O técnico Tite pediu união em torno da Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo 2022 e afirmou que não deseja vincular a participação do Brasil na competição a qualquer tipo de discussão política.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo concedida junto com seu auxiliar Cleber Xavier, Tite reiterou que não irá a Brasília depois do Mundial se conquistar o hexa, seja quem for o presidente eleito em outubro. E avisa que não vai deixar transparecer a sua visão política.
“O direito que eu me dou é dar o melhor no trabalho. A seleção brasileira é um patrimônio cultural e educacional, não é partidário. Não posso fazer do cargo que ocupo alguma coisa que possa ecoar mais”, disse o treinador, ao justificar por que prefere esconder sua visão. “O técnico da seleção ecoa mais do que o Adenor. O Adenor tem a sua voz e o seu voto, mas na seleção ele vai ter de ter a grandeza de fazer o melhor trabalho possível em cima da responsabilidade de trazer uma Copa de volta”, conclui.
Ao ser questionado sobre o fato de camisa amarela ter sido nos últimos anos mais vinculada ao grupo político ligado ao atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), Cléber Xavier respondeu: “A camisa da Seleção tem uma representatividade no mundo inteiro. A camisa da Seleção é da Seleção e é de todos os brasileiros. Ela não representa um grupo A ou B”.
Tite não quer trabalhar logo após a Copa do Mundo 2022
Durante a entrevista, Tite reiterou seu desejo de descansar, depois de oito anos de trabalho ininterrupto: reassumiu o Corinthians no começo de 2015 e saiu de em julho de 2016 direto para atender o convite da CBF e substituir Dunga na Seleção, após a eliminação na fase de grupos da Copa América Centenário, nos Estados Unidos.
“Em 2023, a dona Rosmari, minha mulher, vai ter toda a preferência. Vou dar um tempo para a família e vou dar um tempo para estudos. Eu vou dar um tempo para a reorganização”, avisou.
No entanto, ele acredita que o tempo de pausa não deve ser muito longo, ao contrário de 2014, quando conseguiu passar o ano todo sem trabalhar, entre duas passagens pelo Timão. “Segundo o meu filho, não vai passar de dois meses. Minha mulher vai me jogar para fora do apartamento.”
Mas ele admitiu que não está em seus planos trabalhar no Brasil. Vai buscar emprego em alguma seleção ou clube europeu. “O ano de 2023 será de estudo. Será o momento de reciclagem, de observação e de readaptação. Eu não gosto de usar o termo reinventar porque eu não me reinvento, eu me modelo, me moldo e me ajusto. Mas agora meu foco é voltado para a Copa”, avisou.
Perto da hora decisiva: fechar a lista de 26 convocados
O técnico disse que seu momento mais difícil nos seis anos à frente da Seleção foi a decisão de permanecer após a eliminação no Mundial de 2018 e trabalhar num ciclo completo pensando na Copa do Mundo 2022.
“É uma coisa extraordinária, o máximo que um profissional quer é ser técnico de futebol da seleção brasileira, mas ao mesmo tempo ele te traz exposição, exposição da família, uma série de aspectos que te drenam, te absorvem. Refleti, conversei com a comissão técnica, conversei com a minha família”, disse.
Decisão tomada, Tite agora se aproxima de outro momento complicado: definir os 26 convocados e, ao mesmo tempo conversar com atletas que já foram testados e passaram pela Seleção, mas não irão ao Catar.
“Já estou falando, como forma de respeito. Eu trago a minha experiência enquanto ex-atleta. Quando eu era atleta, eu entendia que é do jogo escolher os titulares e os atletas que ficam no banco, mas quero que tenha comigo o mesmo respeito pessoal e o mesmo treinamento”, afirmou o técnico.
Cléber Xavier contou que a comissão técnica trabalha com uma lista de 45 nomes, pensando na convocação para os últimos amistosos, em setembro, contra Gana e Tunísia. Mas eles dizem que a lista final vai depender de uma série de fatores, inclusive médicos, diante do curto tempo de preparação – a seleção deve se reunir no máximo dez dias antes da estreia na Copa, dia 24 de novembro, contra a Sérvia.
“Se fosse hoje, teria 80% ou 85% da lista fechada, mas temos de pontuar a palavra do nosso preparador físico, o Fábio Mahseredjian. Ele disse essa semana para aumentarmos o leque de observações”, explicou Tite. Segundo ele, o preparador teme que a exigência física das competições no Brasil e na Europa nos próximos meses deve ser levada em conta.
“Tem o exemplo da Copa passada. Perdemos o Daniel Alves, que era um líder, perdemos o Douglas Costa, o Neymar estava numa situação abaixo do seu 100%, assim como o Fred e o Renato Augusto. Tem esse aspecto preventivo”, disse.

