Home Futebol Mesmo sem agradar a todos, Fluminense mantém rotina de vitórias e consolida estilo pragmático de Abel Braga

Mesmo sem agradar a todos, Fluminense mantém rotina de vitórias e consolida estilo pragmático de Abel Braga

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória do Tricolor das Laranjeiras sobre o Millonarios e a classificação na Libertadores

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É quase impossível questionar os números de Abel Braga no comando do Fluminense. São dez vitórias em onze partidas, 16 gols marcados e apenas três sofridos na atual temporada. Além disso, o Tricolor das Laranjeiras está a apenas uma vitória do título da Taça Guanabara, já se garantiu na fase final do Campeonato Carioca e se classificou para a terceira fase eliminatória da Copa Libertadores da América. A vitória sobre o Millonarios foi a décima seguida da equipe e nos apresentou vários momentos do futebol objetivo e sem firulas de Abelão. Há sim pontos a serem corrigidos, como a falta de controle das partidas e a ausência de um jogador com mais capacidade de criação no meio-campo tricolor. Mesmo sem agradar a todos, Abel Braga vem consolidando seu trabalho e seu estilo mais pragmático num Fluminense altamente competitivo e consistente.

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É verdade que o início da temporada ainda impende análises mais profundas de qualquer time do país. Ainda mais sabendo que o nível de exigência que veremos num Brasileirão ou numa fase de grupos da Libertadores será muito maior do que o dos campeonatos estaduais. Por outro lado, a maneira como Abel Braga vem usando o Cariocão para dar rodagem e minutos aos seus jogadores ajuda a explicar a boa fase do Fluminense. As experiências que começaram com Felipe Melo jogando como terceiro zagueiro num 3-4-2-1 indicaram que o caminho mais seguro era posicionar o experiente camisa 30 como volante à frente da zaga num 4-1-4-1 bastante semelhante ao que Abelão usou no Internacional em 2020.

Mas talvez a maior qualidade desse Fluminense seja realmente a capacidade de “saber sofrer”. Mesmo não jogando tão bem (como aconteceu contra o Flamengo e na duas partidas contra o próprio Millonarios), o time consegue tirar forças para vencer seus adversários e esconder alguns problemas naturais nesse início de temporada por conta de todo o contexto já levantado anteriormente aqui neste espaço. Mas só até certo ponto. Este que escreve entende bem que Abel Braga tem seu estilo de jogo e suas convicções e que essa sequência de vitórias está resgatando aquilo que o experiente treinador tem de melhor. Por outro lado, há como a equipe jogar mais e controlar melhor seus adversários.

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Falando especificamente do jogo desta terça-feira (1), o Fluminense até começou bem e se impôs no campo de ataque durante os primeiros minutos em São Januário com Luiz Henrique e Willian Bigode circulando no espaço entra as linhas do adversário. O problema, no entanto, é que o nível de intensidade do Tricolor das Laranjeiras foi diminuindo aos poucos. Consequentemente, o Millonarios foi crescendo e criando dificuldades para o Tricolor das Laranjeiras com David Silva aparecendo pelos lados juntos aos pontas Celis e Daniel Ruiz para criar superioridade numérica. Isso acabava confundindo a marcação dos volantes e bagunçando as perseguições individuais do time do Fluminense. Mesmo com Felipe Melo atuando como volante num 4-1-4-1, o time Abel Braga concedeu espaços demais. Tanto que Herazo e Vega perderam boas chances na frente de Fábio.

Felipe Melo jogou como volante no 4-1-4-1 mais definido de Abel Braga, mas o Fluminense concedeu espaços demais para o Millonarios. Herazo (duas vezes) e Vega desperdiçaram boas chances na frente de Fábio durante a primeira etapa. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

O intervalo foi importantíssimo para que Abel Braga corrigisse o posicionamento defensivo do Fluminense e cobrasse mais intensidade e atenção por parte de seus jogadores. O comandante tricolor é daqueles que sabem muito bem como “jogar com o regulamento debaixo do braço” e que não tem receio nenhum de ser pragmático quando o contexto o exige. Mesmo com a torcida pedindo por nomes como John Arias e Martinelli desde o começo da partida em São Januário. Estava mais do que claro que Abel Braga tinha um plano para esse jogo e que ele iria executa-lo mesmo sem agradar a todos. O Fluminense passou a ocupar mais o campo de ataque, encaixou a marcação e conseguiu empurrar o Millonarios para trás.

O gol de Willian Bigode (marcado aos 15 minutos da segunda etapa) acalmou um pouco o time e explorou ainda mais os espaços que seu adversário deixava na defesa. E foi aí que Abel Braga foi muito bem ao mandar John Arias para o jogo no lugar de Germán Cano (que estava em noite mais discreta do que o usual). O 4-1-4-1 passou a ter mais cara de 4-3-3 com o camisa 21 à esquerda, Luiz Henrique à direita e Willian Bigode se movimentando por dentro e abrindo espaços para a chegada dos volantes André e Yago Felipe. Principalmente este último que conseguiu encaixar uma boa arrancada e deu o passe para o gol de Arias aos 27 minutos da segunda etapa. Gol que teve a cara do Fluminense e de Abel Braga.

Willian Bigode arrasta a marcação, Luiz Henrique centraliza e Yago Felipe ataca o espaço. Lá em cima (mais pelo lado esquerdo), John Arias parte em diagonal e recebe o passe na entrada da área antes de deslocar o goleiro Montero. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

A vantagem no placar facilitou ainda mais as coisas para o Tricolor das Laranjeiras. Por mais que o Millonarios atacasse (ainda que de maneira desorganizada), a impressão que ficava era a de que o Fluminense estava mais próximo de marcar o terceiro (ou o quarto) do que de ser vazado. Méritos de Abel Braga que conseguiu melhorar o time no intervalo apenas corrigindo o posicionamento dos jogadores em campo e chamando a atenção para os erros na marcação em cima do escrete colombiano. Ainda que o estilo mais pragmático do experiente treinador seja motivo de críticas de várias pessoas (dentro torcedores e jornalistas), precisamos sim reconhecer que Abelão vem fazendo um bom trabalho e consolidando cada vez mais a sua “marca” num Fluminense altamente competitivo e muito difícil de ser batido. Os números da equipe nessa temporada falam por si só.

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Há como se compreender bem os pedidos da torcida por John Arias e Martinelli, por exemplo. Os dois vêm de ótimas atuações e estão mostrando para todos nós que merecem sim mais chances. É o campo que está falando e isso não pode ser contrariado. Por outro lado, também precisamos reconhecer que a grande fase do Fluminense na temporada se deve ao trabalho de Abel Braga e à maneira como ele vem gerindo um grupo repleto de jogadores experientes e vitoriosos. É verdade sim que o time ainda sofre com problemas que podem ser muito bem explorados por adversários mais fortes e mais organizados. Mas isso faz parte do processo de amadurecimento de uma equipe que demonstra não temer nenhum desafio. A jogada do segundo gol tricolor na vitória sobre o Millonarios nesta terça-feira (1) é a prova de que o time tem sim um estilo que já podemos chamar de consolidado.

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Abel Braga pode não agradar a todos os torcedores que exigem uma equipe mais solta e mais ofensiva e aos jornalistas que o consideram “ultrapassado”. Mas precisamos nos ater ao que o campo tem nos mostrado. E o que ele nos mostra é que o Fluminense está muito longe de ser uma equipe perfeita. Mas compete como poucos no futebol brasileiro e possui uma consistência notável até mesmo para um início de temporada. E isso não é pouca coisa não.