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Copa do Mundo: operários no Catar vivem “escravidão moderna”, diz inspetor

Em entrevista ao Uol, Ambet Yuson, presidente da ICM, fala sobre as condições precárias enfrentadas pelos trabalhadores envolvidos nas obras para o mundial do Catar

Carlos Eduardo Bertin
Jornalista, Publicitário e Mestre em Comunicação Social. Editor do site Torcedores. Escreve sobre Futebol, Cultura, Economia, Finanças, Saúde e Educação, com passagem por agências de comunicação e veículos jornalísticos. Além disso, tem experiência em edição de conteúdo jornalístico, Educomunicação, elaboração e apresentação de artigos acadêmicos e avaliação de artigos para revista acadêmica (Iniciacom). Perfil do Twitter: https://twitter.com/Cadu_Bertin

O filipino Ambet Yuson, Presidente da Internacional de Trabalhadores da Construção Civil e de Madeira (ICM) – um sindicato internacional de operários –, declarou que os trabalhadores que estão envolvidos na construção de estádios para o Copa do Mundo do Catar parecem viver em “uma escravidão moderna”. 

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Em entrevista exclusiva ao Uol, Yuson disse que desde 2017 já realizou 25 inspeções no país sede do mundial. Ao site, ele destacou os avanços conquistados pelos operários. No entanto, apontou que vários deles vivem em condições análogas à servidão. 

Um dos pontos ressaltados pelo Presidente da ICM é o não pagamento de salário para os operários que foram ao Catar para trabalhar na construção dos estádios. 

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Conforme alegou na entrevista, muitos vão para o país, pagam as taxas de alistamento, mas não recebem a remuneração. Ele conta que já encontrou centenas de trabalhadores que ficaram dois anos sem receber salário. 

Além disso, Yuson relatou que em suas inspeções se deparou com diversas condições precárias de trabalho. 

Entre elas, problemas relacionados à segurança dos operários que executam atividades em locais muito altos (o que gerou inúmeros despencamentos), alojamentos insalubres (com mais de dez pessoas por quarto), alimentação deficiente, bem como as fortes temperaturas, o que dificulta a continuidade dos trabalhos. 

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Segundo ele, para “amenizar” o calor, os responsáveis pelas obras forneciam um traje com gelo na parte interior, o que fazia com que os trabalhadores ficassem todos molhados. Por isso, muitos deles optavam por não usar a vestimenta.

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Agora, graças às reivindicações realizadas pela ICM, eles fornecem um uniforme mais refrescante e que contribui para uma melhor transpiração.

Mortes causadas por condições de trabalho nos estádios para a Copa do Mundo

Yuson relatou que, desde que começaram com as inspeções, 37 trabalhadores morreram nos alojamentos e outros três nos canteiros das obras, o mesmo número de óbitos anunciados pelo governo do Catar. 

No entanto, como lembra a nota do Uol, um levantamento realizado pelo The Guardian apontou para mais de 6.500 mortes de trabalhadores imigrantes em decorrência das condições de trabalho para construção de estádios para a Copa do Mundo. 

Sistema “kafala” 

Em 2019, o governo do Catar comunicou o fim do sistema “kafala” (responsável por monitorar imigrantes). Neste modelo, os operários oriundos de outros países são obrigados a entregar seus passaportes para o empregador. 

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Sobre isso, Yuson afirmou que, apesar de os empregadores não reterem mais o passaporte, os documentos ficam acondicionados nos armários. 

Contudo, mesmo com esse “avanço”, os operários são proibidos de fazer greves no Catar, relatou o Presidente da ICM.  

Apenas esses avanços não são o suficiente, diz 

Yuson reconhece que houve avanços nas condições de trabalho no país sede da Copa do Mundo. Entre eles, a interrupção de atividades laborais, entre 11h e 16h, durante o verão. 

Além disso, o inspetor salientou que, por conta das inspeções, novos alojamentos foram construídos, inseriram wi-fi com internet mais rápida nos locais e a alimentação melhorou. 

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Mesmo com essa evolução, o presidente da ICM enfatiza na entrevista que apenas isso não é o suficiente. 

“Essa é a nossa demanda pro Qatar, mas também pra Fifa. Essa foi a queixa que fizemos na OCDE e a decisão delas foi muito clara, no sentido de que a Fifa tem responsabilidade sobre os operários que construíram os estádios da Copa”, disse ao Uol. 

Além disso, enfatizou: “eles têm que usar seus meios pra evitar que esses problemas aconteçam. Eu acredito que essa Copa pode trazer grandes mudanças para o país”, destacou ao site. 

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