Home Futebol Haaland, Manchester City e o encaixe que promete abalar as estruturas do futebol mundial

Haaland, Manchester City e o encaixe que promete abalar as estruturas do futebol mundial

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica porque o atacante norueguês é tão especial e como ele deve ser utilizado por Pep Guardiola

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Poucas contratações geraram tanta expectativa como o acerto de Erling Haaland com o Manchester City. Não somente por se tratar de um dos melhores centroavantes do mundo na atualidade (talvez abaixo apenas de Benzema e Lewandowski), mas pelo seu potencial de crescimento e pelo encaixe quase perfeito no escrete comandado por Pep Guardiola. Aliás, essa é a grande esperança de todos aqueles que amam o velho e rude esporte bretão e vibram com um jogo mais voltado para o ataque (exatamente como os mais românticos pregam e defendem). Nesse ponto, a chegada de Haaland também deve resolver um dos problemas mais crônicos do Manchester City: a falta de um “homem-gol” desde a saída de Kun Agüero. Mas o norueguês tem a seu favor a mobilidade e movimentação que Pep Guardiola tanto pede do seu time. É o tipo de encaixe que promete abalar as estruturas do futebol mundial caso dê certo.

Há quem compare o impacto do acerto de Haaland com o Manchester City com a chegada de Ibrahimovic ao Barcelona no final em 2009 ou com a contratação de Lewandowiski pelo Bayern de Munique em 2014. Contextos diferentes que produziram resultados distintos. Mas é bom destacar que também estamos falando de jogadores que foram treinados por Pep Guardiola. Difícil separar o treinador espanhol das grandes contratações dos últimos quinze anos. Por que a expectativa em cima de seu trabalho é gigantesca. Ainda mais sabendo o que ele já fez no comando do Barcelona há pouco mais de uma década. Não é exagero afirmar que sempre se espera o máximo de Pep quando o assunto é futebol.

Com Haaland, no entanto, a situação é diferente (ainda que o treinador seja o mesmo). Ele vai fazer 22 anos em julho, é alto (1,94m), forte (88 kg) e sabe os caminhos para se chegar ao gol adversário como poucos no mundo. Apesar do tamanho, tem explosão física e está familiarizado com o “jogo de posição” praticado e defendido por Pep Guardiola nesses últimos anos. Apesar disso tudo, este que escreve não acredita num encaixe imediato de Haaland no Manchester City por conta da necessidade de se dar tempo para que o processo de adaptação e entrosamento aconteça da maneira mais adequada. Por outro lado, a expectativa não deixa de ser alta. Ainda mais sabendo do que “Majin Boo” é capaz.

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É preciso sempre lembrar que estamos falando de um dos jogadores mais talentosos da nova geração. O posicionamento dentro e fora da área impressiona pela inteligência acima da média e pela leitura dos espaços nas defesas adversárias, a capacidade de finalizar e passar bem com os dois pés e a técnica apurada em todos os fundamentos é assombrosa. Além disso tudo, Haaland dificilmente perde o foco durante uma partida e não descansa até que a bola esteja beijando o barbante. Toda essa intensidade e movimentação casam perfeitamente com tudo aquilo que Pep Guardiola quer de um atacante. E os números justificam toda essa expectativa. Desde que iniciou a carreira no modesto Bryne (clube que atualmente disputa a segunda divisão norueguesa), Haaland já marcou impressionantes 154 gols em 198 partidas. Marcas impressionantes mesmo num calendário mais inchado do que era há vinte anos.

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Quando estourou no Red Bull Salzburg (da Áustria) em 2019/20, Haaland marcou incríveis 28 gols em 22 jogos antes de se transferir para o Borussia Dortmund onde assumiu o posto de sensação após quebrar recordes de Harry Kane e Mbappé na Liga dos Campeões. Na edição de 2020/21 (quando tinha apenas 20 anos), foi o jogador mais jovem a atingir a marca de 20 gols na competição e aquele que o fez em menos tempo (apenas 14 partidas). Para efeito de comparação, o artilheiro do Manchester City nas últimas três temporadas é o argelino Mahrez, com 61 gols marcados. Guardiola apostou num 4-3-3 sem referência móvel por conta da ausência desse “homem-gol”. E isso justifica a expectativa pelo encaixe imediato de Haaland nos Citzens. Gabriel Jesus, Bernardo Silva, Phil Foden e até mesmo Kevin De Bruyne já jogaram mais avançados. E nenhum deles têm o faro apurado de gol que Haaland possui. Os números estão aí.

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Não é difícil imaginar o Manchester City jogando no mesmo 4-3-3 costumeiro de Guardiola com Erling Haaland assumindo o papel de referência ofensiva. E ela pode ser mais fixa para segurar os zagueiros ou mais móvel para arrastar a marcação e abrir espaços para as chegadas em diagonal de Phil Foden e Mahrez pelos lados do campo ou de Bernardo Silva e De Bruyne por dentro. Imaginem só o craque belga descolando passes em profundidade para o “Majin Boo” partir em altíssima velocidade e sair na cara do gol. Ou João Cancelo apostando na força física de Haaland nos seus lançamentos precisos às costas das linhas adversárias. Ou o posicionamento perfeito nas bolas aéreas e as tabelas com o restante do quinteto ofensivo de Guardiola assim que sua equipe inverte a pirâmide para um 2-3-5 bastante agressivo nas transições. Não há como não se empolgar com a chegada de Haaland ao Manchester City. Isso é fato mais do que consumado.

Haaland tem tudo para assumir o papel de referência ofensiva no Manchester City. Seu estilo de jogo se encaixa perfeitamente como o “jogo de posição” de Pep Guardiola e ele pode potencializar ainda mais o talento de uma equipe qualificada e muito organizada.

As únicas dúvidas pairam sobre suas condições físicas. Erling Haaland perdeu vários jogos por lesões no quadril e teve certa dificuldade para recuperar o caminho das redes após o período no estaleiro. Existe também a falta de experiência e vivência em jogos grandes muito por conta da idade. Por mais talentoso que seja, o norueguês ainda precisa se provar em jogos grandes. Principalmente na Liga dos Campeões, grande obsessão do Manchester City após a eliminação histórica para o Real Madrid de Benzema, Rodrygo e Vinícius Júnior. Haaland chega com status de peça fundamental e grande contratação de um time que sentiu a ausência de um “definidor de jogadas” várias vezes ao longo das últimas temporadas. A tendência é que o entrosamento com os jogadores e o entendimento das ideias de Guardiola apareçam com o tempo. A expectativa é alta. E o histórico dos Citzens mostra isso muito bem.

É óbvio que existe a chance de não dar certo. Como aconteceu com Ibrahimovic no Barcelona em 2009/10. Já se sabe que Haaland terá que lidar com as cobranças e se adequar com o nível de exigência altíssimo do futebol inglês. Não é por acaso que este que escreve espera que o norueguês encontre certa dificuldade no começo. Mas é bem possível que as estruturas do futebol mundial se abalem assim que o “encaixe perfeito” acontecer entre ele e o Manchester City de Pep Guardiola.

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