Home Futebol Cruzeiro escancara a falta de unidade do Flamengo na base da pressão na saída de bola e da organização ofensiva

Cruzeiro escancara a falta de unidade do Flamengo na base da pressão na saída de bola e da organização ofensiva

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a goleada das Cabulosas e as ideias de Luis Andrade e Felipe Freitas

Por Luiz Ferreira em 19/04/2022 11:47 - Atualizado há 4 anos

Nayra Halm / Staff Images / CBF

É plenamente possível afirmar que o Cruzeiro de Felipe Freitas nos apresentou sua faceta mais aplicada taticamente falando nesta segunda-feira (18). A goleada sobre um Flamengo frágil e pobre de ideias foi marcada pela intensidade, pela organização ofensiva, pela concentração e pela noite inspiradíssima de Marília, autora de três dos quatro gols das Cabulosas e a melhor em campo disparada. Do outro lado, o time comandado por Luis Andrade teve uma das suas piores atuações coletivas na temporada e foi praticamente engolido pelo seu adversário no primeiro tempo. Ainda que o Fla tenha melhorado no segundo tempo com as entradas de Leidi, Stella e Maria Pimenta, a necessidade de ajustes em todos os setores é urgente. Ainda mais diante da clara dependência do talento de Duda, Thaísa e Maria Alves.

Somando as seis primeiras rodadas do Brasileirão Feminino com a participação do Flamengo na Brasil Ladies Cup e na Supercopa Feminina, Luis Andrade chegou a onze partidas no comando da equipe rubro-negra. Este que escreve entende perfeitamente que esse número ainda é um recorte extremamente pequeno para se fazer uma avaliação do trabalho do treinador português. Por outro lado, está mais do que claro que não juntar um punhado de jogadoras experientes e mandar todo mundo para o jogo. Não será a “mística” ou o “peso da camisa” que vai fazer com que um time vença jogos e levante taças. É preciso muito mais do que isso. E é essa unidade de pensamentos que segue bem longe do Flamengo.

A intenção aqui não é “fritar” Luis Andrade ou o elenco rubro-negro. Conforme mencionado anteriormente, onze partidas (pouco mais de quatro meses) ainda é um período extremamente pequeno para se analisar mais profundamente qualquer equipe do mundo. Ainda mais no futebol jogado por mulheres, onde se joga muito menos do que no masculino e a estrutura é muito mais precária (vide os horários das partidas e o estado do gramado de alguns estádios). Mesmo assim, já era para o Flamengo estar mostrando alguma coisa além da fanfarronice dos seus dirigentes e dos gritos de Luis Andrade na beira do gramado. A impressão que fica é a de que todo mundo esperava um encaixe quase “mágico” do time.

FLAMENGO 2 X 4 CRUZEIRO | MELHORES MOMENTOS | 6ª RODADA BRASILEIRÃO FEMININO 2022 | ge.globo

É preciso dizer também que Felipe Freitas foi muito mais feliz nas suas escolhas. Isso porque o posicionamento de Marília no setor ofensivo das Cabulosas confundia a defesa do Flamengo a todo momento. A camisa 20 podia jogar como a referência móvel que abre espaços para as entradas de Vanessinha e Mariana Santos em diagonal ou assumir o papel de “enganche” na frente de Rafa Andrade, Robinha e Mari Pires no meio-campo. Esse posicionamento dificultava demais a saída de bola do Flamengo e facilitava bastante a pressão na portadora da bola. Não foram poucas as vezes em que Duda (ainda bem longe das suas melhores condições físicas) teve que recuar para iniciar a construção das jogadas de ataque. Com o meio-campo a quilômetros da defesa, o Flamengo se transformou em presa fácil para o Cruzeiro.

Marília atuava como a “enganche” do Cruzeiro de Felipe Freitas e foi o principal nome da goleada sobre o Flamengo. A camisa 20 circulava por todo o campo e abria espaços para as chegadas de Mariana Santos e Vanessinha. Foto: Reprodução / SPORTV

Por mais que todo o contexto esteja sendo levado em consideração nesta humilde análise, este colunista não pode deixar de apontar os problemas do trabalho de Luis Andrade. É público e notório que o treinador português tem predileção por equipes propositivas, de intensidade alta e forte pressão na portadora da bola. Só que as últimas partidas estão deixando bem claro que algumas jogadoras estão com certa dificuldade para assimilar esses conceitos mais modernos. Monalisa tem sérios problemas defensivos, Rayanne estava claramente sem ritmo de jogo e Gisseli pouco ajudou na marcação pelo lado esquerdo. E isso sem mencionar as terríveis tomadas de decisão de todo o escrete rubro-negro.

Não é fácil fazer um time jogar de maneira coesa e consistente apenas em onze partidas. Ao mesmo tempo, o que se viu em campo nesta segunda-feira (18) foi um Flamengo completamente desorganizado e sem um mínimo de padrão tático. Thaísa (que já não estava numa noite lá muito feliz) ficou isolada na saída de bola e se transformou em presa fácil para a marcação do Cruzeiro. E nesse ponto, o time comandado por Felipe Freitas executou o plano de jogo com muito mais eficiência do que o Fla. Desde o posicionamento do setor ofensivo, a maneira como o meio-campo saltava para a pressão no momento certo, tudo deu incrivelmente certo para as Cabulosas no jogo disputado na Ilha do Governador.

Marília, Mariana Santos e Vanessinha fechavam as linhas de passe do Flamengo e isolavam as volantes das demais jogadoras de meio-campo. As Cabulosas executaram muito bem o plano de jogo proposto por Felipe Freitas. Foto: Reprodução / SPORTV

A vantagem de quatro gols conquistada no primeiro tempo não era nenhum exagero. A impressão que ficava era a de que o Flamengo descia para o intervalo num lucro enorme. Tanto que o Cruzeiro diminuiu um pouco o ritmo na segunda etapa, baixou mais as suas linhas e passou a explorar mais os contra-ataques. Vanessinha desperdiçou uma chance incrível de fazer o quinto gol das Cabulosas aos 19 minutos. Andressa Dedê, Leidi, Stella e Maria Pimenta entraram no jogo e deram mais consistência ao time de Luis Andrade com mais força na marcação e mais acerto nos passes. Tanto que o primeiro gol rubro-negro (marcado por Duda aos 36 minutos do segundo tempo) nasceu de uma das poucas boas jogadas de linha de fundo, movimentação intensa e de ocupação de espaços do Flamengo em toda a partida.

Monalisa aparece às costas de Nine e vai até a linha de fundo enquanto Maria Pimenta e Duda Rodrigues arrastam a marcação para trás. Duda aparece por dentro e só escora para as redes. Uma das poucas boas jogadas do time. Foto: Reprodução / SPORTV

Andressa Dedê ainda faria o segundo gol do Flamengo (aos 44 minutos do segundo tempo) numa falha incrível de Rubi em finalização despretensiosa da intermediária. Mas a grande verdade é que o time de Luis Andrade demorou muito para produzir algo de útil na partida desta segunda-feira (18). Méritos do Cruzeiro de Felipe Freitas, Marília (a melhor em campo disparado), Nine, Mariana Santos, Robinha, Rafa Andrade e companhia, que souberam explorar todos os problemas crônicos do seu adversário e conquistaram o resultado que dá sim confiança para a sequência desse Brasileirão Feminino. Foi possível notar ideias de jogo bem claras no escrete das Cabulosas. Tanto que a atuação no primeiro tempo deve ser levada como exemplo de boa execução e ótimas tomadas de decisões nas mais variadas situações.

Já o Flamengo segue em busca de uma unidade. Difícil não concluir que Luis Andrade busca uma unidade, uma coesão que anda bem longe do time rubro-negro nessas últimas semanas. É óbvio que Darlene faz muita falta e que Duda ainda busca as suas melhores condições físicas. A questão é que o treinador português não pode ser refém do talento das suas melhores jogadoras. Faltou organização, faltou intensidade e faltou consistência. Faltou tudo no Fla. E isso é preocupante.

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