Home Futebol Algumas considerações honestas e um tanto impopulares sobre os pedidos de chances para Hulk na Seleção Brasileira

Algumas considerações honestas e um tanto impopulares sobre os pedidos de chances para Hulk na Seleção Brasileira

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as qualidades do atacante do Atlético-MG e explica por que Tite prefere outros ao invés dele

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É bem provável que Hulk seja citado em nove de cada dez rodas de conversa sobre a Seleção Brasileira e os jogadores que devem (ou não) ser chamados por Tite para a disputa da Copa do Mundo do Catar. Apenas Raphael Veiga e Gabigol parecem ter o mesmo apelo por parte da imprensa e do torcedor. De fato, o atacante do Atlético-MG tem muita qualidade, se readaptou muito rápido ao futebol brasileiro e foi o grande nome da edição do Brasileirão de 2021 com sobras. É difícil encontrar um atacante brasileiro que tenha um faro de gol tão apurado como o seu e que consiga unir experiência e forte preparo físico com tanta eficácia. Por outro lado, precisamos lembrar sempre que futebol é CONTEXTO. E é essa palavrinha mágica que afasta Hulk da Seleção Brasileira. Pelo menos nesses primeiros meses de 2022.

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Matheus Cunha, Richarlison, Gabriel Jesus e outros atacantes chamados nesse último ciclo já mostraram mais de uma vez que possuem plenas condições de vestir a camisa amarelinha e fazer uma excelente Copa do Mundo caso estejam no grupo que vai para o Catar. Exatamente como Hulk o fez e faz sempre que entra em campo pelo Atlético-MG. Na prática, existem dois pontos que reforçam os pedidos pelo camisa 7 do Galo na Seleção Brasileira. O primeiro está na ausência de um “homem-gol” na equipe comandada por Tite. E o segundo está nas palavras do próprio treinador sobre algumas vagas que ainda não foram preenchidas no setor ofensivo. Hulk já demonstrou faro de gol apurado várias vezes e sua experiência poderia sim ser muito útil.

No entanto, também precisamos sempre lembrar que o nível de competitividade do futebol brasileiro é bem menor do que o do futebol jogado na Europa. E a análise de cada um dos possíveis convocados por Tite leva em consideração fatores importantes como o desempenho individual, a experiência e a capacidade de somar qualidades a um elenco já bastante qualificado. Hulk mostrou que pode desequilibrar e que pode sim ser muito útil, mas dentro de um contexto que o favoreça. A questão é que todos os outros nomes convocados para o setor ofensivo (ainda que não sejam “homens-gols”) desequilibraram em cenários muito mais desfavoráveis. E isso é fundamental para se compreender o que se passa na cabeça do treinador da Seleção Brasileira.

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Eu e você vimos o escrete canarinho emplacar as suas melhores atuações quando Tite apostou na entrada de Raphinha como ponta pela direita e na adoção de um 4-4-2/4-2-4 que trazia Neymar jogando ao lado de uma referência móvel no ataque. Essa formação pode variar (como nas partidas contra Chile e Bolívia), mas a aproximação dos jogadores no setor onde está a bola e a ocupação de espaços é fundamental para que as coisas funcionem como o esperado. Nesse ponto, Tite já testou Matheus Cunha, Richarlison, Gabriel Jesus e até mesmo Lucas Paquetá (num esquema sem atacante de ofício e que dependeu demais das entradas em diagonal dos pontas com os “pés invertidos”) e ainda não encontrou o nome certo para jogar ao lado do camisa 10. E é essa lacuna que Hulk poderia ocupar sem muitas adaptações.

A Seleção Brasileira teve suas atuações mais sólidas jogando num 4-4-2/4-2-4 com Neymar e outro jogador se revezando no comando de ataque. Tite ainda não encontrou o nome ideal para jogar ao lado do camisa 10. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL

Hulk se destacou no Atlético-MG jogando num 4-4-2 de altíssima intensidade, muitas trocas de posição e manipulação de espaços. Embora os estilos adotados por Cuca e Tite tenham algumas diferenças básicas em determinados pontos, o ataque tem suas semelhanças. O camisa 7 do Galo não é o tipo de atacante que gosta de jogar como referência (até por conta da sua formação como ponta pela direita). Assim como Gabigol (outro nome que está no radar), gosta de explorar o espaço e de criá-los a partir de passes em profundidade para aproveitar seu chute fortíssimo de esquerda ou aparecer às costas da última linha como fez tantas e tantas vezes na campanha vitoriosa da tríplice coroa conquistada pelo Atlético-MG em 2021.

A chegada de Antonio “El Turco” Mohamed ao Galo no início do ano mudou muito pouco o estilo de jogar da equipe mineira. Este que escreve destacou a capacidade de adaptação do treinador argentino na análise publicada aqui mesmo neste espaço no mês de janeiro. O 4-4-2 virou um 4-2-3-1 e ganhou novos contornos (com Nacho Fernández jogando por dentro com Zaracho e Keno pelos lados) e novas peças, como o volante Otávio e o atacante Ademir. Hulk segue como uma “referência híbrida” no Atlético-MG. Não joga fixo e nem se move por todo o setor ofensivo, mas sempre busca o espaço entrelinhas e nas costas da defesa. Mesmo com quase 36 anos, ainda está em boa forma física e segue no posto de principal jogador atuando no Brasil.

Antonio “El Turco” Mohamed substituiu Cuca e quase não mudou a maneira de jogar do Atlético-MG. O 4-4-2 deu lugar a um 4-2-3-1, mas Hulk segue como a “referência híbrida” do Galo, sempre procurando o espaço para atacar. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A conquista do título da Supercopa do Brasil em cima do Flamengo e do Campeonato Mineiro sobre o eterno rival Cruzeiro reforçaram ainda mais os argumentos favoráveis à convocação de Hulk para a Seleção Brasileira. Mesmo assim, precisamos levar em consideração todo o contexto no qual o jogador do Atlético-MG vem se destacando e as dúvidas que surgem quando o cenário não é dos mais favoráveis. E esse é um fator levado em consideração por Tite. Não se trata de falar se o treinador está certo ou errado, e sim de entender o que se passa na cabeça dele. Em boa forma física, Hulk poderia render muito na Seleção Brasileira dependendo de cada situação. Mas o que fazer quando o contexto não o favorecer? Esse é o ponto e foi exatamente o que se passou no empate com o Coritiba neste sábado (23).

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Hulk fez um bom primeiro tempo jogando no 4-2-3-1/4-2-4 de “El Turco” Mohamed contra o Coritiba neste sábado (23). No entanto, o jogador teve dificuldades quando o Coxa apertou a marcação e equilibrou o jogo no segundo tempo. Foto: Reprodução / Premiere / GE

Tite mostrou seu valor mais de uma vez e os jogadores escolhidos pelo treinador entenderam muito bem sua filosofia de jogo. Os jogos contra Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia nos mostraram uma equipe que consegue manter a intensidade mesmo quando suas principais estrelas não podem estar em campo por este ou aquele motivo. O ponto aqui é mostrar que não existe perseguição, panela ou qualquer coisa do tipo no escrete canarinho. Isso porque Tite vem levando aqueles que melhor se adaptam às dificuldades que cada cenário traz. Hulk é um grande jogador, mas será que ele (com 36 anos de idade) ainda tem condições de encarar o nível de exigência de uma Copa do Mundo? Por mais que o futebol nos reserve surpresas, a lógica nos mostra que alguns nomes estão alguns patamares acima de Hulk.

É bom deixar bem claro que os argumentos colocados acima não invalidam uma possível convocação de Hulk para a Seleção Brasileira caso Tite julgue necessário. Ainda mais sabendo que ele ainda busca um “homem-gol” para sua equipe. Dentro desse contexto, o camisa 7 do Atlético-MG pode sim se encaixar no escrete canarinho, mas a dúvida sobre seu aproveitamento numa Copa do Mundo sempre vai existir. Mesmo com todo o apelo de torcedores e imprensa que estamos vendo ultimamente.

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