Home Futebol Falta de pontaria e dependência de Harry Kane ligam o alerta na Inglaterra às vésperas da Copa do Mundo

Falta de pontaria e dependência de Harry Kane ligam o alerta na Inglaterra às vésperas da Copa do Mundo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Gareth Southgate e o empate sem gols contra a Itália de Roberto Mancini

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É bom que se diga que o empate sem gols contra a Itália de Roberto Mancini neste sábado (11) foi muito ruim para a Inglaterra. O escrete comandado por Gareth Southgate é o lanterna do Grupo 3 da Liga das Nações da UEFA (com apenas dois pontos) e está na zona de rebaixamento para a Liga B. Mas o que preocupa de verdade é a produção ofensiva ruim do English Team. Embora tenham vencido a Suíça por 2 a 1 e a Costa do Marfim por 3 a 0 em amistosos realizados no mês de março, a equipe marcou apenas duas vezes nos jogos contra Hungria, Alemanha e Itália e vem apresentando uma certa dependência dos gols e da criatividade de Harry Kane. E às vésperas da Copa do Mundo, isso pode ser um problema sério para quem sabe que vai encontrar uma exigência muito maior no final do ano.

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A Itália, por sua vez, entrou em campo de olho na manutenção da liderança do Grupo 3. E o técnico Roberto Mancini mantinha a filosofia de renovação da Squadra Azzurra com nomes interessantes e com a clara estratégia de aproveitar os espaços que apareceriam às costas da última linha do seu forte adversário. O seu 4-3-3 foi mantido e a equipe desperdiçou uma chance incrível com Frattesi logo no primeiro minuto de partida no Molineux Stadium, localizado na cidade de Wolverhampton. Aos poucos, a Inglaterra foi se organizando melhor em campo e começou a pressionar bastante a defesa italiana com Sterling, Grealish, Abraham e Mason Mount se movimentando bastante no terço final.

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Faltava, no entanto, o capricho no último passe e o acerto nas finalizações para vencer o bom goleiro Donnarumma. Ainda que a Itália quase tenha balançado as redes com Tonali (que parou em belíssima defesa do goleiro Ramsdale), a Inglaterra conseguia fazer a bola chegar no campo de ataque com certa facilidade embora não conseguisse transformar essa superioridade nos gols que tanto precisava. A Squadra Azzurra conseguiu equilibrar a partida no final da primeira etapa com pelo menos duas boas finalizações de Pessina e Locatelli. Só que estava bem claro para este que escreve que faltava quem “colocasse a bola na casinha”. O próprio Gareth Southgate falou sobre isso no final da partida.

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De acordo com o SofaScore, a Inglaterra teve 56% de posse de bola no primeiro tempo e finalizou oito vezes, mas apenas três delas foram na direção do gol de Donnarumma. A Itália, por sua vez, mesmo com menos posse de bola, conseguiu finalizar seis vezes e acertar três no alvo (todas elas defendidas por Ramsdale). E como dizem os mais antigos, se o ataque não faz a sua parte lá na frente, quem acaba sofrendo é a defesa. As descidas de Pessina, Di Lorenzo e Frattesi (um dos melhores em campo pela Squadra Azzurra) às costas de Trippier obrigaram o técnico Gareth Southgate a posicionar o volante Declan Rice quase como um terceiro zagueiro pelo lado esquerdo. O problema é que isso abriu espaços no meio que James Ward-Prowse (bom volante do Southampton) encontrava certa dificuldade para cobrir.

Gareth Southgate mandou a Inglaterra a campo num 4-2-3-1 que tinha Sterling e Grealish pelos lados e Rice quase como um terceiro zagueiro. Roberto Mancini manteve seu 4-3-3 e viu a Itália levar muita vantagem pelo lado direito.

O panorama do jogo não mudou na segunda etapa. A Inglaterra seguia com mais posse de bola, mas sem a intensidade necessária para superar Francesco Acerbi e Federico Gatti, a boa dupla de zaga da equipe de Roberto Mancini. Quando conseguia entrar na área, o English Team desperdiçava chances impressionantes. Como o cruzamento de Recce James que Sterling mandou pra fora com o gol vazio aos seis minutos do segundo tempo. O camisa 10 ainda perderia outra chance dentro da área após belo passe de Grealish pouco tempo depois. Enquanto isso, a Itália ia crescendo na partida e pressionando o time de Gareth Southgate. As entradas de Wilfried Gnonto e Salvatore Esposito deixaram a Squadra Azzurra mais leve e mais móvel com Gianluca Scamacca (atacante do Sassuolo) recuando para abrir espaços para a chegada dos dois ponteiros.

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Gareth Southgate ainda promoveu a entrada de Harry Kane na metade do segundo tempo, mas a Inglaterra ainda pecava demais nas finalizações e criou pouco diante de uma Itália que estava claramente satisfeita com o empate sem gols fora de casa. Nem mesmo a mudança do 4-2-3-1 para algo mais próximo de um 4-2-4 (conforme descrito no campinho abaixo) com Grealish e Saka abertos, Ward-Prowse e Kalvin Phillips saltando para a pressão e com Jarrod Bowen (jogador do West Ham) e Harry Kane por dentro. Do outro lado, Roberto Mancini reforçou a marcação no meio-campo com Cristante no lugar do Pessina e baixou mais o bloco de marcação nos últimos dez minutos de partida. Por mais que o English Team circulasse a bola na frente da área, a Squadra Azzurra conseguiu se segurar e conquistou um pontinho precioso.

Roberto Mancini baixou um pouco as linhas de marcação da Itália e apostou nos lançamentos para Wilfried Gnonto e Salvatore Esposito. Mesmo com Harry Kane em campo, a Inglaterra não conseguiu ser efetiva nas finalizações a gol.

É verdade muita coisa vai acontecer nesses meses que antecedem a realização da Copa do Mundo. No entanto, ver a Inglaterra apresentando tantas dificuldades no setor ofensivo numa competição de exigência maior do que os amistosos contra Suíça e Costa do Marfim ligou o alerta na comissão técnica comandada por Gareth Southgate. Não somente pela campanha ruim na Liga das Nações da UEFA, mas por tudo que vimos contra Hungria, Alemanha e agora contra a Itália. Todos adversários muito mais qualificados e que possuem capacidade de tirar o English Team da sua zona de conforto. E a dependência de Harry Kane se fez mais clara no período em que o atacante do Tottenham esteve em campo. Todos os jogadores procuravam por ele. Mesmo quando tinham opções melhores para levar a bola para a área adversária.

Encontrar soluções para os problemas coletivos da Inglaterra é a grande missão de Gareth Southgate nesses próximos dias. A Copa do Mundo está se aproximando e sua equipe precisa recuperar o padrão apresentado no vice-campeonato da Eurocopa no ano passado, quando Harry Kane dividia mais a responsabilidade com outros jogadores. Há como o English Team jogar mais e melhor e competir mais contra seleções do primeiro escalão. Ainda mais com tanta qualidade à disposição do treinador.

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