Home Futebol Vasco sofre para empatar com o CRB em atuação marcada pelo nervosismo e pela desorganização defensiva

Vasco sofre para empatar com o CRB em atuação marcada pelo nervosismo e pela desorganização defensiva

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Marcelo Cabo e Zé Ricardo os problemas do Trem Bala da Colina no jogo deste sábado (16)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Eu e você sabemos muito bem que o Vasco não anda lá muito bem das pernas faz algum tempo e que as boas atuações do time comandado por Zé Ricardo em 2022 podem ser contadas nos dedos de uma das mãos. O empate com o CRB seguiu o mesmo roteiro da estreia do Trem Bala da Colina na Série B (contra o Vila Nova): desorganização defensiva, nervosismo, pouquíssimas ideias no meio-campo e dependência quase completa dos passes e lançamentos de Nenê. Tanto que não foi por acaso que o gol de Raniel nasceu de um cruzamento do camisa 10 vascaíno. Do outro lado, o simpático Galo da Pajuçara fazia aquilo que se esperava dele. Forte marcação (forte até demais em alguns casos), muita velocidade pelos lados e boa movimentação no setor ofensivo. Não é exagero afirmar que o CRB teve mais chances de sair do Estádio Rei Pelé com a vitória do que o Vasco.

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Isso porque o time comandado por Marcelo Cabo deu a impressão de estar mais organizado e muito mais concentrado no jogo do que seu adversário na noite deste sábado (16). Nem parecia que a torcida do CRB fazia a festa nas arquibancadas por conta do título estadual conquistado na última quarta-feira (13) em cima do Asa de Arapiraca. O escrete alagoano fechava bem os lados do campo, povoava a entrada da área e baixava bastante as suas linhas. Tudo para ter espaço para Maicon acionar os pontas Fabinho e Richard nos contra-ataques em alta velocidade e explorar a lenta e problemática transição defensiva do Vasco de Zé Ricardo. Esse, aliás, foi o panorama de toda a partida em Maceió.

O treinador do Trem Bala da Colina, por sua vez, até que tentou dar mais gás ao seu time com as entradas de Figueiredo e Gabriel Dias nos lugares de Bruno Nazário e Weverton. O desenho tático utilizado era o mesmo do CRB: o 4-2-3-1. A diferença estava na dinâmica que cada equipe usava com e sem a bola. No caso do Vasco, era Zé Gabriel quem recuava entre as linhas para fazer a “saída de três” e Yuri se juntava ao quarteto ofensivo nos momentos de construção. O problema é que todo o escrete de São Januário sofria horrores com a falta de velocidade na troca de passes. E isso facilitava demais a vida do Galo da Pajuçara, que se mostrava mais ligado e mais concentrado no jogo.

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Por mais que o Vasco tenha começado o jogo deste sábado (16) tentando tocar mais a bola, valorizar a posse e buscar as jogadas pelos lados do campo (com Gabriel Pec e Figueiredo), os problemas coletivos não demoraram quase nada para aparecer no Estádio Rei Pelé. A lentidão na troca de passes e as tentativas frustradas de furar a defesa do CRB logo deram lugar ao nervosismo provocado pelo gol de Richard logo aos nove minutos da primeira etapa. E a facilidade com que o escrete de Marcelo Cabo manipulou as linhas de defesa do Vasco foram enormes. Principalmente quando Edimar soltou a pressão para fechar o espaço de Maicon e este viu a chegada de Yago pelo lado direito de ataque. Gabriel Pec ainda tentou acompanhar o camisa 8 do Galo da Pajuçara, mas não conseguiu evitar o passe para Richard no meio dos zagueiros Anderson Conceição e Quintero.

Maicon recebe a bola de Raul Prata e vê Yago atacando o espaço que aparece entre os defensores vascaínos depois que Edimar saltou para pressão. O CRB construiu seu gol manipulando muito bem a última linha de defesa do seu adversário. Foto: Reprodução / Premiere / GE

A desvantagem no placar fez com que o time do Vasco se desarrumasse completamente na primeira etapa e só conseguisse levar algum perigo na base das bolas paradas e dos cruzamentos para a área. O time de Zé Ricardo até conseguiu chegar ao empate no Estádio Rei Pelé com Raniel completando cruzamento de Nenê que veio da esquerda (aos 37 minutos do primeiro tempo). Aliás, as escapadas do camisa 10 vascaíno pelos lados do campo é uma das únicas jogadas mais trabalhadas pelo Trem Bala da Colina que realmente dá algum resultado. Difícil ver alguma outra coisa além disso no time comandado por Zé Ricardo. Nenê, de fato, é o líder natural da equipe, o “treinador” dentro de campo e a principal referência técnica entre tantos jogadores recém-chegados. Mas não pode ser o único responsável pela criação no Vasco. É muito pouco. Principalmente na Série B.

Gabriel Pec centraliza e abre o corredor para Nenê ir até a linha de fundo e servir Raniel no lance do gol do Vasco. As escapadas do camisa 10 pelos lados do campo é uma das únicas jogadas que realmente funcionam no time de Zé Ricardo. Foto: Reprodução / Premiere / GE

O panorama da partida pouco mudou na segunda etapa. O Vasco seguia completamente dependente do futebol de Nenê e encontrando muitas dificuldades diante da linha de cinco defensores improvisada por Marcelo Cabo com o recuo de um dos pontas pelo lado do campo. Mesmo com menos tempo de posse de bola e menos finalizações a gol, era o CRB quem conseguia levar mais perigo. Isso porque seu adversário seguia marcando muito mal na frente da área e apresentando uma certa inocência nos botes na frente da área. Quintero era quem mais saltava para a pressão quando o Galo da Pajuçara chegava perto do gol de Thiago Rodrigues e era quase sempre envolvido porque Maicon sempre encontrava um companheiro de equipe livre atacando as costas dos laterais vascaínos. As redes só não foram balançadas mais uma vez porque o CRB falhou nos momentos decisivos.

Fabinho, Anselmo Ramon e todo o setor ofensivo do CRB encontravam muito espaço às costas da defesa do Vasco. O escrete de Zé Ricardo esteve pouco organizado e só não foi derrotado porque Thiago Rodrigues salvou e o ataque falhou nos momentos decisivos. Foto: Reprodução / Premiere / GE

A grande verdade é que o Vasco segue sem identidade e sem um mínimo de criatividade. Tirando as escapadas de Nenê pelos lados do campo, o time mostrou muito pouco nessas duas primeiras rodadas da Série B do Brasileirão. E talvez o ponto mais preocupante seja o fato de que a equipe de Zé Ricardo não conseguiu se impor diante de dois adversários que provavelmente não vão brigar pelo acesso. Há sim como se destacar alguns pontos positivos, como o oportunismo de Raniel, a polivalência de Yuri Lara, a segurança de Thiago Rodrigues e a boa estreia de Gabriel Dias pela lateral-direita. De resto, o que se viu no Estádio Rei Pelé ainda é muito pouco para quem pretende açlçar voos mais altos nos próximos meses. Falta muita coisa ao Vasco. Falta organização, solidez e mais entrosamento entre os jogadores. Falta, sobretudo, traquilidade.

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A atuação contra o CRB deixou bem claro que o escrete de São Januário ainda precisa melhorar muita coisa se quiser se livrar do calvário da Série B. Zé Ricardo tem a seu favor o argumento de que está “trocando o pneu do carro com ele andando”. Mas precisa mostrar muito mais do que um 4-2-3-1 totalmente dependente de Nenê e que não mostre nada além de cruzamentos para a área. Há sim como se tirar coisas boas desse elenco. Mesmo com a ausência dos nomes que a torcida vascaína tanto deseja.