Home Futebol Intensidade, movimentação e quebra de recordes: Athletico Paranaense mostra que tem bola pode ir mais longe

Intensidade, movimentação e quebra de recordes: Athletico Paranaense mostra que tem bola pode ir mais longe

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Luiz Felipe Scolari e a goleada sobre o Caracas nesta quinta-feira (26)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É verdade que o Caracas quase não ofereceu perigo para o Athletico Paranaense na Arena da Baixada. Embora ainda tivesse chances de classificação para as oitavas de final, o time comandado por Francesco Stifano esteve muito desorganizado e mostrou até uma certa ingenuidade em alguns lances. Por outro lado, isso não diminui em nada a grande atuação coletiva do escrete comandado por Luiz Felipe Scolari. Na prática, o Furacão fez aquilo que deve ser feito quando uma equipe enfrenta um adversário inferior tecnicamente. Os 5 a 1 sobre o Caracas foi a maior goleada do Athletico Paranaense na Copa Libertadores da América e deixou a impressão de que o time pode ir mais longe. Ainda mais tendo Felipão no banco de reservas, um dos treinadores que melhor conhece os caminhos e atalhos da competição mais importante do continente.

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Para a noite ser completa em Curitiba, só faltou mesmo a confirmação da liderança do Grupo B. No entanto, ela acabou ficando com o Libertad (do Paraguai) após a vitória por 4 a 1 em cima do The Strongest (da Bolívia). Mesmo assim, o saldo é extremamente positivo. Há muitas coisas boas para se tirar da vitória sobre o Caracas para a sequência da temporada em termos técnicos e táticos. Esse último ponto é importantíssimo para entendermos o impacto que Luiz Felipe Scolari vem tendo no Athletico Paranaense. O pentacampeão do mundo não fez nada de especial ou muito elaborado. Apenas escalou os jogadores onde eles rendem mais, deu confiança para nomes como Pablo, Hugo Moura, Terans e Christian e organizou melhor os setores do Furacão.

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E foi exatamente o que vimos no jogo desta quinta-feira (26). O Athletico Paranaense entrou em campo no 4-2-3-1 preferido de Felipão. Pablo era a referência móvel do setor ofensivo que ainda contava com Terans chegando por dentro e Canobbio e Cuello saindo da diagonal para dentro e abrindo o corredor para as chegadas de Khellven e Abner Vinícius. Mais atrás, Hugo Moura guardava mais sua posição e Christian (o melhor em campo na opinião da Conmebol e para este que escreve) pisando na área exatamente como Paulinho (hoje no Corinthians) fazia em 2013 e 2014 na Seleção Brasileira. O Caracas (que jogava em algo próximo de um 4-3-1-2) encontrava dificuldades enormes para conter tanto volume ofensivo e fechar as linhas de passe na frente da sua área.

Formação inicial das duas equipes na Arena da Baixada. Luiz Felipe Scolari mandou o Athletico Paranaense a campo no seu 4-2-3-1 preferido e viu a equipe amassar o Caracas com movimentação constante e muita intensidade.

Não demorou muito para que o Athletico Paranaense se impusesse em campo e transformasse essa superioridade em gols. Pablo (visivelmente mais à vontade no Furacão) marcou duas vezes aos 18 (em bela jogada individual) e aos 21 minutos do primeiro tempo (após desviar chute de Terans da entrada da área). O time jogava de maneira mais solta, mas com agressividade nas transições e explorando bem o espaço que os laterais Rivillo e Notaroberto deixavam às suas costas. Mas o ponto alto do escrete comandado por Luiz Felipe Scolari eram as trocas de posição na intermediária ofensiva. Se Pablo recuava por dentro ou pelos lados, Christian infiltrava para ocupar o espaço aberto pela movimentação do camisa 5. Enquanto isso, os pontas Cuello e Canobbio davam opção de passe próximos do setor onde estava a bola.

Pablo recua e Christian avança por dentro para ocupar o espaço aberto pela movimentação do camisa 5. O ponto alto do plano de jogo de Felipão no Athletico Paranaense foram essas trocas de posição no setor ofensivo. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Era possível notar um padrão claro de jogo no Athletico Paranaense. Abner Vinícius tendia a jogar um pouco mais aberto pela esquerda (quase como um ponta) enquanto Cuello cortava para dentro. Do outro lado, Canobbio era muito mais agudo e sempre buscava a diagonal. Já Khellven se apresentava mais por dentro como mais uma opção de passe para Terans, Pablo e Christian. Até mesmo Hugo Moura (volante mais conhecido pelo poder de marcação) apareceu mais à frente na goleada sobre o Caracas. Este que escreve entende que o escrete venezuelano competiu muito pouco diante de um adversário intenso e agressivo no ataque. Mas é preciso deixar bem claro que Luiz Felipe Scolari vem conseguindo tirar o melhor dos seus jogadores. Todos parecem mais à vontade nessa formação. Essa leveza é bem perceptível no Furacão.

Embora o Athletico Paranaense tenha voltado do intervalo mais disperso (e tenha levado o gol de Rivero logo aos 12 minutos em saída errada do goleiro Bento), a equipe de Luiz Felipe Scolari seguiu mandando e desmandando na partida. Erick, Marlos e Pedro Rocha entraram nos lugares de Hugo Moura, Terans e Canobbio respectivamente e ajudaram a manter o nível do primeiro tempo. O quarto gol do Furacão (marcado aos 25 minutos da segunda etapa) pode ter nascido de belíssima jogada individual de Christian, mas é bom destacar que ele só teve espaço porque Pablo, Cuello e companhia foram arrastando a zaga do Caracas para trás e abriram o espaço necessário para o camisa 39 atacar. São detalhes pequenos no meio de tantas variáveis, mas que deixam evidente o impacto positivo de Luiz Felipe Scolari vem causando no time do Furacão.

Marlos, Pedro Rocha, Cuello e Pablo arrastam a zaga e abrem o espaço para Christian na entrada da área. A movimentação do quarteto ofensivo foi a grande arma do Athletico Paranaense a goleada sobre o Caracas. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Ainda haveria tempo para Pedro Rocha marcar o quinto gol em bela jogada trabalhada com Pablo. O placar mais elástico foi justo diante de tudo aquilo que eu e você vimos na Arena da Baixada. O Athletico Paranaense ganhou mais fluidez e muito mais objetividade depois da chegada de Luiz Felipe Scolari. A defesa formada por Pedro Henrique e Nicolás Hernández parece mais sólida e melhor posicionada. A confiança dada a jogadores como Christian, Pablo e Terans também é mais um aspecto positivo da chegada do treinador pentacampeão do mundo. Por mais que o conceito da “Família Scolari” tenha mais de 20 anos, a impressão que fica é a de que o qualificado elenco do Furacão precisava de um afago, de alguém que acalmasse os ânimos. Com o time mais leve e mais tranquilo, as coisas começaram a funcionar conforme o esperado.

Este que escreve entende que o Caracas não pode ser parâmetro para diagnósticos mais profundos e que Luiz Felipe Scolari fez apenas a sua quinta partida no comando do Athletico Paranaense. O time ainda precisa ser testado contra adversários mais fortes para provar seu valor. Mesmo assim, o Furacão tem peças para ir mais longe do que muita gente pensa hoje em dia. Ainda mais com Felipão querendo provar seu valor e calar os críticos. Eu não duvidaria.