Goleada sobre o São José não esconde o fato de que as Sereias da Vila ainda possuem pontos vulneráveis

Quem acompanha o velho e rude esporte bretão há algum tempo sabe muito bem que qualquer partida (mesmo as goleadas tidas como inquestionáveis) pode nos mostrar muita coisa sobre a atuação de um time. A goleada do Santos sobre o São José em partida disputada neste domingo (13), na Vila Belmiro, é mais um desses casos. Isso porque a equipe comandada por Tatiele Silveira não se permitiu ser incomodada durante boa parte dos noventa e poucos minutos de partida. No entanto, as Sereias da Vila encontraram algumas dificuldades quando as Meninas da Águia conseguiram vencer a pressão alta das suas adversárias e tentaram forçar o erro na saída de bola do escrete da Vila Belmiro. A impressão que fica é a de que o Santos conquistou o resultado muito mais por conta da fragilidade do São José do que por méritos próprios.

Grande atuação para garantir os três pontos! 🧜‍♀️

Com todos os gols na etapa inicial, as @SereiasDaVila venceram o São José e conquistaram a primeira vitória no #BrasileirãoFemininoNeoenergia! pic.twitter.com/VO1oBepSDN

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— Brasileirão Feminino Neoenergia (@BRFeminino) March 13, 2022

Não que uma coisa anule a outra. As Sereias da Vila fizeram exatamente o que se esperava delas diante de um adversário mais fraco. Principalmente com todo o espaço que Cristiane, Ketlen e Fernanda (a melhor em campo na humilde opinião deste que escreve) encontravam às costas da linha de cinco defensoras montada por Guilherme Giudice. Organizado no 4-4-2 tradicional de Tatiele Silveira, o Santos teve todo o espaço do mundo para trabalhar a bola desde o seu campo sem ser incomodado pelo São José. Brena e Ana Carla apareciam na frente a todo instante, Bia Menezes e Bruninha se somavam a elas e o quarteto ofensivo das Sereias levava ampla vantagem sobre suas adversárias nos passes em profundidade.

Com Cristiane mais centralizada, Fernanda, Ketlen e Gi Oliveira se movimentando bastante (e deixando o 4-4-2 de Tatiele Silveira com cara de 4-2-3-1 em alguns momentos), o Santos aproveitava muito bem os problemas de marcação da última linha defensiva do São José. E olha que Guilherme Giudice apostou num 5-4-1/3-4-3 de bloco mais baixo para aproveitar os contra-ataques com Larissa Vasconcelos, Ju Oliveira e Bea explorando as costas das volantes santistas. Além das boas triangulações das Sereias da Vila (que resultaram em belos gols), a equipe conseguiu os espaços que queria depois que Fernanda abriu o placar aos dez minutos da primeira etapa em belíssimo contra-ataque.

Ketlen fez o segundo gol das Sereias da Vila após bela jogada de Bia Menezes e Ana Carla pelo lado esquerdo (conforme o frame acima). O problema é que o São José (mesmo errando demais na marcação e no posicionamento defensivo) expôs alguns problemas da equipe do Santos a partir do momento em que ensaiou uma pressão na saída de bola. Ainda que de maneira um pouco desordenada, as Meninas da Águia conseguiram fazer com que Ana Carla errasse o passe sem perceber que Ketlen estava muito melhor posicionada e pronta para iniciar o ataque. Ju Oliveira interceptou, percebeu que a goleira Vivi estava adiantada, acertou o corpo e fez um golaço (talvez o mais bonito da rodada). O São José conseguia respirar numa partida em que o Santos fazia o que queria em campo.

No entanto, não demorou muito para que o Santos retomasse o controle da partida e marcasse mais duas vezes (aos 34 e aos 46 minutos do primeiro tempo) com Cristiane (um em bela cabeçada após cobrança de escanteio e outro em penalidade que ela mesma sofreu). Na segunda etapa, o time de Tatiele Silveira diminuiu um pouco o ritmo com as substituições, mas ainda teve momentos de boa troca de passes e de intensidade alta com a bola na trave de Fernanda, o gol de Bruninha anulado por impedimento e a chance desperdiçada por Cristiane na frente da goleira Zany. E a tônica da partida na Vila Belmiro continuava a mesma. O São José pouco agredia e pouco exigia do Santos na marcação mesmo jogando com uma linha de cinco na defesa. Muito pouco para quem vinha de vitória sobre o Avaí/Kindermann.

É verdade que as Sereias da Vila tiveram todos os méritos na construção da goleada sobre o São José por conta da ótima atuação coletiva no jogo deste domingo (13). Por outro lado, este que escreve ainda está com a sensação de que o escrete de Tatiele Silveira conseguiu ser eficiente muito mais por conta das enormes dificuldades na marcação por parte do São José. A facilidade com que o talentosíssimo ataque das Sereias da Vila entravam na área das Meninas da Águia era espantosa. E chamava ainda mais a atenção o fato do time de Guilherme Giudice não ter conseguido encaixar a marcação e tirar o espaço do ataque santista em nenhum momento da partida. Na única vez em que adiantou suas linhas e forçou o erro do adversário, o São José conseguiu fazer seu golzinho de honra. E isso diz muita coisa.

Está bem claro para este colunista que as Sereias da Vila são muito difíceis de serem batidas quando enfrentam adversários que concedem muito espaço ou que marcam mal. A vitória sobre o São José foi justíssima, mas ela também expôs alguns dos pontos vulneráveis do escrete de Tatiele Silveira. Por mais que Cristiane, Ketlen, Fernanda, Brena e companhia ainda imponham muito respeito, ainda será preciso elevar o nível de intensidade contra adversários mais fortes.