Brasileirão: Fortaleza recupera a consistência, sai do Z4 e escancara crise do maior rival
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a atuação do time de Juan Pablo Vojvoda e a demissão de Marquinhos Santos
É possível afirmar sem muito medo de parecer exagerado que a vitória no Clássico-Rei do último domingo (14) consolidou a recuperação do Fortaleza nessa temporada. Além de engatar a terceira vitória seguida no Brasileirão e finalmente sair da zona do rebaixamento, o escrete comandado por Juan Pablo Vojvoda ainda escancarou a crise do Ceará, que anunciou a demissão de Marquinhos Santos logo depois da partida. A festa dos jogadores do Leão do Pici e o ar mais cabisbaixo dos atletas do Vozão no final do jogo acabaria por ser o resumo perfeito do foi visto na Arena Castelão. Um time vibrante e outro completamente afobado e desorganizado.
Isso porque a impressão deixada na partida deste domingo (14) foi a de que o Ceará parece sentir demais o desgaste físico e mental nessa temporada. Fora os desfalques de Zé Roberto, Messias, Luiz Otávio (suspensos) e Cléber (machucado) todos eles claramente sentidos pela equipe então comandada por Marquinhos Santos. O cenário parecia completamente favorável para o Fortaleza e Juan Vojvoda sabia muito bem disso. Foi por isso que o Leão do Pici entrou em campo disposto a minimizar os erros e controlar o jogo o mais rápido possível. Ainda mais sabendo da má fase do maior rival e da possibilidade real de finalmente deixar o Z4.
Com Matheus Peixoto no comando de ataque e Vina jogando mais pelo lado numa espécie de 4-2-2-2 completamente anacrônico de Marquinhos Santos, o Ceará até que conseguiu levar perigo ao gol de Fernando Miguel no início da partida. No entanto, o Fortaleza conseguiu fazer aquilo que Vojvoda desejava desde o primeiro minuto: controlar as ações no campo e explorar os espaços que existiam entre volantes e zagueiros do Ceará. A escolha por um ataque mais leve (com Moisés, Robson e Thiago Galhardo) tinha relação direta com essa deficiência facilmente perceptível do adversário. E nesse ponto, o Fortaleza foi muito mais eficaz.
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O gol marcado por Moisés logo aos 16 minutos da primeira etapa expôs a fragilidade do sistema defensivo do Ceará. Com Vina voltando pela direita e Guilherme Castilho meio perdido jogando mais por dentro, o quarteto ofensivo não conseguia dar o suporte necessário aos volantes Richard Coelho e Richardson. Não demorou muito para que Thiago Galhardo, Moisés e Robson começassem a explorar esses espaços e também os problemas de cobertura de Nino Paraíba no lado direito da defesa adversária. O Fortaleza se impunha em campo, não dava espaço para seu adversário e ainda conseguia controlar bem as ações no meio-campo. Exatamente como Vojvoda queria.
Vale destacar também a ótima atuação de Lucas Sasha à frente da defesa tricolor. O camisa 88 vigiou bem a entrada da área, esteve bastante atento à movimentação de Mendoza e Matheus Peixoto e ainda organizou bem a saída de bola junto de Ronald e Zé Welison. Aliás, a escolha de Juan Vojvoda pelo 4-3-3 foi um dos fatores determinantes para que o Leão do Pici saísse da Arena Castelão com os três pontos. Com um “tripé” marcando e jogando na frente de Marcelo Benevenuto e Tite e Brítez um pouco mais contido no apoio do que Juninho Capixaba, o Fortaleza soube como fechar bem esses espaços e impedir que os atacantes do Ceará entrassem na sua área.
Enquanto Marquinhos Santos mandava Jhon Vasquez, Lima e Erick para o jogo, Vojvoda recuava as linhas da sua equipe, protegia bem a entrada da área e apostava na velocidade de Depietri e Matheus Vargas para encaixar os contra-ataques que até apareceram, mas não foram bem aproveitados. Na prática, o Fortaleza parecia mais ajustado e mais consistente, ao passo que o Ceará dava a impressão de que os jogadores pareciam desgastados física e mentalmente. Tanto que as melhores chances do Vozão na segunda etapa saíram de cabeçada despretensiosa Jhon Vásquez e de chute sem direção de Guilherme Castilho. Muito pouco para quem tentava ao menos o empate.
A grande notícia para a torcida do Leão do Pici está na postura da equipe no segundo tempo. Mesmo nos momentos em que o Vozão partiu para o ataque, o Fortaleza de manteve firme, muito bem posicionado e bastante concentrado. E isso pode ser importantíssimo na sequência do Brasileirão e também para o jogo contra o Fluminense, pela Copa do Brasil. Enquanto isso, o Ceará terá que se reencontrar dentro e fora de campo após a demissão de Marquinhos Santos. Difícil analisar mais profundamente o trabalho do treinador, visto que ele comandou o Vozão em apenas 17 partidas com seis vitórias, cinco empates e seis derrotas, o que dá um aproveitamento de 45%.
O Fortaleza recuperou a consistência de outros tempos num dos momentos mais decisivos da temporada. O time de Juan Pablo Vojvoda pode não conquistar nenhum título de expressão nesse resto de 2022, mas a permanência na elite seria um prêmio para toda a dedicação e entrega de elenco e comissão técnica nos últimos meses. Além disso, o projeto capitaneado pelo técnico argentino já se mostrou extremamente vitorioso e merece mais votos de confiança.