Home Futebol Atuação coletiva do Botafogo em virada épica sobre o Internacional precisa ser exaltada

Atuação coletiva do Botafogo em virada épica sobre o Internacional precisa ser exaltada

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Luís Castro e Mano Menezes e as polêmicas do jogo deste domingo (19)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O técnico Luís Castro estava coberto de razão quando afirmou que a arbitragem não deveria ser “agente potencializador de tudo de mal que há no jogo”. Isso porque é impossível separar a virada épica do Botafogo sobre o Internacional da atuação tenebrosa de Sávio Pereira Sampaio na partida deste domingo (19). O “homem do apito” parecia disposto a tudo para estragar aquele que foi um dos jogos mais emocionantes desse Campeonato Brasileiro até o momento. Mas também precisamos reconhecer e exaltar a atuação coletiva de um time que foi organizado, muito concentrado e capaz de se adaptar a todo tipo de adversidade que apareceu pela sua frente no Beira-Rio. Ao mesmo tempo, fica a sensação nítida de que as coisas pioraram depois que Wilson Luiz Seneme assumiu o comando da Comissão de Arbitragem da CBF.

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Este que escreve tem por regra se focar mais no que acontece dentro de campo e nas decisões tomadas por jogadores e comissões técnicas ao invés de focar nas decisões polêmicas dos nossos árbitros. O problema é que Sávio Pereira Sampaio e Rafael Traci (o responsável pelo VAR) fizeram muita gente pensar que havia uma certa má intenção por trás de suas decisões. É inadmissível que o torneio mais importante do futebol brasileiro conte com arbitragens de nível tão ruim. Erros básicos de interpretação, critérios confusos e uma vontade absurda de se colocar em evidência num jogo que tinha tudo para ser bom antes mesmo da bola rolar. A revolta de jogadores e torcedores do Botafogo é bastante compreensível.

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No entanto, o desenrolar dos acontecimentos do jogo deste domingo (19) é prova suficiente para que a atuação coletiva do escrete comandado por Luís Castro seja exaltada. A maneira como o Glorioso se comportou após a expulsão de Philipe Sampaio e os gols marcados por Edenílson e Bustos (este nascido de um escanteio não marcado a favor do Botafogo) fizeram muita gente pensar que o Internacional aproveitaria o cenário que se desenhava para “passar o carro”. Só que a concentração que sobrou no Alvinegro de General Severiano passou bem longe do time comandado por Mano Menezes. As tomadas de decisões ruins, as oportunidades perdidas ao longo da partida só comprovam a tese defendida no primeiro parágrafo desta humilde análise.

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Luís Castro não fez nenhuma alteração no Botafogo depois que Philipe Sampaio deixou o jogo logo aos cinco minutos. Com o 3-4-2-1 desfeito, o treinador português recuou as linhas da sua equipe e fechou os lados do campo num 4-4-1, com Lucas Piazón e Vinícius Lopes pelos lados do campo e Erison mais avançado. Tudo para conter o volume de jogo de um Internacional armado num 4-3-1-2 que lembrava o 4-2-3-1 “torto” de Dunga na Seleção Brasileira em 2010. Gabriel protegia a zaga, De Pena ficava um pouco mais pela esquerda e Edenílson se soltava mais pelo outro lado. Alan Patrick era o “enganche” do time de Mano Menezes e distribuía bons passes na entrelinha para Wanderson e David (a referência móvel do escrete colorado). Fora isso, Bustos e Moisés apareciam no campo de ataque constantemente.

Após a expulsão de Philipe Sampaio, Luís Castro armou o Botafogo numa espécie de 4-4-1 para conter as investidas do Internacional de Mano Menezes. O 4-2-3-1 “torto” do treinador colorado fez estragos consideráveis no começo de partida.

O Internacional fez valer a superioridade numérica quando colocou intensidade nas suas transições e buscou Alan Patrick para trabalhar as jogadas de ataque. Aos poucos, o time de Mano Menezes foi recuando (muito por conta da vantagem no placar) e foi dando o campo que o Botafogo precisava para ameaçar a meta colorada. Ao mesmo tempo, a falta de concentração de Vitão, Mercado, Gabriel e Moisés no lance do gol de Vinícius Lopes (marcado aos 18 minutos do primeiro tempo) era nítida e se mostraria fatal no decorrer da partida. Wanderson e Edenílson desperdiçaram boas chances de ampliar a vantagem do Internacional. Mas a essa altura da partida, o 4-4-1 de Luís Castro estava mais organizado e a dupla de zaga formada por Joel Carli e Klaus levava ampla vantagem nos duelos contra o ataque colorado.

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Alan Patrick era o jogador mais perigoso do Internacional e o responsável por fazer a bola chegar no ataque. O Botafogo fechava a entrada da sua área e encontrava espaços às costas dos laterais Moisés e Bustos. Foto: Reprodução / Premiere / GE

A arbitragem era tão ruim que gerava controvérsia até mesmo quando acertava. O VAR acertou na marcação do impedimento de David na origem da jogada que terminou com falta de Saravia em Wanderson dentro da área no final do primeiro tempo e chancelou a decisão de Sávio Pereira Sampaio ao anular o gol de Alemão depois que o camisa 35 ajeitou a bola com a mão. Mas era o Botafogo quem se defendia e quem jogava melhor. Com Lucas Piazón e Vinícus Lopes mais recuados, o time de Luís Castro conseguiu conter os avanços de Bustos e Moisés pelos lados e ainda arriscava algumas subidas ao ataque. E vale destacar a atuação primorosa de Joel Carli na partida. Além de proteger a área com a qualidade de sempre, ainda fez a assistência para Erison empatar a partida aos 13 minutos da segunda etapa.

Nessa altura do jogo, o Internacional ia se mostrando afobado e mais desorganizado do que o normal. E por mais que Mano Menezes mexesse na sua equipe, a impressão que ficava era a de que as coisas se complicariam de vez a qualquer momento. Este que escreve viu certa precipitação do treinador colorado ao sacar Bustos e Moisés para as entradas de Matheus Cadorini e Pedro Henrique e um nervosismo além do normal de toda a equipe colorada. Não foi por acaso que o Botafogo conseguiu o gol da virada explorando os espaços que seu adversário deixava no campo de defesa. Hugo puxa o contra-ataque enquanto Matheus Nascimento arrasta a última linha de defesa do Internacional para trás e Jefinho abre o campo pelo lado direito. Mais atrás, Kayque acompanha a jogada. Gol de pura raça e inteligência.

O Botafogo marcou o gol da vitória aos 55 minutos do segundo tempo em contra-ataque puxado por Hugo e completado pelo camisa 16. O Internacional acabou pagando pela afobação e pelas oportunidades desperdiçadas. Foto: Reprodução / Premiere / GE

A noite não estaria completa sem as cenas lamentáveis que eu e você vimos no final da partida. O Botafogo teve todos os méritos na construção da vitória e aproveitou a falta de concentração do Internacional e a falta de controle de uma partida que parecia tranquila diante do cenário que se desenhava neste domingo (19). Luís Castro foi muito bem nas orientações para sua equipe e conseguiu tirar dos seus jogadores uma força mental que nem mesmo o mais fanático torcedor alvinegro acreditava existir. Além de Joel Carli, precisamos destacar as atuações de Hugo, Kayque, Patrick de Paula, Erison e (principalmente) Lucas Piazón. O camisa 43 foi fundamental na saída de bola com ótimos passes e esteve sempre bem posicionado na marcação pelo lado esquerdo do Botafogo. Essa foi a sua melhor atuação desde que voltou ao Brasil.

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A virada épica sobre o Internacional nos provou duas coisas. A primeira é que o time de Luís Castro pode render muito se torcida e dirigentes tiverem paciência com o elenco e a comissão técnica. Afinal de contas, estamos falando de um trabalho completamente novo. E a segunda é que a arbitragem brasileira segue os preceitos da “Lei de Murphy”: nada é tão ruim que não possa piorar. E em se tratando de Wilson Luiz Seneme e CBF, é bem possível que o nível diminua ainda mais.

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