Home Futebol Nova convocação da Seleção Feminina traz recado direto e objetivo de Pia Sundhage

Nova convocação da Seleção Feminina traz recado direto e objetivo de Pia Sundhage

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a lista da treinadora sueca para os amistosos contra a África do Sul

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Pia Sundhage divulgou a lista com as 25 atletas convocadas para defender a Seleção Feminina nos amistosos contra a África do Sul (atual campeã africana) nos dias 2 e 5 de setembro. Sobre novidades na convocação, podemos destacar Day Silva (zagueira do Palmeiras) e Micaelly (meia do São Paulo), ambas chamadas pela primeira vez pela treinadora sueca, e os retornos de Thaís (zagueira/volante do Palmeiras), Jaque Ribeiro (meia do Corinthians), Gabi Nunes (atacante do Madrid CFF) e Ludmila (atacante do Atlético de Madrid). Por outro lado, as palavras de Pia Sundghage na entrevista coletiva esta sexta-feira (26) deixaram alguns recados bem claros e objetivos para boa parte do elenco da Seleção Feminina. Algo que já vinha sendo abordado por ela há algum tempo.

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Quem viu os jogos do Brasil na Copa América da Colômbia sabe que um dos problemas mais notados por este que escreve e por vários outros colegas que acompanham a modalidade de maneira séria estava na postura do time com e (principalmente) sem a bola. Não foram poucas as vezes em que Pia Sundhage insistiu que a Seleção Feminina precisava valorizar a posse, trabalhar as jogadas e tomar decisões melhores dentro de campo. E mesmo com o título e as vagas na Copa do Mundo de 2023 e nos Jogos Olímpicos de Paris, a sensação que ficou foi a de que o Brasil poderia ter levantado a taça sem passar por tantos problemas.

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Um dos pontos levantados por Pia Sundhage nessa entrevista coletiva foi a sua intenção de testar novas formações e novas maneiras de atacar na Seleção Feminina nesses dois amistosos. No entanto, muita gente ficou se perguntando como a treinadora sueca pretendia implementar essas mudanças se o grupo chamado para os amistosos contra a África do Sul era praticamente o mesmo e se as jogadoras já haviam mostrado dificuldades para compreender orientações simples como a valorização da posse da bola e a necessidade de participar mais sem ela. Essa foi a minha pergunta para Pia Sundhage na coletiva. Acompanhe abaixo.

É verdade que a resposta não foi tão objetiva assim. Mas ela já aponta para um objetivo claro de Pia Sundhage na Seleção Feminina: dar a intensidade da Seleção Feminina com e sem a bola. Se assim não fosse, ela não teria falado das jogadoras da Seleção Sub-20 e da sua intenção de mexer em determinados pontos da sua estratégia de jogo. Voltando para a Copa América Feminina, a decisão contra a Colômbia nos mostrou um time altamente talentoso, mas que parecia completamente desligado do jogo e sofria e com a falta de postura tática de algumas jogadoras. Nesse ponto, podemos citar o rendimento abaixo da crítica de Kerolin na Colômbia, a falta de participação de Bia Zaneratto sem a bola e mais uma série de problemas que nasceram dessa falta de intensidade detectada pela própria Pia.

Os números da Seleção Feminina nessa Copa América são suficientes para confirmar a hegemonia brasileira no continente sul-americano. Mas esses mesmos números não escondem o fato de que ainda precisamos evoluir bastante em matéria de jogo coletivo se quisermos entrar de vez no primeiro escalão mundial. Esse talvez seja o recado mais claro de Pia Sundhage na convocação desta sexta-feira (26). É preciso entender uma vez por todas que intensidade, concentração, dedicação e comprometimento são elementos inegociáveis no futebol de alto rendimento. Entender como o jogo funciona com e sem a bola e buscar jogar “para o time” e não para si mesma foram teclas nas quais Pia bateu durante toda a realização dessa Copa América e em outras partidas amistosas. Não é difícil entender isso.

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Por outro lado, se a treinadora sueca quer mesmo implementar novas táticas e novas maneiras de jogar, ela precisa também repensar alguns dos nomes chamados por ela para esses amistosos contra a África do Sul. Afinal, um outro recado bem claro dado por ela na entrevista coletiva desta sexta-feira (26) estava na “volância”. Sem Angelina e Luana (ambas lesionadas), Pia Sundhage mostrou com a sua lista que prefere improvisar jogadoras como Duda Francelino, Ary Borges, Duda Sampaio e até mesmo Thaís (que até pode atuar nessa função) no setor ao invés de atletas da posição. Andressinha e Júlia Bianchi, por exemplo, sumiram do radar da técnica da Seleção Feminina já faz algum tempo. Outras pararam de ser chamadas logo depois dos Jogos Olímpicos de Tóquio. O recado está sendo dado.

No entanto, a manutenção da base que disputou a Copa América deve dificultar a adoção de mudanças táticas e até mesmo na formação básica e costumeira da Seleção Feminina. É muito difícil que Pia Sundhage abra mão do seu tradicional 4-4-2/4-2-4 diante do fato de que várias jogadoras tenham encontrado problemas para entender a movimentação ofensiva e defensiva que deveria ser feita com e sem a bola. É possível sim pensar em mudanças nos nomes que vão entrar em campo. Uma linha de defesa com Fê Palermo, Antônia, Rafaelle e Tamires é interessante. Assim como um meio mais “criador” com Ary Borges e Duda Sampaio criando para um quarteto ofensivo formado por Gabi Portilho, Debinha, Geyse e Kerolin. Um time mais forte e mais veloz nas transições pode ser interessante contra a África do Sul.

Possível formação da Seleção Feminina para os jogos contra a África do Sul. A mudança nos nomes pode mudar o jeito de jogar.

É bem possível que Pia Sundhage opte por outro tipo de estratégia nessa próxima Data FIFA. Há jogadoras que podem ser úteis como Nycole Raysla e Ana Vitória e nomes que estão com a Seleção Sub-20 que podem sim passar a fazer parte do grupo principal num futuro bem próximo. No presente momento, a volante Yaya é a jogadora que mais se faz necessária por conta das lesões de Angelina e Luana (ainda que ela tenha adotado um papel mais ofensivo com Jonas Urias). Mas é preciso ter em mente que Pia está mandando um recado direto para várias jogadoras que fizeram parte do elenco campeão da Copa América e que vão estar com ela nos jogos contra a África do Sul: se a postura dentro de campo muda (seja na Seleção Feminina ou nos seus clubes), outros nomes podem aparecer no radar.

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O que é certo é que o trabalho continua seguindo uma linha que pode não agradar a todos, mas que mantém uma certa coerência. Ainda que Pia Sundhage tenha mantido boa parte do elenco da Copa América enquanto fala em “mudanças”, é possível enxergar um norte, um objetivo claro em todo esse processo de reestruturação da Seleção Feminina. E quem não se enquadrar nele, deve acabar ficando pelo caminho.

LISTA DE CONVOCADAS DA SELEÇÃO FEMININA:

GOLEIRAS => Luciana (Ferroviária), Lorena (Grêmio) e Natascha (Flamengo);
DEFENSORAS => Antonia (Levante/ESP), Day Silva (Palmeiras), Fernanda “Fê” Palermo (São Paulo), Kathellen (Real Madrid/ESP), Letícia Santos (FFC Frankfurt/ALE), Thais Ferreira (Palmeiras), Tamires (Corinthians) e Rafaelle (Arsenal /ING);
MEIO-CAMPISTAS => Adriana (Corinthians), Ary Borges (Palmeiras), Duda Santos (Palmeiras), Duda Francelino (Flamengo), Duda Sampaio (Internacional), Gabi Portilho (Corinthians), Kerolin (North Caroline Courage/EUA), Micaelly (São Paulo) e Jaque Ribeiro (Corinthians);
ATACANTES => Bia Zaneratto (Palmeiras), Debinha (North Caroline Courage/EUA), Gabi Nunes (Madrid CFF/ESP), Geyse (Barcelona/ESP) e Ludmila (Atlético de Madrid/ESP).