantino vendendo caro suas derrotas ou até mesmo um Atlético-MG competindo e arrancando pontos do Timão pode ser algo mais comum do que eu e você estamos pensando.
Isso porque o futebol feminino evoluiu. Corinthians, Ferroviária e outras equipes de história e tradição dificilmente vão nadar de braçada no Brasil como acontecia em outros anos. A qualidade está aumentando e o investimento também. E a certeza de que se manter no topo é muito mais complicado do que chegar lá fica cada vez mais forte. O Timão vem sentindo isso nesse início de Brasileirão Feminino.


