Home DESTAQUE Seleção Feminina atinge primeiros objetivos, mas ainda precisa mostrar a que veio

Seleção Feminina atinge primeiros objetivos, mas ainda precisa mostrar a que veio

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória sobre o Paraguai e as opções de Pia Sundhage para a final da Copa América Feminina

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É verdade que a Seleção Feminina concluiu sua primeira missão com êxito e sem muitos sustos. A vitória por 2 a 0 sobre o Paraguai nesta terça-feira (27), em Bucaramanga, não valeu apenas a vaga na final da Copa América Feminina. A equipe comandada por Pia Sundhage também se garantiu na Copa do Mundo de 2023 (que será disputada na Austrália e na Nova Zelândia) e nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. No entanto, por mais que o Brasil ainda sobre no continente sul-americano, a impressão que fica é a de que o time tem jogado bem abaixo do esperado em todos os sentidos (principalmente no aspecto mental). E e preciso deixar uma coisa bem clara: o problema em questão aqui nesta humilde análise está diretamente relacionado com a postura e a atuação de algumas jogadoras da Seleção Feminina nas partidas dessa agitada Copa América.

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Novamente, não estamos falando de goleadas em sequência e de atuações mágicas. Estamos falando de desempenho dentro de campo e da boa execução do plano de jogo trabalhado por Pia Sundhage. Na pratica, o desejo de todos nós é que a Seleção Feminina jogue aquilo que sabe e já jogou em outras oportunidades nesse mesmo ciclo. O time já evoluiu em vários aspectos e mostrou competitividade diante de adversários mais fortes, como a Suécia (ainda que durante 60 minutos), Dinamarca, Espanha e outras equipes do primeiro escalão mundial. É por isso que se pede tanto do Brasil nessa Copa América Feminina. Há material humano para se fazer mais e melhor.

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Por outro lado, é preciso deixar bem claro que os problemas relatados anteriormente não têm relação com o trabalho tático. Novamente vimos a Seleção Feminina bem organizada no meio-campo e trabalhando bem a movimentação do quarteto ofensivo formado por Kerolin, Debinha, Bia Zaneratto e Adriana. Curiosamente, os primeiros lances de perigo nasceram quando o Brasil resolveu FICAR COM A BOLA (frase que se transformou num mantra entoado por Pia Sundhage nas suas entrevistas coletivas). Fora isso, o lance do segundo gol brasileiro mostra bem como a pressão pós-perda do escrete canarinho funciona quando executada da maneira correta.

Antônia deixa a linha defensiva e força o erro de Fabiola Sandoval (jogadora do Avaí/Kindermann) no lance que originou o segundo gol do Brasil. A pressão pós-perda funcionou quando foi bem executada. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

No entanto, eu e você vimos a Seleção Feminina quase se complicar no início de partida por pura desatenção e falta de concentração (outros pontos bastante citados por Pia Sundhage nas suas entrevistas coletivas). Logo aos dois minutos, Fany Gauto cobrou escanteio na cabeça de Veronica Riveros. O gol do Paraguai só não saiu porque Adriana salvou a Pátria quase em cima da linha. Fora isso, o time sofria muito no posicionamento defensivo nas bolas paradas e falhava demais na recomposição. E mais do que nunca, é preciso separar o joio do trigo. Enquanto Angelina, Antônia, Kerolin (mesmo em mais uma atuação muito abaixo do seu potencial), Ary Borges, Rafaelle e Tainara se mantinham firmes e executando bem o plano de Pia Sundhage, outras jogadoras pareciam mais alheias ao que acontecia em campo. E isso, mesmo nesse contexto, é preocupante.

As coisas poderiam ter se complicado de verdade se o Paraguai tivesse caprichado mais nas tomadas de decisão e nas poucas finalizações que teve na partida desta terça-feira (26). Ainda que a Seleção Feminina tenha conseguido se impor executando bem os movimentos do 4-4-2 preferido de Pia Sundhage (que variava para um 4-1-3-2 bem ofensivo com as subidas de Ary Borges ao ataque), ainda faltava aquele “algo mais” que será muito necessário na finalíssima deste sábado (30) diante da Colômbia. As anfitriãs vão exigir muito mais da equipe brasileira em todos os sentidos. Principalmente no aproveitamento das chances de gol criadas e na recomposição defensiva. O Brasil aproveitou bem a queda física do Paraguai no segundo tempo, é verdade. Mas poderia ter deixado impressão muito melhor ao invés de cozinhar o jogo e esperar o apito final.

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Ary Borges avança e se alinha a Kerolin e Adriana na variação do 4-4-2 para um 4-1-3-2 bastante ofensivo. Ainda falta um pouco de intensidade e a postura firme da equipe que é a grande favorita ao título. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Está claro para este que escreve que a Seleção Feminina precisa dar o próximo salto, isto é, precisa subir de patamar a nível mundial e se tornar algo além da “melhor equipe da América do Sul”. Sair da zona de conforto é fundamental para sair campeão da Copa América e também bater de frente com as principais forças do futebol feminino no cenário mundial. A cara de poucos amigos de Pia Sundhage no banco de reservas é bem compreensível diante de tudo o que se passava dentro de campo. Por exemplo, há como se exigir que Bia Zaneratto (jogadora de MUITA qualidade) participe mais do combate e da pressão pós-perda ao invés de ficar esperando a bola no pé. Há como pedir de Adriana (artilheira da Copa América) mais atenção na recomposição defensiva e um melhor aproveitamento das chances. E há como cobrar mais atenção e concentração da equipe como um todo.

O jogo contra a Colômbia vai nos mostrar até onde essa equipe pode ir nos próximos meses. Uma derrota na final seria absurda e inaceitável para muitos críticos do trabalho de Pia Sundhage, mas não soa estranho para este que escreve diante de tudo que já foi escrito anteriormente e de uma série de outros pontos que precisam ser corrigidos, mas que dependem exclusivamente da mudança de postura das jogadoras. E pelo que estamos vendo, o Brasil vem correndo riscos desnecessários contra adversários claramente inferiores em todos os aspectos por pura falta de intensidade em vários momentos das partidas dessa Copa América Feminina. E é preciso deixar bem claro que a solução de qualquer problema coletivo desta ou daquela equipe também passa por quem está dento de campo e pela mudança na postura que não vem dando resultado.

Já passou da hora da Seleção Feminina dar esse salto e mudar de patamar de uma vez por todas. E é bom deixar bem claro que a Colômbia não vai dar os “moles” que Paraguai, Argentina e Venezuela deram nas partidas anteriores. Ter atenção a cada jogada, entender que cada jogadora tem sua função e tarefas a cumprir será fundamental para que a segunda missão desse ciclo seja cumprida com o êxito esperado.

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