Home Futebol Seleção Feminina Sub-20 faz história e deixa a sensação de que dava pra ter ido mais longe

Seleção Feminina Sub-20 faz história e deixa a sensação de que dava pra ter ido mais longe

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a goleada sobre a Holanda e a campanha na Copa do Mundo da Costa Rica

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A Seleção Feminina igualou a sua melhor campanha na história das Copas do Mundo Sub-20 com uma goleada incontestável sobre a Holanda neste domingo (28) em San José, na Costa Rica. No entanto, os 4 a 1 aplicados sobre as Leeuwinnen (“Leoas” em holandês) deixaram a sensação de que a equipe comandada por Jonas Urias poderia ter chegado ainda mais longe na competição e até ter brigado pelo título. Muito disso passa pela maneira como o Brasil construiu a vitória, aproveitou as chances que teve durante os noventa e poucos minutos de partida e contornou todos os problemas que teve nessa decisão do terceiro lugar. Não é exagero afirmar que Tarciane, Lauren, Gabi Barbieri, Yaya, Rafa Levis e companhia mostraram maturidade contra um adversário complicado.

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Nos seis jogos da Copa do Mundo Sub-20, a Seleção Feminina teve quatro vitórias, um empate e apenas uma derrota, marcando 13 gols e sofrendo apenas três. Campanha que já seria histórica apenas por igualar o feito conquistado na Rússia, em 2006, com a geração de Érika, Fabi Simões, Nenê, Daiane “Bagé” e Maurine, mas que merece lugar de destaque diante de tudo o que vimos na Costa Rica. É por isso que precisamos dar valor ao trabalho de Jonas Urias. Ainda mais diante de todo o contexto da preparação da sua equipe e da forma como a CBF tratou as categorias de base nos últimos anos. Imaginem o que aconteceria se as coisas fossem feitas do jeito certo.

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Sobre o jogo contra a Holanda em si, a Seleção Feminina começou a partida deste domingo (28) com o pé no acelerador e usando muito os lados do campo com as subidas de Ana Clara e Bruninha ao ataque e as triangulações com o quarteto ofensivo formado por Analuyza, Aline Gomes, Luany e Rafa Levis. O primeiro gol brasileiro sai logo aos oito minutos do primeiro tempo, com jogava iniciada por Yaya pelo lado direito e que contou com o cruzamento de cinema feito por Bruninha nas costas da última linha holandesa para Ana Clara. Aliás, a alta intensidade nas jogadas pelos lados do campo é um dos pontos fortes do time de Jonas Urias.

Yaya passa para Bruninha que se livra da marcação e coloca a bola na cabeça de Ana Clara. Foto: Reprodução / FIFA

É verdade que a Holanda não precisou de muito tempo para se reorganizar e reequilibrar as ações dentro de campo. E vale destacar que o escrete Orange foi muito feliz ao explorar uma das deficiências da Seleção Feminina: a bola lançada às costas da defesa no espaço entre zagueiras e laterais. Seja com Bruninha e Lauren (à direita) ou com Tarciane e Ana Clara (à esquerda), o Brasil mostrou certa fragilidade quando seus adversários exploravam essa falha na marcação. Foi assim que o time comandado por Jonas Urias levou dois gols do Japão e foi assim que Van Gool apareceu no meio da zaga para empatar a partida ainda aos 20 minutos da primeira etapa. Do gol de empate até o intervalo, a Seleção Feminina viveu seus momentos mais complicados do jogo deste domingo (28).

A Seleção Feminina mostrou fragilidades na marcação da bola longa às costas da defesa. Foto: Reprodução / FIFA

Mesmo assim, a impressão que ficava era a de que a Seleção Feminina havia aprendido com os erros cometidos na partida contra o Japão. Nem mesmo a penalidade desperdiçada por Tarciane ainda no primeiro tempo diminuiu o ímpeto e a confiança das comandadas por Jonas Urias. Com Luany no lugar de Analuyza, o Brasil passou a ter mais presença no campo ofensivo e muito mais força pelos lados do campo. Logo aos 13 minutos da segunda etapa (na jogada de bola parada que se mostraria uma das armas mais letais dessa equipe), Tarciane marcou o segundo gol brasileiro com um belo gol de bicicleta. Depois disso, o time se organizou em campo no costumeiro 4-4-2/4-2-4 e fechou as principais saídas de bola da Holanda. A Seleção Feminina passou a controlar mais as ações e não sofreu mais.

Com Gi Fernandes e Pati Maldaner em campo, o Brasil fechou mais a entrada da sua área, mas não deixou de atacar a área adversária em nenhum momento. Tarciane faria o terceiro da Seleção Feminina aos 34 minutos da segunda etapa ao converter penalidade sofrida por Luany. Com a vantagem no placar, o time de Jonas Urias foi controlando mais a bola e explorando os espaços que a Holanda deixava no seu campo. Aos 44 minutos, Cris recebeu a bola de Aline Gomes perto da linha do meio-campo. A camisa 5 avançou até a entrada da área e serviu Gi Fernandes, que se livrou da marcação e acertou um belo chute. O quarto gol da Seleção Feminina confirmou a vitória sobre a Holanda e premiava toda a dedicação das jogadoras e da comissão técnica. Resultado mais do que justo.

O Brasil aproveitou bem os espaços que teve na defesa da Holanda durante o segundo tempo. Foto: Reprodução / FIFA

Além da festa protagonizada pelas jogadoras após o apito final e do abraço de Jonas Urias em todo o elenco, a cena mais marcante dessa decisão de terceiro lugar foi a alegria de Pia Sundhage com a conquista da Seleção Feminina Sub-20. E é justamente por conta da boa atuação da equipe contra a Holanda que é possível dizer que a equipe brasileira poderia ter ido mais longe nessa Copa do Mundo. Coisas do velho e rude esporte bretão, que nem sempre premia quem faz o melhor jogo dentro de campo. Por outro lado, é possível afirmar sem medo de parecer exagerado que algumas jogadoras devem fazer parte da equipe principal num futuro nem tão distante assim. Principalmente Tarciane, Yaya, Lauren e Bruninha, as melhores do Brasil nessa Copa do Mundo Sub-20 para este colunista.

Apesar do gosto de “quero mais”, a Seleção Feminina fez seu papel e chegou mais longe do que muita gente pensava. Mais uma prova de que temos material humano para formar grandes times nas categorias de base e preparar o terreno para os próximos anos. Basta a CBF querer fazer aquilo que é papel dela e dar a estrutura necessária para que as equipes Sub-17, Sub-20 e principal finalmente se consolidem no cenário mundial. É possível pensar grande no futebol feminino aqui no Brasil. Falta é boa vontade.