Home Futebol A incrível virada do Manchester City e a certeza de que o futebol é a maior invenção da Humanidade

A incrível virada do Manchester City e a certeza de que o futebol é a maior invenção da Humanidade

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a virada sobre o Aston Villa, as escolhas de Pep Guardiola e a conquista da Premier League

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES.COM sabe bem da paixão que este colunista tem pelo velho e rude esporte bretão. E a melhor invenção da Humanidade (depois do sorvete de flocos, do doce de leite mineiro e do pão de queijo) nos brindou com mais uma bela demonstração da sua capacidade de surpreender e criar boas histórias. Algumas delas épicas. Como a virada incrível do Manchester City sobre o Aston Villa, em partida realizada neste domingo (22), no Etihad Stadium. É possível dizer que o jogo que valeu o título da Premier League para o escrete de Pep Guardiola (que conquistou seu décimo título de liga nacional em treze anos de carreira) esteve recheado de elementos que contariam um belíssimo filme. Quem sabe até uma trilogia ou uma série. O que é certo é que os roteiristas dessa história estavam inspiradíssimos.

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A verdade, meus amigos, é que vimos no Etihad Stadium uma das partidas mais emocionantes dos últimos anos. É verdade que o Manchester City dependia apenas de suas forças para levantar mais um título inglês. Bastava vencer o Aston Villa dentro de casa ou, em caso de tropeço, torcer para que o Liverpool não vencesse o Wolverhampton em Anfield Road. Só que o time comandado por Steven Gerrard (antigo ídolo dos Reds) entrou em campo disposto a criar todo tipo de dificuldade para os Citzens. A começar pelo 4-3-2-1 utilizado pelos Lions na partida. Por mais que Bernardo Silva, Gabriel Jesus, De Bruyne, Foden e companhia se movimentassem bastante no capo de ataque, a área do goleiro Olsen estava sempre muito bem protegida. Conforme o tempo ia passando, os jogadores iam se perdendo para o nervosismo e a afobação na hora de concluir as jogadas de ataque.

Formação inicial das duas equipes no Etihad Stadium. Pep Guardiola manteve o seu 4-4-2/4-2-4 costumeiro no Manchester City. Já Steven Gerrard apostou num 4-3-2-1 que liberava Philippe Coutinho e Buendía de obrigações defensivas.

O roteiro dessa história começou a ganhar contornos dramáticos assim que Cash abriu o placar em bela cabeçada após cruzamento de Digne aos 37 minutos do primeiro tempo. De Bruyne, Gabriel Jesus, Foden e companhia erravam lances fáceis e mostravam um nervosismo muito grande. E esse panorama não mudou no segundo tempo. O escrete comandado por Pep Guardiola seguia falhando demais e tropeçando nas próprias pernas diante de um Aston Villa que não tinha lá muitas pretensões na partida deste domingo (22) a não ser colocar mais gasolina nesse incêndio. O (belíssimo) gol de Philippe Coutinho (marcado aos 24 minutos da segunda etapa) deixou a impressão de que o título da Premier League 2021/22 ficaria com o Liverpool (que ia empatando com o Wolverhampton nesse momento e dependia apenas de si). Foi aí que os roteiristas dessa história magnífica resolveram aprontar mais uma.

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Steven Gerrard sacou Philippe Coutinho do jogo logo depois do camisa 23 balançar as redes e mandou o volante Nakamba para reforçar o sistema defensivo. Este que escreve viu na substituição promovida pelo antigo ídolo do Liverpool um equívoco. Os Lions perderam força no ataque com a saída do único jogador com capacidade de fazer a diferença dentro de campo. Do outro lado, Pep Guardiola (que já havia sacado Fernandinho para a entrada de Zinchenko) reorganizou o Manchester City com Sterling e Gündogan. O primeiro foi jogar pelo lado direito com o pé aberto para bater de frente com Digne. O segundo entrou para controlar o jogo, ocupar espaços na frente da zaga e atuar como “elemento surpresa” numa equipe ainda mais intensa e agressiva. Tudo para empurrar a zaga do Aston Villa para trás e permitir que os volantes pudessem pisar na área.

Gündogan apareceu às costas da última linha dos Lions e completou belo cruzamento de Sterling para as redes aos 31 minutos do segundo tempo. O volume de jogo crescia na mesma proporção em que o Aston Villa recuava. E vale destacar um ponto importante dessa história. Se Steven Gerrard errou ao sacar Philippe Coutinho, Guardiola acertou em cheio nas entradas de Sterling e Gündogan. E a jogada do segundo gol dos Citzens resume bem toda a filosofia colocada em prática em campo. Foden aparece pela esquerda, se livra de Buendía e espera o tempo necessário para que Gabriel Jesus, Gündogan, De Bruyne e Sterling arrastem a zaga adversária para trás. Isso abre o espaço onde o volante Rodri aparece para acertar bela finalização de primeira e colocar fogo na partida aos 33 minutos do segundo tempo. Tudo porque Pep Guardiola se manteve fiel à sua filosofia de jogo e corrigiu o que precisava ser corrigido.

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As entradas de Gündogan, Zinchenko e Sterling melhoraram o desempenho do Manchester City no segundo tempo e deram início à virada no Etihad Stadium. O Aston Villa recuou demais depois da saída de Philippe Coutinho do time. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

É possível dizer que Pep Guardiola acertou em cheio na escolha da estratégia e nas mexidas promovidas após o intervalo. Tudo bem que Steven Gerrard facilitou demais o trabalho do treinador do Manchester City com a saída de Philippe Coutinho, mas precisamos reconhecer que os Citzens tiveram méritos. Não desistir e manter o foco no plano de jogo num cenário completamente desfavorável é para poucos. E o time de azul claro fez por merecer a virada conquistada em cinco minutos dentro de seus domínios. Foden e Sterling abriam o campo, João Cancelo veio jogar pelo lado direito (mas como “lateral-armador”), De Bruyne aparecia nos espaços vazios e Gündogan se transformou no grande herói da partida após balançar as redes do goleiro Olsen duas vezes. A virada (impensável até aquele momento) saiu muito por conta do plano de Pep Guardiola.

Steven Gerrard tentou fechar a entrada da área do Aston Villa adotando um 5-4-1 que não conseguiu conter os avanços do Manchester City. A equipe de Pep Guardiola cresceu com as entradas de Gündogan, Sterling e Zinchenko. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Pep Guardiola soma mais um título de liga nacional no seu extenso currículo e mostra que, apesar da eliminação doída na Liga dos Campeões, ainda tem o elenco na mão e sabe muito bem o que fazer e quando fazer. Ser campeão inglês com incríveis 93 pontos era algo impensável antes da sua chegada ao Manchester City. Alguns colegas de imprensa, no entanto, ainda insistem em discursos sem sentido ao focar apenas no dinheiro dos investidores e ignorar aquilo que eu e você vemos no campo. Os Citzens conquistaram o que conquistaram por méritos. E as ideias de Guardiola são reproduzidas por todo o mundo. E nada melhor do que uma história de superação magnífica como a virada em cima do Aston Villa para confirmar essa tese. Steven Gerrard facilitou muito a vida de Pep, é verdade. Mas não dá pra fechar os olhos para tudo aquilo que o técnico espanhol fez no jogo.

É por isso que o futebol ainda é a maior invenção da Humanidade. Não apreciar o esporte ou preferir outra modalidade é do jogo. Mas não há como se fechar os olhos para enredos dignos de épicos como esse que vimos neste domingo (22). O Manchester City de Pep Guardiola escreveu mais uma dessas belas histórias. E o que será lembrado no futuro será mais um grande exemplo de superação, persistência e garra.